Isso mesmo: entre os novos hábitos que as pessoas estão incorporando e que farão certamente parte do chamado “novo normal”, um hábito relativamente antigo ganha novas roupagens e uma força até certo ponto inesperada, pelo menos em termos de rapidez e aceitação.
Alguns milhões de anos atrás (menos, menos…), quando ninguém sequer imaginava que teríamos uma demorada pandemia, os novos empreendimentos residenciais começaram a destacar as varandas multifuncionais, não mais como um espaço para apenas se olhar a paisagem, mas para reunir amigos, fazer refeições, churrascos e pequenos eventos sociais – ou apenas para uma simples refeição em família.
Para corresponder a estas novas demandas, as varandas ganharam envidraçamento, churrasqueira, adega, novo mobiliário, sonorização, paisagismo e efeitos de iluminação. Mais: aproximaram-se da sala principal e da cozinha, mais integradas assim ao ambiente doméstico – um charme a mais.
Então, vieram o isolamento social e a incorporação de novos hábitos sanitários que recomendam evitar aglomerações, entre outros. Ficando em casa, as pessoas perceberam mais a importância do conforto doméstico e da participação em grupos específicos de interesses – sejam estes apenas sociais ou ligados aos assuntos de trabalho. A tendência já existia, mas ganhou novas motivações para permanecer e se ampliar.
Para ficar… – “A varanda multifuncional é uma tendência que se desenvolveu durante a pandemia e um das que mais irá atingir o público que procura por um novo imóvel”, afirmou Fábio Tadeu Araújo, sócio dirigente da Brain Inteligência Estratégica, que junto com a Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) promoveram em junho uma “live” para apresentar tendências que foram potencializadas a partir do crescimento do movimento “#FiqueEmCasa”.
“A varanda se tornou um espaço em que as pessoas podem respirar ar puro e se sentir minimamente fora de casa. Por conta disso, virou cômodo essencial. Porém, o que foi percebido por grande parte dos moradores é que muitas varandas não pegam sol, ou não têm espaço suficiente, ou ainda não estavam devidamente adequadas para serem utilizadas. Temos certeza que essa percepção vai levar muita gente a fazer reformas e, mais que isso, a procurar por empreendimentos que entreguem varandas maiores e até mesmo mais ensolaradas. ‘Garden’ (N. E.: jardim privativo) e cobertura também se tornarão tipologias mais procuradas”, explicou o especialista.
Seis elementos – Já em 2015 foi apresentado no IV SBPQ da Universidade de Viçosa/MG o estudo Arquitetura e Saúde do Usuário, dos pesquisadores Andreza Soethe e Leandro Leite, ambos da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), apontando elementos arquitetônicos que influenciam diretamente na saúde e no bem-estar dos habitantes: luz, cor, som, aroma, textura e forma.
Com o crescimento do teletrabalho e do “home office”, a busca por esse bem-estar vem incentivando as pessoas a planejarem espaços adequados e motivadores em suas casas – incluindo o contato com a Natureza. Afinal, também em 2015 o relatório Human Spaces no Impacto Global de Design Biofílico no Local de Trabalho apontou que ambientes com elementos naturais geram níveis até 15% mais altos de bem-estar e criatividade e 6% a mais de produtividade. E dois terços dos entrevistados nesse estudo relataram sentir felicidade ao circular por ambientes iluminados com as cores verde, amarelo ou azul.
Mais uma vez, fica a dica da coluna para construtores, engenheiros, arquitetos e designers de interiores atentarem para a nova importância das varandas nas residências. Afinal, a pandemia passa – esperemos que logo –, mas os hábitos adquiridos tendem a se firmar. Já repetiam os avós o provérbio português: “Quem nunca comeu mel, quando come, se lambuza”. Uma casa gostosa para se viver e receber os amigos é esse mel que as pessoas estão descobrindo agora.
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