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Dica da Semana: O Tigre e o Dragão

16/01/2021
Dica da Semana: O Tigre e o Dragão | Jornal da Orla

Lembro que quando vi O Tigre e o Dragão nos cinemas, fiquei encantado por aquele universo de fantasia e misticismo, povoado por personagens fantásticos que desafiavam a lei da gravidade a todo instante e que se moviam e executavam acrobacias impressionantes, que pode acabar parecendo absurdo demais para alguns espectadores mas que para mim, funcionou perfeitamente e que me fez ficar totalmente embarcado naquela jornada. Um dos pontos mais curiosos deste longa é que ele não pode ser definido apenas como um filme de "artes marciais": longe da perfeição ou capaz de gerar sentimentos inesquecíveis no público, uma coisa que O Tigre e o Dragão deixa marcado é que nunca vimos um filme como este.

O longa conta a história de duas mulheres, ambas exímias lutadoras, cujos destinos se tocam em meio Dinastia Ching. Uma tenta se ver livre do constrangimento imposto pela sociedade local, mesmo que isso a obrigue a deixar uma vida aristocrática por outra de crimes e paixão. A outra, em sua cruzada de honra e justiça, apenas descobre as consequências do amor tarde demais. Os destinos de ambas as conduzirão uma violenta e surpreendente jornada, que irá forçá-las a fazer uma escolha que poderá mudar suas vidas. Se hoje, comemora-se o sucesso de Parasita, no ano 2000 comemorou-se os feitos deste filme Chinês dirigido por Ang Lee, que até então era desconhecido pelo grande público. Lee entendeu e executou com sensibilidade e energia a idéia geral do livro o qual o filme se baseou. Cativando o público por apresentar personagens complexos, repletos de dúvidas, anseios, vontades e paixões, Lee faz com que esses dilemas tornem-se mais notáveis do que suas próprias qualidades como lutadores. A poesia presente nas imagens criadas pelo cineasta são de uma beleza fenomenal e, apesar de destacar seu trabalho com os atores e o papel essencial das personagens femininas que dão fôlego novo à narrativa, são nas cenas de luta que o diretor engrandece ainda mais o seu talento. As brilhantes coreografias criadas por Yuen Wo Ping (que trabalhou em Matrix), são amparadas por uma série de efeitos mecânicos e não digitais, que conferem uma dimensão épica e uma inconfundível beleza nos movimentos dos personagens, como na eletrizante perseguição sobre os telhados de Pequin ou no intenso embate entre as duas protagonistas, assim como na sequência no alto do bambuzal, uma das mais belas e formidáveis do longa. 

O roteiro deste longa foge dos padrões convencionais de filmes do gênero dando atenção especial ao desenvolvimento de seus personagens e no caráter de cada um, dando maior força a narrativa com diálogos filosóficos e com uma história simples, mas repleta de significados. Minha ressalva fica a cargo do frustrante flashback no meio do longa, que quebra um pouco a fluidez e não acrescenta nada de importante a narrativa.
Tecnicamente, o filme é perfeito e merece ter recebido o prêmio OSCAR nestas categorias. A fotografia de Peter Pau aproveita ao máximo as lindas locações, realçando a belíssima direção de arte e seus suntuosos figurinos ao passo que a tocante trilha sonora confere um clima épico à produção.

É uma pena que atores orientais sejam sempre tão subestimados pois o elenco deste filme está impecável, com destaque para as protagonistas femininas que estão ótimas e o excelente Chow Yun-Fat que transmite bem o misticismo por trás de seu personagem.

O Tigre e o Dragão é uma obra ímpar e incomum, dono de um poder próprio e de uma atmosfera cinematográfica épica e inesquecível. É impossível ficar indiferente com o espetáculo de reflexão tão poderoso e marcante deste belo filme.

Curiosidades: Ganhador do OSCAR de Melhor Filme Estrangeiro em 2001.