“Fotografar é colocar na mesma linha de mira, a cabeça, o olho e o coração”. O ensinamento máximo do francês Henry Cartier-Bresson, um dos melhores fotógrafos de toda a história, tem sido seguido à risca pela legião de repórteres-fotográficos que integraram a equipe do Jornal da Orla nestes 47 anos.
Desde a época do filme, quando o resultado do trabalho era uma revelação até mesmo para o autor da imagem, até os tempos atuais, a fotografia sempre ocupou um espaço de extrema relevância no projeto editorial do Jornal da Orla. Cada uma à sua maneira, os profissionais de imagens souberam com apuro técnico e extrema sensibilidade materializar os fatos e sentimentos de cada reportagem. Chama a atenção a quantidade de mulheres, que ofereceram um olhar feminino às páginas do jornal nestas quase cinco décadas.
Colecionador de credenciais
A mensagem em inglês praticamente pulou da tela do computador e parecia brilhar: “o seu credenciamento foi aceito”. Leandro Amaral demorou eternos segundos para ter certeza de que havia entendido certo. O e-mail da FIFA assegurava a participação dele na cobertura das finais do Mundial de Clubes de 2012, no Japão, onde o Santos FC de Neymar e companhia buscaria o título.
Era o auge de uma trajetória no Jornal da Orla marcada por registros inesquecíveis (para ele, para os leitores e para seus colegas de trabalho) que havia se iniciado em 2003. Ainda no segundo ano do curso de Jornalismo da Unisanta, Leandro respondeu a um anúncio para preenchimento de uma vaga como arte-finalista —como já tinha experiência em gráfica, conseguiu o emprego.
Mas desde sempre o pessoal da Redação sabia que o negócio do Leandro era jornalismo. A chegada de Leandro, em outubro, coincidiu com a produção da edição especial de 30 anos do Jornal da Orla. Foi um jornal histórico, 86 páginas com 100% das páginas em cores —uma ousadia para época, pois nem mesmo os grandes jornais de circulação nacional se atreviam a tanto.
Como o número de páginas superou as expectativas iniciais, Leandro ajudou também na diagramação de algumas páginas. Mas a grande paixão dele surgiu meses depois. Comprou uma máquina fotográfica (já digital) e passou a praticar. Justamente nesta época o Jornal da Orla foi convidado pela Embratur para participar de uma Fan Tour —viagem com o objetivo de visitar destinos turísticos para produção de reportagens. O jornalista inicialmente destacado para o trabalho teve um imprevisto pessoal e a viagem caiu no colo de Leandro. Voltou com belo material e foi definitivamente incorporado à Redação.
Leandro Amaral foi o repórter-fotográfico que atuou durante mais tempo no Jornal da Orla. Ao longo de 13 anos, Leleco fotografou de tudo. Pessoas comuns, autoridades, celebridades, belas paisagens, ângulos inusitados da cidade, cenas do cotidiano, fatos históricos, tragédias, shows inesquecíveis, partidas de futebol. Após cobrir religiosamente os jogos do Santos FC na Copa Libertadores e testemunhar a conquista do título, Leandro comentou que seria realizar um sonho cobrir a final do Mundial no Japão.
Uma viagem para o outro lado do planeta, centenas de fotógrafos do mundo inteiro disputando uma credencial, pouco conhecimento de inglês e muito menos japonês…
Leandro enviou um e-mail despretensioso. A resposta positiva chegou dias depois —era um dos quatro fotógrafos brasileiros autorizados acompanhar as partidas no gramado. Alegria geral na Redação. Ele foi lá e fez uma cobertura inesquecível. Na volta, trouxe a credencial do evento, que se juntou às dezenas de outras que ele guarda com carinho.
Meninas superpoderosas
Foi preparando a edição de aniversário de 40 anos do Jornal da Orla que percebi a quantidade de fotógrafas mulheres que atuaram no jornal — muito mais que homens. E este olhar feminino era traduzido nas páginas ao longo das décadas, não apenas nas imagens captadas por elas mas também nos temas abordados. Muitas das pautas propostas por elas. A ideia inicial de colher o depoimento de cada uma delas se transformou em outra ainda melhor: reunir todas elas, para, evidentemente, tirar uma foto, e também que se conhecessem.
A ideia simples se revelou complicada de se concretizar. Biga Appes, Tatiana Gondim, Patrícia Cruz, Juliana Barros, Luciana Sá e Isabel Carvalhaes seguiram o rumo de suas vidas e carreiras (algumas foram se mudar em outras cidades) e, apesar da imensa vontade de cada uma delas, foi muito difícil conciliar a agenda de todas para marcar uma data para o encontro.
Após três tentativas de definir uma data, finalmente conseguimos que o tão esperado encontro fosse feito: 2 de novembro de 2013, um sábado, nos jardins da Pinacoteca Benedicto Calixto. Infelizmente, a única que não pôde comparecer foi Patrícia —estava de plantão, clicando por aí…
Abraços apertados de quem nunca havia se conhecido pessoalmente, mas que compartilhavam da mútua admiração e o carinho pelo jornal. Recordaram histórias, relataram como vai a vida, se uniram para falar mal do editor…
Como eu temia me emocionar a foto sair tremida, convidei o amigo fotógrafo Sérgio Furtado para registrar o momento — para bater pênalti em final de campeonato a gente escala o melhor do jogador.
Click!
A época do filme
Alto, esbelto e elétrico, o fotógrafo José Dias Herrera chamava a atenção pela vitalidade ao “desenrolar” as pautas. Não tinha tempo ruim. Trazia para a Redação registros vibrantes e ainda ajudava o repórter que o acompanhasse na coleta de informações. Testemunha ocular dos fatos mais importantes ao longo de seis décadas, Seo Zezinho também fez história no Jornal da Orla, onde atuou na época em que ainda se usava filme: ele mesmo revelava seus negativos, ampliava as cópias e entregava o trabalho, impecável.
Criatividade
A fotografia sempre foi muito valorizada nas páginas do Jornal da Orla. Os profissionais ficavam à vontade para desenvolver a própria linguagem e sugerir pautas. Provas disso são os trabalhos de Luiz Fernando Menezes e Douglas Aby Saber, que dividiram sua criatividade com os leitores do jornal.