“Cercado por exuberantes arrozais verdes no norte de Bangladesh, ergue-se um edifício curvo de dois andares construído com lama e bambu. As paredes de lama se curvam e dançam, e uma grande rampa sobe até o primeiro andar. Abaixo da rampa, há cavernas que oferecem um lugar divertido para se movimentar ou um espaço tranquilo se você precisar de um momento para se sentir protegido e abraçado”. É assim que começa a descrição do projeto arquitetônico Anandaloy, vencedor da segunda edição do prêmio internacional de arquitetura Obel Award, instituído em 2019 pela Henrik Frode Obel Foundation, de Copenhgue, na Dinamarca.
Para complementar a descrição, faltou dizer que o Anandaloy Center projetado pela arquiteta alemã Anna Heringer abriga – num edifício multifuncional incomum de dois pavimentos – um centro de terapia para pessoas com deficiência e um estúdio têxtil que produz moda e arte.
“Não é apenas uma solução espacial para uma série de necessidades humanas básicas e específicas”, como observou o júri, mas uma resposta em várias camadas ao desafio de enfrentar deficiências diversas, que naquela região do planeta são costumeiramente vistas como “karma” a ser suportado, sendo por isso comum os seus portadores serem isolados e não incluídos na sociedade. Principalmente em áreas rurais, faltam centros de acolhida para essas pessoas.
Alegria e identidade – “Arquitetura é uma ferramenta pra melhorar vidas”, define Anna. Seu projeto, erguido no vilarejo de Rudrapur, recebeu o nome de Centro Anandaloy, que no idioma local significa “lugar de profunda alegria”. Era para hospedar apenas um centro de terapia pra pessoas com deficiência (PCD), mas acabou sendo ampliado para incluir no primeiro andar um atelier com fabricação de têxteis para o chamado “comércio justo” em feiras locais, auxiliando no desenvolvimento econômico e cultural da comunidade.
Embora com projeto alemão, a construção foi realizada com parcerias locais, a participação de moradores da vila (melhor dizendo: moradoras, pois elas formaram a maioria) e até de pessoas que seriam depois atendidas pelo centro. Foram usados materiais disponíveis na comunidade, como bambu e estruturas de taipa (lembra algo da área rural brasileira?), respeitando a cultura e a tradição locais, com “design muito simples e abordagem sutil”, sem danos para o ambiente. No telhado foram empregadas palha e chapas de metal.
Um detalhe observado pelo júri do Obel Award é que o edifício explora as habilidades plásticas dos materiais usados para “criar uma identidade mais forte e, assim, celebrar o inconformismo e a diversidade. Em vez de ser uma linha reta, o prédio dança em curvas, uma rampa serpenteando alegremente em torno de sua estrutura interna”.
Se a ideia é criar e construir, eis uma boa fonte de inspiração para os nossos profissionais.
Um lugar de profunda alegria… em Bangladesh
Foto: Kurt Hoerbst/divulgação
Uma rampa serpenteia por toda a edificação
Foto: Kurt Hoerbst/divulgação
No pavimento superior, um atelier têxtil contribui para o desenvolvimento da cultura e da economia local
Foto: Kurt Hoerbst e Stefano Mori/divulgação
O uso de barro e bambu permitiu explorar as curvas no Centro Anandaloy
Foto: Kurt Hoerbst e Stefano Mori/divulgação
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