A chegada do cigarro eletrônico e vape atrai cada vez mais os jovens e seu consumo. No Brasil, um levantamento do Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria) aponta que 2,2 milhões de adultos (1,4%) afirmaram ter consumido os dispositivos eletrônicos para fumar até 30 dias antes da pesquisa. Mas o problema vai além: cerca de 6 milhões de adultos fumantes afirmam já ter experimentado cigarro eletrônico, o que representa 25% do total de fumantes de cigarros industrializados.
Por isso, no Agosto Branco – mês de prevenção ao câncer de pulmão e combate ao fumo – o alerta é focado no consumo aumentado de cigarro eletrônico e vape.
“Como o surgimento dessa alternativa ‘moderna’ é razoavelmente recente, sendo difundido há pouco mais de uma década, ainda não podemos dizer precisamente sobre seus efeitos a longo prazo. Contudo, a comunidade científica já aponta que há indícios de que podem ser tão ou mais maléficos que o cigarro tradicional, que comprovadamente causa câncer de pulmão, entre outros tipos de tumores e doenças. Isso significa que, assim como ocorreu no passado com as gerações que tinham no cigarro tradicional um símbolo de charme e status, poderemos ter nas próximas décadas uma epidemia de casos de neoplasias pulmonares entre a chamada gen-Z”, alerta o oncologista William Nassib William Jr, do Grupo Oncoclínicas.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) vem alertando para os males do uso da nicotina em pessoas menores de 20 anos e sinaliza que crianças e adolescentes que usam esses dispositivos têm mais riscos de se tornarem fumantes na vida adulta.
“Os cigarros eletrônicos são proibidos no Brasil e, portanto, não regulamentados e nem controlados por órgãos competentes. Essa é uma questão que não deve ser ignorada. Apesar disso, estamos vendo um crescimento significativo do consumo, especialmente entre adolescentes e jovens adultos, e já observamos danos à saúde em diversos casos, inclusive fatais, especialmente por inflamação no pulmão, conforme relatos clínicos coletados em todo o mundo”, alerta o especialista.
Cigarro eletrônico também vicia
O consumo de cigarro eletrônico e vape vai na direção oposta do que vinha ocorrendo com o cigarro tradicional: se em 2000, 30% dos brasileiros eram tabagistas, esse índice chegou a 9% este ano, um dos menores do mundo.
Em contrapartida, com a adesão das novas gerações ao uso de dispositivos tecnológicos, esses índices podem voltar a crescer drasticamente. O motivo é explicado pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA), que realizou em 2021 um estudo que indica que o cigarro eletrônico também aumenta mais de três vezes o risco de experimentação do cigarro convencional e mais de quatro vezes o risco de uso do cigarro tradicional. Em sua análise, o levantamento reforça que o cigarro eletrônico eleva as chances de iniciar o uso do cigarro tradicional para aqueles que nunca fumaram.
E mais fator preocupante e grave apontado pelo oncologista é o poder viciante do cigarro eletrônico e do vape: alguns podem conter nicotina correspondente a 5 maços de cigarro comum.
“A nicotina em si não é fator de risco para o câncer, mas é ela que vicia. Ou seja, uma pessoa que consome esse produto pode ficar viciada ainda mais rápido e, inclusive, migrar para o cigarro tradicional. O apelo desses dispositivos está muito ligado à forma: parecem gadgets, modernos, hi tech, o que dialoga muito com essa nova geração. Mas é um perigo para a saúde e assusta o fato de que não sabemos o que pode acontecer a longo prazo”, enfatiza William.
O médico explica que o cigarro eletrônico vaporiza um líquido, às vezes, saborizado, outro ponto de atração para os mais jovens. “Em teoria, há alguns estudos, em ambientes controlados e com as substâncias também bem dosadas, em que os e-cigarros são menos nocivos à saúde e ajudam quem quer parar de fumar. Mas essa não é a realidade por aí: é importante ressaltar que a ideia de que os vapes vendidos contêm uma quantidade de ‘ingredientes’ danosos muito inferior ao do cigarro tradicional não é verdade. Mesmo sem contar com itens como o tabaco em sua composição, esses dispositivos eletrônicos possuem outros elementos que podem ser altamente prejudiciais”, diz.
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