Estudos do Instituto Butantan indicam eficácia de 79,6%; Brasil registrou 1,4 milhão de casos em 2022, 978 deles fatais
Um divisor de águas na luta contra a dengue. É assim que o infectologista Evaldo Stanislau classifica os resultados das pesquisas da vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan, que indicam uma eficácia de 79,6%.
‘É uma vacina em dose única, para os quatro tipos de dengue. Uma das dificuldades de desenvolver vacina é porque são quatro tipos de vírus diferentes e a vacina tem que proteger de maneira igual contra os quatro tipos, porque se ela proteger mais para um e menos para outro pode haver um desequilíbrio e a própria vacina pode fazer a pessoa ter uma forma mais grave da doença”, explica Stanislau.
A vacina é resultado de um trabalho de mais de 10 anos do Butantan com parceiros internacionais. Até dezembro de 2022, o Brasil registrou 1,4 milhão de casos e 978 óbitos pela doença, um aumento de 172,4% e 400% em relação ao ano anterior, segundo o Ministério da Saúde.
O estudo será concluído em 2024 e, com resultados satisfatórios, a vacina será incorporada ao Plano Nacional de Imunização (PNI) do Ministério da Saúde. “Provavelmente será preciso vacinar a população inteira”, acredita o infectologista.
Vacina contra a dengue
A vacina do Butantan contra a dengue usa tecnologia do Instituto Nacional de Saúde norte-americano, licenciada em 2009. A primeira fase dos ensaios clínicos foi realizada nos Estados Unidos, entre 2010 e 2012, e a segunda parte da pesquisa, no Brasil, entre 2013 e 2015.
A vacina do Butantan é tetravalente, feita para proteger contra os quatro sorotipos do vírus da dengue (DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4). No entanto, no período da pesquisa, apenas os tipos 1 e 2 circularam no país. Isso significa que, mesmo que os brasileiros sejam contaminados pelos tipos 3 e 4, estarão imunizados.
A fábrica do Butantan que produzirá a vacina contra a dengue já está pronta – lá também será produzido o imunizante contra a chikungunya (que está em fase final de ensaios clínicos). No ano passado, o parque industrial do Butantan produziu 100 milhões de doses de CoronaVac, 80 milhões de doses de vacina contra a gripe, 28 milhões de doses de vacinas contra hepatite A e B, HPV, DTaP e raiva, e 560 mil unidades de soros.
A dengue é doença que, mesmo não tendo a letalidade de outras enfermidades, faz o paciente sofrer, incapacita para o trabalho e a convivência social e pode deixar sequelas severas.
Degradação ambiental favorece proliferação do mosquito
Evaldo Stanislau destaca que a ação humano vem provocando desequilíbrios ambientais que favorecem a proliferação de doenças transmitidas por mosquitos. “Hoje, as cidades elas crescem de maneira desordenada, sem saneamento, sem espaço para que a natureza seja preservada. O vetor, que é o mosquito, começa a gostar do domicílio, ele vai se urbanizando cada vez mais”, explica.
“O segundo fator muito importante é que acabou essa questão de verão e inverno. Nós temos as estação misturadas durante o ano todo. Essa mudança climática pela qual passa o planeta terra ela é real e isso impacta em doenças infecciosas, sobretudo em doenças transmitidas por vetores como é o caso da dengue. Os mosquitos encontram condições propícias para procriar e está em todos os lugares, o ano todo”, esclarece. “Hoje, é calor e úmido o ano inteiro. Em todas as regiões globais, o mosquito tá encontrando condições para procriar. Tem dengue hoje na Europa, nos Estados Unidos, em lugares onde jamais se imaginou que isso aconteceria”, completa.
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