Crônica

Os 80 anos da X-9

19/04/2024
Raimundo Rosa/PMS

A escola de samba X-9, de Santos, chega aos 80 anos neste 01 de maio. Num país como o Brasil, de instituições tão voláteis, a marca merece um  enorme respeito. A justíssima celebração vai acontecer no Portuários, no dia 30 de abril. No estilo: a festa vai ter a madrinha Mangueira e a afilhada X-9 Paulistana.

Quem chega aos 80, tem história. A X-9 tem muitas. Nasceu e cresceu no bairro do Macuco, em mais de um endereço da rua Almirante Tamandaré, até ser adotada, na casa 94 dessa rua, pelo casal Tia Inês e Cabo Roque, históricos. Passou um tempo exilada no Valongo, no centro velho de Santos, mas logo deu um jeito de voltar para o Macuco, berço legítimo.

O nome vem de uma brincadeira. X-9 era o nome de uma revista de contos policiais muito conhecida. E batuqueiro era bicho visto com muita desconfiança: malandro, boêmio… No pré-Carnaval de 44, um grupo de batuqueiros chegou para se apresentar num baile e um outro músico disse: “Ai vem uma quadrilha de bandidos da Revista X-9”. Os batuqueiros gostaram. E alguns meses depois adotaram o nome na fundação da escola de samba.

Nasceu campeã. Primeiro em desfiles não-oficiais em Santos, mais tarde nos oficiais. Depois em São Paulo. Desfilou no Rio de Janeiro na década de 60.

O hino não fica devendo nada a nenhum outro do Brasil. Lindíssimo. Arrepiante:

“Quando você ouvir a melodia…”

Foi composto por um marinheiro chamado Walter que não saía da casa da Tia Inês e do Cabo Roque quando o navio dele estava atracado em Santos.

A batida inconfundível da X-9 tem o pulso de dois grandes mestres de bateria do passado recente: Rubens e Alemão.

A escola já levou muitos e muitos enredos e sambas maravilhosos para a avenida, Um que até hoje abre um sorriso de saudade no rosto dos veteranos é o Beleza das Águas, do Carnaval de 1975. O Peixinho Dourado desse samba do compositor, cantor (e mestre-sala) Nahum Caetano vai festejar 50 anos no ano que vem.

Quem me conhece deve estar ensaiando uma pergunta:

“Por que alguém tão apaixonado pela rival União Imperial escreve com tanta admiração e emoção sobre a X-9?”.

Raul Seixas, genial, responde:

“Porque quem gosta de maçã irá gostar de todas por que todas são iguais”.

Iguais na essência.

Minha iniciação em carnaval de rua aconteceu em 1979 em Salvador. Voltei encantado com o trio elétrico e com Moraes Moreira fazendo a pipoca ferver com o sucesso Pombo Correio.

No ano seguinte procurei o carnaval de rua em Santos e encontrei na X-9. Desfilei com a fantasia de Macunaíma na Ala do Teatro, de Thanah Correia em companhia de dois amigos: Braz (depois vereador em Santos) e Cícero. Em 81, desfilei de novo na X-9 mas também na União Imperial, no segundo grupo, por convite de outro amigo, Ricardo Peres. Fantasia de bandeirante.

A paixão pela União foi à primeira vista, mas o carinho e o respeito pela X-9 continuaram. Lembro de shows memoráveis lá, como o do Mestre Martinho da Vila.

Vinícius de Moraes, que definiu o whisky como “o melhor amigo do homem, o cachorro engarrafado”, se tivesse frequentado a X-9, certamente diria do leite de onça:

“Quem já passou por essa vida e não bebeu/ Pode ser mais mas sabe menos do que eu.”

Pra fechar, só falta desejar vida longa à Pioneira, uma das primeiras do Brasil, escola de samba raiz. Mas nem precisa. O brilho que eu vi neste abril nos olhos da Cláudia Sá e da Adriana França, quando falam da X-9, é o mesmo que ilumina o rosto do Pedrinho da Véia, da Sandrinha, do pai Jota e do filho Jadir Muniz, do delegado Danilo Alonso e da filha Priscila e de tantas outras pessoas dessa trajetória de 80 anos:

É ETERNO !!!