Lima Barreto foi uma das vozes seminais a se posicionar contra as injustiças sociais e raciais deste país. Morreu em 1922 na pobreza e na doença, mas sua obra foi revalorizada e assumiu, enfim, o lugar merecido dentre os grandes literatos brasileiros. A literatura promove este bonito efeito: a redenção e a reparação da vida de um homem ou de uma mulher através de seus livros.
Triste fim de Policarpo Quaresma é um livro para todo brasileiro ter em casa. Policarpo é o personagem mais patriota -na melhor acepção do termo- das letras brasileiras. Sua tragicomédia ambientada na Primeira República de Floriano segue sendo lida por gerações.
Funcionário público, Policarpo é um aprofundado estudioso da cultura brasileira e parece viver para amar o seu país: dedica-se a aprender o violão (naquela época encarado como o mais brasileiro dos instrumentos), defende a implantação do tupi-guarani indígena como língua oficial do Brasil, aprimora-se na agricultura das terras brasileiras e, por fim, envolve-se na política.
O livro se divide em três partes: na primeira, seu envolvimento com o violão, a importante amizade com seu professor Ricardo Coração dos Outros e um acontecido no trabalho que principia sua derrocada. Na segunda parte, Policarpo retoma sua vida na área rural, acreditando no potencial da terra brasileira. No terceiro ato vem a queda definitiva: Policarpo, premido por seus ideais patrióticos, denuncia um ato de corrupção governamental…Ao próprio governo.
Não chega a ser um romance histórico, mas o livro aborda fatos e personagens reais: Floriano Peixoto, a Revolução Federalista, a Guerra da Armada, a Guerra do Paraguai. Particularmente gosto muito quando o escritor ambienta suas estórias em eventos reais. Um livro inteligente, divertido, bem escrito e, acima de tudo, brasileiro.
Motivos para ler:
1 – É um super clássico da literatura brasileira;
2 – O termo “patriotismo”, manipulado por tanta gente, tem no livro seu significado mais puro: o amor pelas coisas de seu país. Dirá Policarpo que os índios são os verdadeiros brasileiros e por isso merecem todas as láureas, aprenderá os pormenores da cultura brasileira, combaterá o estrangeirismo, amará todo o seu povo sem predileção por aquela ou esta parte do país. Um patriota de verdade;
3 – Enfim, encante-se com a terna ingenuidade idealista e patriótica de Policarpo Quaresma.