Saúde

Unesp e Unifesp produzem hidrogel que melhora a cicatrização de feridas diabéticas

06/11/2023
Divulgação/ Governo de São Paulo

Pesquisadores brasileiros desenvolveram um hidrogel de baixo custo com ação anti-inflamatória que poderá, no futuro, ajudar a tratar feridas crônicas na pele, como as que costumam acometer pessoas com diabetes. Resultados promissores de testes em animais foram divulgados na revista Biomedicine & Pharmacotherapy.

De acordo com a Federação Internacional de Diabetes, o Brasil é o sexto país em número de pessoas com a doença, que atingiu proporções epidêmicas e se tornou a quinta causa de morte no mundo. São 17,7 milhões de indivíduos sofrendo diariamente com as alterações metabólicas causadas pelo comprometimento da secreção e ação da insulina, como nefro e neuropatias e dificuldades na cicatrização de feridas. Estima-se que um entre cinco pacientes com diabetes possa desenvolver feridas crônicas, como a úlcera do pé diabético.

Em pessoas saudáveis, lesões cutâneas são imediatamente seguidas de uma sequência de eventos que levam à cicatrização: o sangramento é controlado pela agregação plaquetária, proporcionando uma estrutura de suporte para a fixação e proliferação celular, ocorre formação de novos vasos sanguíneos e deposição de colágeno. Para quem sofre de diabetes, no entanto, o processo é muito mais complicado. A hiperglicemia aumenta a produção de substâncias derivadas do oxigênio (oxidantes) e, ao contrário da cicatrização normal, as feridas diabéticas são caracterizadas principalmente pela resposta inflamatória exacerbada e o processo da formação de vasos sanguíneos prejudicado.

Recentemente, hidrogéis biológicos têm sido empregados com sucesso para acelerar o processo de cicatrização de feridas por conta do ambiente úmido e estéril que proporcionam. No trabalho apoiado pela FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e conduzido durante o doutorado de Monielle Sant’Ana Leal, pesquisadores das universidades Estadual Paulista (Unesp) e Federal de São Paulo (Unifesp) desenvolveram uma fórmula à base da proteína anexina A1, cujo envolvimento na regulação da inflamação e da proliferação celular já havia sido comprovado em estudos prévios do mesmo grupo. No artigo mais recente, o grupo descreve que o tratamento pode modular o microambiente da lesão, favorecendo a regeneração do tecido.

O efeito do hidrogel contendo AnxA12-26 (os aminoácidos que vão do número dois ao 26 na cadeia de peptídeos que forma a proteína) foi avaliado em testes com camundongos que tiveram um quadro semelhante ao do diabetes tipo 1 induzido. Observou-se nos animais uma diminuição de células inflamatórias três dias após a indução das lesões. Após 14 dias, as feridas já estavam completamente cicatrizadas. A título de comparação, os animais que não passaram por nenhum tratamento e que receberam aplicação apenas do hidrogel apresentaram as características comuns da fase aguda da inflamação, com lesões mais intensas no terceiro dia.

Análises mostraram que o tratamento promoveu melhora na regeneração tecidual pela proliferação de queratinócitos (células com papel fundamental na restauração da homeostase da pele), redução de macrófagos (células-chave no processo de cicatrização) e aumento do fator de crescimento endotelial vascular (VEGF, que induz o crescimento de vasos sanguíneos).

Já um ensaio de citotoxicidade em ambiente controlado (feito para avaliar como as células da pele reagem ao material) assegurou a biocompatibilidade do produto, sugerindo a segurança para aplicação tópica.

“Nosso hidrogel é altamente absorvente, mantém o meio úmido ideal para a cicatrização e mostra eficiência para levar ao processo de cicatrização completa da lesão, com redução de tempo de cicatrização, inclusive”, afirma Sonia Maria Oliani, pesquisadora do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas (Ibilce-Unesp) e coordenadora do estudo. “Trata-se de uma opção eficaz e que pode ampliar o arsenal terapêutico para o tratamento de feridas diabéticas.”

Economia

Outras vantagens do hidrogel desenvolvido pelos pesquisadores paulistas são a facilidade de produção e o baixo custo – este último é um fator fundamental a ser considerado, uma vez que os gastos médicos anuais com diabetes na América do Sul e Central ultrapassam US$ 65,3 bilhões.

O produto também tem potencial para ser usado com outras finalidades. No momento, os pesquisadores testam seu efeito no tratamento de lesões na mucosa bucal.

Tags: