O Centro de Santos é uma relíquia, não apenas da cidade, mas do Brasil. A Rua XV de Novembro, em especial, é um símbolo dos tempos em que o café era o propulsor da economia do país, no fim do século XIX e início do XX. Sólidas, muitas construções ainda estão de pé, como fortalezas guardiãs da história daquele período.
Um belo exemplo disso é o imóvel ao lado do prédio da Bolsa Oficial do Café. As inscrições na fachada já denunciam que se trata de uma testemunha de grandes passagens e fatos: “Neste local existiu a casa onde nasceu e morou José Bonifácio de Andrada e Silva, patriarcha (assim mesmo, com ch) da Independência do Brasil”, frase esculpida em pedra, localizada abaixo do busto do cidadão mais ilustre de Santos. Hoje tombada pelos órgãos de proteção ao patrimônio, a construção, de meados da década de 1920, ocupa o terreno onde existiu a casa em que Bonifácio teria nascido e passado boa parte de sua vida.
Muitos anos depois, o lote foi comprado pelo Banco Comércio e Indústria de São Paulo (Comind) que, sob encomenda de seu então presidente Teodoro Quartim Barbosa, ao construir o prédio, homenageou o patriarca.
Após a falência do Comind, a família Djrdjrian, que mantém negócios no Centro de Santos, decidiu investir na compra do imóvel, alugando-o para a Câmara Municipal da cidade, que permaneceu ali por mais de 10 anos.
“Quando a nova sede da Câmara foi construída, recebemos uma comunicação do Estado de que o prédio, já tombado, deveria passar por um profundo processo de restauração e, desde então, trabalhamos em concordância com o Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Santos (Condepasa) para que tudo seja feito respeitando a história deste local”, explica o proprietário do prédio Dikran Djrdjrian.
A arquitetura impressionante, rica em detalhes, dotada de uma tecnologia invejável para a época, é assinada (literalmente, pois o escritório mandou cravejar sua assinatura em pedra na fachada) pelo famoso escritório Ramos de Azevedo. A imponência dos anos de ouro do café se reflete desde a serralheria requintada das grades da janela aos vitrais que conferem luz natural aos principais salões. Aliás, luz natural é o que não falta nas quase 60 salas do edifício.
A restauração, explica Djrdjrian, segue um processo rigoroso feito por arquitetos especialistas no assunto, sob a orientação do Condepasa. São analisados quais materiais devem ser usados para recuperar o que está deteriorado, além da adequação às regras atuais de acessibilidade e das necessidades para obter o Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros.
“A nossa previsão é terminar a restauração no segundo semestre deste ano. Acreditamos no potencial e na recuperação do Centro de Santos e estamos confiantes. Este imóvel tem uma história própria e é grandioso, podendo, no futuro, abrigar uma instituição de ensino, por exemplo. Quem sabe…”, planeja Djrdjrian.
Fotos: Gabriel Soares