Há cerca de três meses em ação, projeto já tem base de dados digitais com mais de 150 livros e 1300 exemplares de periódicos, entre eles a Revista Commercial, que completa 170 anos em 2 de setembro. A tarefa é gigantesca, mas altamente necessária, e de certo ponto atrasada. Mas, como diz o ditado, antes tarde do que nunca. O mundo já vem digitalizando seus acervos há mais de dez anos, em programas financiados por governos e instituições culturais privadas. Em Santos, uma das cidades mais antigas do Brasil, onde surgiram dezenas de títulos de jornais e revistas, desde o ano de 1849, não havia, até poucos meses atrás, muita coisa o que ver do ponto de vista digital. As poucas páginas disponibilizadas desta forma surgiram dos acervos da Biblioteca Nacional e do Arquivo Público do Estado de São Paulo. De um universo de aproximadamente dois milhões de páginas, não há mais do que 10 mil disponíveis.
Mas, de maio para cá, o Instituto Histórico e Geográfico de Santos, sob a batuta do jornalista Sergio Willians, um dos maiores entusiastas da missão, vem, a passo cadenciado, executando o trabalho essencial. No começo foram os livros, todos de temática regional ou autores nascidos ou radicados na Baixada Santista. Pela máquina digitalizadora do Instituto já passaram dezenas de obras de Afonso Schmidt, Rui Ribeiro Couto, Martins Fontes, Francisco Martins dos Santos, Alberto Souza, Olao Rodrigues, Costa e Silva Sobrinho, entre tantos outros que se dedicaram à literatura e aos estudos da terra santista. Foram transformadas em meio digital obras raras, como o Cais de Santos, de Alberto Leal, cuja reedição é praticamente nula, ou Minhas Poesias, de Xavier da Silveira. Desta foram, esse livros têm uma chance extra de voltar à tona para um universo novo de leitores.
Sergio Willians juntou parceiros estratégicos na empreitada. A enorme biblioteca digital vem sendo composta pelos acervos da Sociedade Humanitária dos Empregados do Comércio (dona da Biblioteca mais antiga de Santos, de 1880), da Hemeroteca “Roldão Mendes Rosa”, administrada pela Secretaria Municipal de Cultura (Secult), assim como da Fundação Arquivo e Memória de Santos. Essas entidades foram unidas por termos de cooperação técnica. O resultado final deste trabalho conjunto resultará na disponibilização pública e gratuita do material.
Periódicos
Em junho, o programa fez uma pausa na digitalização de livros e iniciou um lento, mas progressivo processo de digitalização de periódicos, começando-se pelo acervo guardado na Sociedade Humanitária, onde se acham mais de vinte títulos de jornais e revistas históricas de Santos. O primeiro a passar pelo feixe luminoso do scanner profissional foi a Gazeta Popular, tablóide editado em Santos entre 1931 e 1938. Só este título possui mais de mil exemplares. Em paralelo, a partir de agosto, começou-se a digitalizar a famosa Revista Commercial, lançada em Santos no dia 2 de setembro de 1849. Trata-se do periódico mais antigo da história de Santos, cuja coleção, com mais de três mil exemplares, é extremamente importante para o conhecimento da sociedade santista no século 19.
“Esta é uma missão perseguida há muitos anos. Com muita dificuldade conseguimos reunir as condições para dar o pontapé nesta jornada que não tem um fim à vista, uma vez que os recursos aplicados no projeto são bastante modestos. Hoje, apenas o Instituto Histórico investe no programa, com dinheiro próprio, resultante da arrecadação do sodalício. Os outros parceiros entram com o acervo, que já é uma preciosidade”. O jornalista afirma que tem buscado potencializar o programa, buscando alternativas de captação, visando a aquisição de mais digitalizadores e contratação de mais técnicos e operadores. “Estamos aguardando recursos do Ministério Público já aprovados para potencializar o nosso programa. Também estamos buscando obter emendas parlamentares com o mesmo objetivo, bem como trabalhando na captação pela Lei de Incentivo à Cultura, a antiga Lei Rouanet, para a digitalização do jornal A Tribuna, que é o título com mais exemplares a serem digitalizados, cerca de 1,5 milhão. Enfim, trabalhando duro, em várias frentes com a missão de recuperar o tempo perdido”, explica Sergio Willians, afirmando que no Brasil hoje já estão disponibilizados mais de 30 milhões de páginas de jornais e revistas por meio da internet. Dos jornais e revistas de Santos, não há nem 1%. “Isto é inaceitável para uma cidade que sempre foi vanguarda na história do Brasil e contribuiu muito para a formação da identidade nacional. Nossa história depositada em jornais e revistas precisa estar ao alcance de todos”.
Parceria com a Biblioteca Nacional
Assim que boa parte do acervo estiver digitalizada, a meta é repassá-la à Fundação Biblioteca Nacional, entidade ligada à Secretaria de Cultura Federal, sediada no Rio de Janeiro. Sergio Willians esteve reunido com a presidente da instituição, Helena Severo, no mês de junho, com a intermediação da deputada federal Rosana Vale. Ambos obtiveram o compromisso que estabelecerá a parceria da cidade de Santos com o programa Hemeroteca Digital Brasileira (o maior banco de jornais e revistas digitalizados do Brasil e um dos maiores do mundo, com mais de 20 milhões de páginas disponibilizadas). “Esta parceria é fundamental, porque desonera justamente a parte mais dispendiosa, que é a conversão das páginas digitalizadas para a promoção de busca por palavras-chaves e a alocação desse repositório digital no servidor”. O jornalista acredita que no começo de 2020 já será possível a sociedade navegar nas páginas resultantes deste projeto de grande envergadura.