Não falarei de heróis olímpicos, mas de pessoas comuns, como eu e você. Nestes pandêmicos muito se fala de doença, mortes, tragédias que se abatem sobre famílias, ceifando vidas e sonhos. Empregos se vão, contas se atrasam e esperanças se diluem diante de um fantasma presente que não sabemos quando aparecerá, embora alguns não acreditem, outros choram suas perdas.
Nunca a saúde mental esteve tão ameaçada quanto atualmente, nunca vivemos momentos tão conflitantes em nossa história, onde a mídia e a política se degladiam com a ciência e a economia, cada qual lutando por uma razão pífia e sem sentido, onde as maiores vítimas são as pessoas de boa-fé, que trabalham honestamente e se veem relegadas a meros expectadores de informações distorcidas, que alguns chamam de “fake news”, mas que na verdade são “devil news”, de tanto que infernizam a nossa vida a toda hora.
Nessa linha de pensamento, vamos analisar o efeito que tais notícias causam na saúde e no comportamento das pessoas em geral, principalmente aquelas que não possuem instrução adequada ou vivência para discernir o que é real do que é falso. Fomos todos apanhados de surpresa com a decretação da quarentena, ou “lockdown”, termo glamourizado para definir confinamento. Pessoas que trabalhavam oito a doze horas por dia, passaram a ficar em casa sem poder ir à rua ou se divertir porque estabelecimentos foram fechados e ruas estavam sendo patrulhadas pela guarda municipal para evitar a disseminação do vírus fatal. Ao mesmo tempo, a convivência forçada despertou sentimentos adormecidos relacionados ao bem ou ao mal, casais se descobriram imersos ora em um profundo amor, ora em um ódio ferrenho. Pais e filhos passaram a conviver intensamente por várias horas do dia, revelando-se assim, uns aos outros, em sua forma real e não idealizada, retirando a camada que encobria a verdadeira personalidade na hora de dividir computadores, banheiro, tvs, consoles de jogos, espaços comuns. Em alguns casos, tal acontecimento foi benéfico, pois aproximou ainda mais os elos que estavam distantes, em outros, provocou o aumento da violência doméstica contra mulheres e crianças, aumentou o consumo de bebidas e comidas, fruto do desequilíbrio entre razão e emoção.
Em meio a esta seara em chamas, voltemos nossa atenção para o que é chamado de “competências socioemocionais”, ou seja, nossa capacidade de lidar com as emoções, tanto nossas, quanto dos outros. Elas estão relacionadas à nossa capacidade de pensar, decidir e agir, variando de indivíduo para indivíduo, ou seja, são elas que nos permitem agir como seres sociais que administram as alternâncias entre razão e emoção. Algumas pessoas as têm de maneira quase inata, outras têm muita dificuldade em lidar com elas e se perdem num labirinto infindável repleto de ansiedade, impaciência, irritação e ações cheias de agressividade.
Ora, se estamos diante de um cenário como o que foi apresentado anteriormente, existirá grande dificuldade de apresentar tais competências, não é mesmo? Sim, é verdade! Mas, elas podem ser aprendidas e praticadas, desde que haja interesse e empenho na sua aquisição. Relacionarei aqui algumas que considero como as mais importantes:
1) Empatia, que não é somente se colocar no lugar do outro, mas respeitar a manifestação do outro, pois só ele é capaz de saber a intensidade do seu sofrimento, o que é baseado na sua própria vivência e percepção.
2) Responsabilidade, que se antecipar às consequências de cada decisão ou ato que executar, agindo de maneira ética e democrática.
3) Autoestima, competência relacionada ao amor própria e ao respeito aos seus limites, valores e qualidades individuais.
4) Criatividade, capacidade de usar o pensamento crítico para encontrar solução para problemas do cotidiano ou gerar inovação. Todo nós somos capazes e criativos.
5) Comunicação, que é saber se comunicar de forma clara e assertiva. É aqui que entra a definição de “diálogo”, ou seja, a razão entre duas pessoas.
6) Autonomia, significa a capacidade de tomar decisões por conta própria, de forma a impactar positivamente o ambiente ao nosso redor.
7) Felicidade, termo controverso, que não significa euforia, mas um sentimento de bem estar causado pela sensação de realização e de reconhecimento por parte de si e de seus pares.
8) Paciência, que é antes de tudo uma virtude, relacionada a capacidade de manter a calma e buscar o equilíbrio diante de situações complexas ou de conflitos.
9) Sociabilidade, capacidade de se relacionar com os outros, de forma harmônica e respeitosa.
10) Ética, voltada ao ato de se relacionar com as demais pessoas, respeitando seus valores, crenças e vivências.
11) Organização, capacidade de buscar objetivos através de planejamento e da cooperação de outras pessoas, de forma ordenada e gerenciada.
Finalizando, mesmo sabendo que a tarefa não é fácil, cabe refletir sobre quais destas competências nós temos e de como elas podem contribuir para a melhoria das nossas relações na família, no trabalho e na escola. Um dos caminhos que conheço é procurar respirar fundo antes de tomar qualquer decisão, o outro é não tomar nenhuma decisão quando estiver cansado ou irritado. São essas competências que poderão nortear nossas vidas em um mundo pós Covid, onde as pessoas estarão ávidas pelo contato, mas ansiosas para falar, abraçar, contar sobre suas vidas e sem paciência para ouvir o outro.
* Djalma Moraes é professor, escritor, consultor na área de RH e membro da ABRH – Associação Brasileira de Recursos Humanos – Regional Baixada Santista. Site www.mqs.com.br, e-mail [email protected]
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