Saúde

Queda da cobertura vacinal faz doenças voltarem a ameaçar brasileiros

07/10/2022
Pixabay

A queda da cobertura vacinal no Brasil fez com que diversas doenças consideradas controladas, como paralisia infantil, sarampo, caxumba, rubéola, hepatite B, difteria e coqueluche voltaram a ser ameaça, principalmente para as crianças.

Especialistas indicam que a pandemia acabou prejudicando as campanhas de vacinação, mas um fator mais determinante foram os movimentos anti-vacinas, um fenômeno mundial mas que no Brasil vem contaminando a definição de políticas públicas.

A queda da cobertura vacinal no Brasil vem se acentuando nos últimos três anos —fenômeno que se iniciou antes da pandemia. Exemplos: a vacina BCG (contra tuberculose) tinha cobertura vacinal de 100% entre 2011 e 2018. Em 2019, caiu para 87%; 74% em 2020; e 68% em 2021.

A vacinação contra a paralisia infantil, tida como exemplo da eficiência do Plano Nacional de Imunização, despencou para 69% em 2021. A queda vem se acentuando desde 2013, quando o índice era de 100%, principalmente nos últimos três anos (84% em 2019, 76% em 2020 e 69% em 2021).

Em 2016, o Brasil recebeu da Organização Mundial da Saúde (OMS) o certificado de eliminação do sarampo. Mas entre 2018 e 2021, houve quase 40 mil casos de sarampo no país, com 40 mortes. O índice de cobertura vacinal contra o sarampo em 2022 está em 47%.

A baixa vacinação acontece também em relação a outras doenças. Em 2021, cerca de 60% das crianças foram vacinadas contra a hepatite B, o tétano, a difteria e a coqueluche. Contra a tuberculose e a paralisia infantil, 70%. Contra o sarampo, a caxumba e a rubéola, o índice não chegou a 75%. A baixa adesão se repetiu em diversas outras vacinas.

 

“O que estamos vendo é a crônica de uma tragédia anunciada. Precisamos agir rápido para que não andemos para trás e voltemos a ser aquele Brasil dos séculos 19 e 20, que era tomado pelas epidemias e mortes”, alerta o infectologista José Cassio de Moraes, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) indica fatores que explicam a queda da cobertura vacinal no Brasil. Os principais são: falta de informação dos profissionais de saúde acerca do calendário vacinal; falta de informação da população; falta de confiança nos governantes, instituições e profissionais de saúde; horário limitado de funcionamento dos postos de saúde; desinformação; comunicação falha; e crescimento do movimento antivacinista.

Além da divulgação de informações falsas, que geram desconfiança e até medo na população, verifica-se também a redução nas campanhas de conscientização. Entre 2017 e 2021, os investimentos do governo federal na publicidade da vacinação sofreu um corte de 66%, passando de R$ 97 milhões para R$ 33 milhões. Os dados foram fornecidos pelo Ministério da Saúde, após ser acionado para cumprir a Lei de Acesso à Informação.

 

Cloroquina versus vacina

Exemplo claro de interferência dos movimentos anti-vacina aconteceu durante a pandemia de Covid-19 no Brasil. O governo federal recusou a oferta de 450 milhões de doses de vacinas, dos mais variados fornecedores. Em vez disso, o presidente Jair Bolsonaro colocou em dúvida a eficácia das vacinas e defendeu o uso de cloroquina —medicamento comprovadamente ineficaz para combater o novo coronavírus. Resultado: embora tenha 2,7% da população mundial, 13% das mortes por covid-19 no mundo ocorreram no Brasil.

 

Fundamentalismo moral versus saúde pública

Uma vacina sofre um ataque particular: a que protege as mulheres contra o HPV (Papiloma Vírus Humano), vírus responsável por causar a maioria dos casos de câncer de colo de útero. A vacina deve ser administrada nas meninas entre 11 e 14 anos e, como busca evitar uma doença sexualmente transmissível, setores fundamentalistas religiosos alegam que a vacina estaria “incentivando o início da vida sexual das crianças”.

A vacina é aplicada nesta faixa etária porque é na puberdade que ocorrem alterações no útero que predispõem as meninas a um maior risco de infecção e de evolução para um tumor —sem relação alguma com atividade sexual.

 

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