A prática de usar uma Kipá é uma tradição antiga.
O Judaísmo é conhecido como uma fé que não idolatra outros deuses, santos, imagens ou amuletos. Nossa fé apenas tem alguns objetos que são a referência de nossa religião e, portanto, são testemunhas de nossa identidade judaica.
Estes poucos objetos só́ significam algo porque baseiam-se em nossas Escrituras ou no Talmud. O talit, os tefilin, a mezuzá́, são alguns destes objetos e a kipá́ aí se encaixa. As inúmeras religiões que conhecemos têm maneiras diferentes de expressar sua identidade. Isso pode ser feito através de roupas, símbolos ou cerimônias. No judaísmo, são estes os quatro elementos fundamentais da afirmação judaica: a kipá ou yarmulke (solidéu), o xale de oração (talit), a mezuzá (pergaminho no batente de uma casa judia) e os tefilin (filatélicos).
Notadamente, a kipá tem maior exposição porque é utilizada dia e noite sobre a cabeça do judeu. Em hebraico, kipá quer dizer cúpula. É um pequeno chapéu sem borda ou qualquer cobertura de cabeça. Nas comunidades judaicas tradicionais, apenas os homens usam kipot, e são usadas o tempo todo (exceto quando dormem, tomam banho ou nadam). A palavra em ídiche “yarmulke” na verdade vem do aramaico “yarei Malka” – ter “reverência pelo rei”.
A prática de usar uma kipá (kipot no plural) é uma tradição antiga que tem suas raízes como uma “midat chasidut” (um ato de piedade), e é amplamente acolhida como prática normativa para homens e meninos judeus. Há uma série de referências à prática no Talmud. Uma delas é Rav Huna, filho de Rav Yehoshua, que não andava quatro côvados (cerca de dois metros) com a cabeça descoberta, como um lembrete de que a Presença de Deus está sempre acima de nós.
A tradição de usar uma kipá não é derivada de nenhuma passagem bíblica. Pelo contrário, é um costume que evoluiu como um sinal de nosso reconhecimento que há alguém “acima” de nós que assiste a todos os nossos atos. O Talmud declara: “Cubra a cabeça para que o medo do céu esteja sobre você.”
Nos tempos talmúdicos, a prática de usar kipá era reservada para homens de grande proeminência. Nas gerações posteriores, porém, tornou-se costume aceito que todos os homens judeus usassem uma kipá em todos os momentos, especialmente durante a oração. Como em todos os costumes judaicos, uma vez que eles se tornam uma prática judaica universalmente aceita, eles se tornam halachicamente obrigatórios. Desde o Talmud nos foi recomendado o uso da Kipá para que mantivéssemos nosso temor a Deus.
Entretanto, há um debate entre as autoridades haláchicas sobre se é necessário usar uma kipá em todos os momentos. Mas, de acordo com algumas autoridades, desde então, a ação assumiu a força da lei porque é um ato de Kiddush Hashem, ou seja, em santificação a Deus.
Segundo Maimônides, a lei judaica determina que um homem só é obrigado a cobrir a cabeça durante a oração. Algumas denominações argumentam que é necessário usar a kipá apenas quando comer, rezar, estudar textos judaicos ou entrar em um espaço sagrado como uma sinagoga ou cemitério.
Manter a cabeça sempre coberta tem um significado místico e, por esse motivo, algumas pessoas cobrem a cabeça duas vezes – um chapéu sobre uma kipá ou um talit sobre uma kipá – enquanto rezam. Os cabalistas associam duas luzes que emanam da cabeça com as duas almas mais elevadas de uma pessoa, a Chayah e a Yechidah. É por isso que é comum usar duas coberturas de cabeça, por exemplo, um kipá e um chapéu, que se destina a “cobrir” as duas almas superiores. Essas almas são particularmente despertadas durante a oração, que é a razão mais profunda para ter um kipá e um talit sobre a cabeça.
De acordo com algumas opiniões, usar uma kipá se tornou uma forma de distinção entre judeus e não-judeus. Dependendo da cultura, teologia e até pontos de vista políticos, os judeus usam kipot para se identificarem com suas crenças e correntes particulares, e se diferenciarem de outros grupos e não-judeus.
Dizem os sábios também que cobrir a cabeça é um sinal de humildade perante Deus. Acredita-se que usar uma Kipá é o sinal de um embaixador da Torá e se reflete em todos os judeus.
O uso da kipá declara ao mundo que a pessoa é um judeu orgulhoso de sua fé́. De fato, usar uma kipá é uma grande declaração e obriga o usuário a viver de acordo com um determinado padrão de comportamento. Uma pessoa tem que pensar duas vezes antes de cortar a fila no banco ou repreender um garçom incompetente.
Mais além, especificamente, esta cobertura em nossas cabeças é um traço de identidade de nosso povo, de nossa religião.
É uma declaração evidente de fé́.
Não é que precisemos mostrar aos outros o que somos, mas, com certeza devemos ter a liberdade de usar um símbolo tão importante para milhões de judeus. Do mesmo modo que os padres, freiras, monges budistas, hare krishnas, muçulmanos e muitos mais escolhem usar os trajes e ornamentos de suas religiões especificas, nós judeus escolhemos usar a kipá por todos os seus significados.
Mesmo com o antissemitismo recrudescendo na Europa, a decisão de usar o solidéu é nossa, exclusivamente nossa. Quando líderes de vários governos sugerem que o judeu evite usar sua Kipá em público, devemos nos preocupar.
Decididamente, mesmo que seja um conselho pensando em nos proteger, o uso ou não da Kipá deve ser uma decisão pessoal e soberana, sem medo.
Como se nossas Kipot fossem o estopim da violência, como se estivéssemos provocando o antissemitismo com nossos solidéus. Definitivamente, este não é o caso.
Nosso direito de usar o paramento que for deve ser respeitado.
O mundo deve encontrar outros caminhos para coibir os ataques contra os judeus, sem que tenhamos que renunciar a nossos usos e costumes.
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