Comportamento Saúde

Visibilidade Trans: “Lugar de trans ou travesti é onde essa pessoa quiser estar”, defende ativista

28/01/2022
Reprodução/Instagram

Neste sábado, 29 de janeiro, é celebrado o Dia Nacional da Visibilidade de Trans e Travestis. A data, instituída em 2004, tem como marco o dia em que pessoas Trans e Travestis foram à Brasília, pela primeira vez, em um ato organizado, lançar a campanha “Travesti e Respeito”, no Congresso Nacional. Ainda assim, o Brasil é um país recheado de preconceito e violências contra trans e travestis.

“O Brasil é o país que mais mata transexuais e, talvez as pessoas não saibam, também é o país que mais consome conteúdos sexuais dessas pessoas. Isso é meio antagônico”, comenta Taiane Miyake, coordenadora da Coordenadoria de Diversidade do Departamento de Cidadania de Santos.

Só em janeiro de 2022, a cidade já registrou dois casos de transfobia: uma jovem foi impedida de utilizar o banheiro feminino de um estabelecimento e o outro caso de uma mulher que teve de pagar o valor masculino de entrada em um bar no bairro do Gonzaga. Entretanto, Taiane aponta que, mesmo nesse ambiente de retrocesso e preconceito, há alguns avanços que a comunidade trans e travestis pode comemorar.

“Tivemos avanços no aspecto social. Hoje, distribuídos pelo Brasil, nós temos ambulatórios de saúde integral para travestis e transexuais. Avançamos também na retificação do prenome do gênero na nossa documentação. Na minha época, precisávamos entrar com processo judicial e hoje basta ir ao cartório”, comenta.

Classificação

A transexualidade deixou de ser considerada um transtorno mental na Classificação Internacional de Doenças (CID) em 1º de janeiro de 2022, passando a ser uma incongruência de gênero ou “condição relacionada à saúde sexual”, mas ainda patologizada – referindo-se a indivíduos que não se identificam com o gênero atribuído ao nascimento.

“São avanços pequenos, mas significativos para a gente. Há toda uma luta de um movimento organizado de travestis e transexuais, de mais de 25 anos, para que nós deixemos de ser vistas somente como um personagem numa esquina fazendo prostituição”, reforça a ativista e pesquisadora.

Educação e direitos
Taiane também traz a discussão dos direitos das pessoas trans e travestis à educação e saúde, por exemplo. “É importante que as pessoas entendam que nós também temos direito ter uma educação, de ter saúde, não só a específica, mas estar dentro da saúde num total, direito à moradia…”, comenta. Ela ainda aponta a necessidade de se criar novas leis já que “a constituição é bonita no papel, mas não funciona na prática”.

As histórias se repetem, cada uma com seu protagonismo e ela é um exemplo disso. “Eu fui expulsa de casa aos 19 anos, por causa da não aceitação do meu pai, passei pela prostituição, tentei um suicídio… Então, para que tenhamos um Brasil menos preconceituoso, precisamos, sim, de novas políticas referenciais, como por exemplo cotas para trans e travestis”, completa.

A coordenadora aponta os problemas existentes no despreparo do ambiente escolar que levam trans e travestis a abandonarem os estudos. “Eu sempre digo que ela não se evadiu, ela foi evadida, foi colocada para fora da escola”, afirma.

“Existem meninas que estão na rua desde os 11, 12 anos, que não conseguiram nem o (estudar o) fundamental 2. E o que sobra para essa pessoa? Somente a prostituição. Porque se ela não terminou o ensino médio, essa pessoa não entra nem na área da beleza, onde há uma grande porcentagem de pessoas trans, porque na área da beleza ela tem que fazer contas na hora de pintar um cabelo, por exemplo, que é quase uma química”, explica.

Desde 2014, o ENEM tem aceitado o nome social das travestis e pessoas trans. Mesmo com todas as dificuldades encontradas, isso tem sido um incentivo para algumas pessoas para que consigam ingressar na faculdade, por exemplo.

“Hoje temos diversas trans e travestis que exercem diversas funções. Eu mesma, após 34 anos na informalidade, já que as empresas não queriam associar seu nome ao meu corpo trans por preconceito, hoje tenho um cargo de gestora pública na Prefeitura de Santos e temos outras pessoas trans que ocupando cargos dentro das secretarias municipais de Santos”, complementa.

“As pessoas precisam deixar de nos ver apenas como um órgão sexual, seja ele masculino ou feminino. Lugar de travesti e de mulher ou homem trans é onde essa pessoa quiser estar, onde ela possa estudar e buscar seu próprio espaço”, conclui.

Confira entrevista completa que Taiane Miyake deu ao Orlaplay: