O início deste filme já é curioso, e prende o público mostrando um discurso totalmente inflamado por um supremacista branco, tentando, risivelmente, justificar a perseguição racial. Infiltrado na Klan é o melhor filme de Spike Lee em décadas e mostra o diretor em sua melhor forma. Eu, particularmente sou fã, e aqui ele traz uma obra forte, polêmica e necessária que mesmo se passando na década de 70, se mostra extremamente atual. E essa é uma das mensagens mais urgentes do filme, sendo que o fato ocorreu a mais de 40 anos e preocupantemente vem crescendo ainda mais com o passar do tempo. Optando por um tom menos pesado nesse longa, é interessante entender o quão importante este diretor foi para o cinema: emblemático ao retratar o sistema racial e social em todos seus filmes, Spike Lee é contundente em todos seus longas, mas com o tempo foi acusado de perder sua voz, por todas estas questões terem sido abordadas exaustivamente em diversos ângulos. Porém, este filme consegue abordar o melhor do diretor, que mesmo com uma abordagem cômica, no final retratado em Charlottesville, nos lembra da urgência da história, o que acabou me impactando e entristecendo demais.
O longa se passa em 1978, e nos apresenta a Ron Stallworth (John David Washington), um policial negro do Colorado, que conseguiu se infiltrar na Ku Klux Klan local. Ele se comunicava com os outros membros do grupo através de telefonemas e cartas, quando precisava estar fisicamente presente enviava um outro policial branco no seu lugar. Depois de meses de investigação, Ron se tornou o líder da seita, sendo responsável por sabotar uma série de linchamentos e outros crimes de ódio orquestrados pelos racistas.
Spike Lee trabalha muito bem o humor do filme, mas ele não deixa em nenhum momento esquecermos que mesmo juntando diversas pessoas idiotas, isso pode se tornar algo muito perigoso e não deixa o público relaxar achando que esta é uma batalha vencida, mostrando que esse preconceito chegou ao mais alto escalão hoje em dia. Seu trabalho remete totalmente aos filmes da década de 70, seja no estilo de sua filmagem, figurino de seus personagens ou até a fotografia saturada do longa. Parece que você está assistindo um filme rodado nos anos setenta. O roteiro, que aborda uma inacreditável história real, por si só já é interessante e mostra que o racismo é um câncer que está velado em todos as classes sociais. Criando um suspense eletrizante com toques de comédia, fica claro que o diretor não está interessado em retratar como a história se desenrolou, mas sim no que ela representa politicamente e culturalmente. Particularmente, senti falta de mais urgência na história pois em nenhum momento temi pela vida dos protagonistas, algo que admiro em um filme.
Tecnicamente, como já falei anteriormente, parece que o público está vendo um filme filmado nos anos setenta, sendo pelo seu figurino, trilha sonora, direção de arte e pelas referências aos cinemas Blaxploitation, o longa consegue atingir seu auge na cena em que assistimos, estarrecidos, ao discurso de um ancião negro contando uma trágica história, sendo intercalada, com imagens do filme Nascimento de uma Nação, a montagem de rostos em evidência na tela, que é de arrepiar.
Contando com uma inspirada atuação de John David Washington (filho de Denzel Washington!!!) no papel principal, que internaliza muito bem sua raiva a transformando em uma arma no decorrer do longa ao passo que o sempre ótimo Adam Driver consegue transmitir uma constante sagacidade em seu personagem, sempre com uma resposta na ponta da língua.
Infiltrado na Klan consegue ser preocupante e enfurecedor, sem perder a autenticidade e valor de seu entretenimento ao público. Isso é uma das coisas mais difíceis de realizar no cinema e mostra que Spike Lee voltou a sua boa forma. O público e o cinema agradecem.
Curiosidades: Selecionado para competir no Festival de Cannes 2018.
Foto: Divulgação/Universal