Gilson de Melo Barros é, antes de tudo, um inquieto. Professor universitário, artista plástico, ator, figurinista, cenógrafo, diretor e observador atento de como o tempo passa e a vida das pessoas mudam, ele nos apresenta duas grandes novidades, para celebrar os 50 anos do grupo TEP (Teatro Experimental de Pesquisas). Na quinta-feira (11), às 18h30, ele lança o livro “Bastidores”, na qual está retratada a trajetória vitoriosa e inspiradora de um dos grupos de teatro mais antigos do país.
A obra reúne depoimentos, textos e imagens que traçam um panorama social e político destas cinco décadas e mostra a riqueza do processo criativo do TEP, que ao longo destes anos contou a participação de figuras emblemáticas, como Nanci Alonso, Beatriz Rota-Rossi (que também é artista plástica), Marcão Rodrigues, Miguel Hernandez, Domingos Fuschini, Toninho Dantas e Zellus Machado, entre tantos outros.
Além do livro, a trajetória do TEP está relatada em uma série com cinco vídeos, disponíveis deste quinta-feira (4) nas redes sociais (Instagram, Facebook e YouTube: @tepteatro), abordando aspectos particulares de fatos acontecidos com os integrantes de elencos de diversas montagens realizadas pelo grupo ao longo deste tempo e por convidados.
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[Vídeos mostram trajetória do Teatro Experimental de Pesquisas]
“Bastidores” é um depositário precioso de referências do mundo teatral, da vida da Cidade, de espetáculos combativos, de peças censuradas, do tempo passado, de uma militância ferrenha e dos acontecimentos como casamentos, nascimentos e despedidas entre os membros do grupo” explica
Gilson de Melo Barros, que levou 10 anos para organizar a obra. “Tento reconstruir o imaterial desta sua história, a proximidade das distâncias de pessoas que o frequentaram – através dos seus altares – e foram se perfilando, em círculos de convivência, a uma Mandala que ainda hoje teimo, vigorosamente, em frequentar”.
Gilson assumiu a direção e coordenação do grupo no final da década de 80 e até os dias atuais. Por tudo isso, sabe bem o que esse trabalho representa: “Pensei que eu tinha um patrimônio interno desses anos e que eu deveria tornar público. É uma história de resistência cultural de um grupo de passagem, mas com um trabalho permanente. Nunca paramos durante todo esse tempo”, relembra Gilson. Parte dessa história também estará nos vídeos de peças e do curta-metragem “Cinquenta”, que serão exibidos na noite de lançamento.
Alguns momentos do grupo são históricos quando contemplam temas como Ditadura Militar, período em que o grupo foi criado e norteou seu perfil combativo; o surgimento da Aids e a morte de Henfil; a criação do GAPA da Baixada Santista; o desenvolvimento das mídias eletrônicas e o grande salto para as comunicações. Um agradecimento especial está registrado para a Universidade Santa Cecília, que abriu um espaço para o grupo, que continua ensaiando lá até hoje. Sobre o livro, Lúcia Teixeira e Silvia Teixeira Penteado destacam no prólogo: “Acreditamos que a Arte não surge apenas do talento daqueles que militam seus vários campos. Vai mais além: Existem dois componentes aparentemente contraditórios que são primordiais para qualquer artista: a obstinação e o sonho”.
Gilson comenta que o livro traz episódios dos 50 anos, mas sempre do ponto de vista dele: “São depoimentos e relatos, mas é também o meu encontro com o teatro desde a época das encenações no Colégio Canadá.” Têm forte presença na obra os fundadores do grupo, André Luiz Galesso Machado, ator de diretor teatral e Nanci Alonso, criadora do Gapa/BS, Marco Antonio Rodrigues, diretor teatral e ex-secretário de cultura da Cidade, a artista plástica Beatriz Rota-Rossi, Miguel Hernandez (diretor teatral – “Anjos Pornográficos”) e o ator Zemanuel Piñero, entre outros.
É Beatriz Rota-Rossi que destaca parte desse incrível trabalho no prefácio da obra: Lá pelos finais dos anos 80, com a montagem de "Henfil, a Relativa Revista", Gilson toma a responsabilidade de dirigir o TEP. De lá para cá fizemos várias parcerias juntos, lado a lado. Em muitos casos, minha contribuição foi mais teórica do que prática, como em Florkactus (Frida Kahlo), em 1996; o Auto da Barca dos Brasís, em 2000; Vila Belmiro, em 2002. Em outros casos, como no Projeto Aurora, de 1997; Dona Maria, de 2009, e Senhorita Wanda, em 2010, contribuí com os textos.”
Além do livro, o TEP tem um novo trabalho que chegará às redes sociais a partir do dia 4 de novembro: o seriado “Bastidores”, em cinco episódios. As postagens dos vídeos nas redes (Instagram, Facebook e YouTube: @tepteatro) abordam aspectos particulares de fatos acontecidos com os integrantes de elencos de diversas montagens realizadas pelo grupo ao longo deste tempo e por convidados. O seriado “Bastidores” será lançado em etapas, com um episódio veiculado a cada dois dias. Ao episódio de lançamento, dia 04 de novembro, seguem os demais, sempre as partir das 10 horas, nos dias 06, 08, 10 e 12 de novembro, contendo cada qual um tema específico.
Sobre o TEP
O TEP foi criado em 1969, em plena ditadura militar, com jovens aspirantes ao teatro, vindos do movimento estudantil que se estabelecia então (Colégio Canadá), ávidos por contestação e afirmação das liberdades individuais. Tudo isso se refletia em pontuais montagens teatrais, como A Revolução dos Bichos (George Orwell), A Casa de Bernarda Alba (Federico Garcia Lorca), As troianas (Eurípedes / Jean Paul Sartre) e O Grand Vizir (René de Obaldia), que lhe valeu os prêmios internacionais de melhor espetáculo e melhor atriz, para Nanci Alonso, no V Festival Cervantino de Teatro, Guanajuato, México, 1978
O TEP sobreviveu à história passando por vários processos de criação em que se destacaram diversas montagens teatrais e atividades audiovisuais.
Viagens internacionais e prêmios em festivais nacionais também marcaram a trajetória, tornando o grupo uma das referências do fazer teatral da região da Baixada Santista.
Inúmeros artistas passaram pelo TEP, deixando contribuições para a sedimentação do seu histórico, onde ganham destaque figuras que já se foram como o agitador cultural Toninho Dantas, o premiado figurinista e maquiador Domingos Fuschini e Zéllus Machado, ator e animador cultural.
Sobre Gilson de Melo Barros
O interesse de Gilson pelo teatro começou muito cedo, nas brincadeiras da pequena escola rural de pré-alfabetização montada por Dona Marina Falcão (como era conhecida), em Lucélia, na Alta Paulista, onde nasceu. Com 13 anos veio para Santos com a família e adotou a Cidade.
Graduado em Educação Artística (Universidade Santa Cecília – 1979), com especialização em Arte Urbana – UNAM, Universidade Nacional Autônoma do México (1982), especialização em Arte Contemporânea (Universidade Santa Cecília – 2012), Gilson é professor universitário e fazedor assíduo de teatro nos últimos 50 anos.
É artista plástico (pintura de cavalete, pintura mural, escultura em areia e mídias imateriais) e no teatro atua como dramaturgo, cenógrafo, figurinista, diretor e, em mídias eletrônicas, atua também com roteirista e diretor. Tem participação em Festivais, Mostras e Temporadas, e Prêmios como diretor, autor, cenógrafo, figurinista e iluminador.