Em meio a tantas notícias negativas – a da recessão econômica na Europa prevista para 9 a 12% este ano é o tema da semana – e às medidas cada vez mais duras de isolamento social, é engano pensar que o mundo parou. Nem poderia. O que acontece é que uma nova ordem econômica está surgindo, usando e abusando das tecnologias digitais para se reinventar, e esses investimentos silenciosos não serão simplesmente abandonados assim que a pandemia acabar. Forçado a ficar em casa, seu vizinho pode neste momento estar inventando uma forma de manter e renovar as suas atividades e até de expandi-las. Está estudando, procurando exemplos mundo afora, e não vai simplesmente abandonar tudo o que conquistou só porque o Covid terá ido embora.
Em todas as atividades, sempre há muito desperdício que pode ser cortado, seja de tempo, seja de materiais/insumos, seja no gerenciamento ineficiente dos recursos disponíveis. Focadas na própria corrida do cotidiano, as pessoas e as empresas não conseguem parar para fazer essa análise, mas agora a parada forçada nas atividades tradicionais cria uma chance rara de se repensar tudo isso.
Aliás, seria até bom se alguma espécie de pandemia atingisse especificamente as estruturas governamentais, para que elas também repensassem cada passo de sua imensa burocracia e se reinventassem. Será que dar aquela carimbada no processo é tão necessário mesmo, em tempos digitais?
Já se disse que 30% da produção mundial de alimentos é perdida, que a folha de pagamentos consome direta ou indiretamente a maior parte dos orçamentos governamentais. Mas será que, com ferramentas melhores, além de a produção crescer bastante, seriam eliminados os custos bilionários dos processos perdidos por decurso de prazo, dos projetos que não foram feitos e entregues corretamente no tempo exigido, dos erros monumentais que levam ao abandono de investimentos públicos poucos meses depois de iniciados? Nem tudo é corrupção, o problema é muito maior que isso…
Sem demitir ninguém, sem reduzir salários, apenas com a eficiência obtida seria possível gerar recursos para novos empreendimentos, e agora não me refiro mais apenas ao setor público, mas a todos. Todos. Talvez já pudéssemos estar em níveis como a Suíça que queria oferecer um salário mínimo de cerca de R$ 15 mil mensais (valor atualizado de 2.250 euros) a cada cidadão. Ainda não foi daquela vez, mas serve como referência do que vem por aí. A Utopia de 1516 quase vira realidade, cinco séculos depois.
Na Holanda, a média de trabalho é de 29,2 horas por semana para um salário médio de mais de R$ 17 mil – e o país não afundou nas águas por causa disso. Como também o Reino da Dinamarca não apodreceu por ter médias de 32,4 horas de trabalho semanal e de cerca de R$ 21,5 mil de salário mensal.
Com mais tempo para refletir, algumas pessoas certamente se perguntarão: qual é a “mágica”? A resposta está na eficiência, no uso de sistemas inteligentes que poupam tempo e dinheiro. Educação é importante, para preparar o futuro, mas dá para fazer muito mais mesmo com o que já temos. Pense nisso: quantos engenheiros se tornaram excelentes produtores de sucos – e depois se reinventaram novamente como vendedores de carros usados? Cérebros estão disponíveis para novos projetos…
Observo vários movimentos de reinvenção entre construtores civis, engenheiros, arquitetos e designers de interiores. Reinvenção que passa por novos produtos, novas técnicas, novos conceitos, novas formas de relacionamento. Serão temas para as próximas colunas.
Por agora, só queria deixar o recado: o mundo continua girando e quem achar que isolamento social é apenas uma forma de férias forçadas pode ter uma grande surpresa em breve. Proteja-se, e não estou falando só do Covid-19. Recado dado, fique bem.