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Resenha da semana: Vidro

19/01/2019
Resenha da semana: Vidro | Jornal da Orla

Depois do enorme sucesso de O Sexto Sentido, o diretor indiano M. Night Shyamalan lançou Corpo Fechado, longa que abordava, antes da febre atual de filmes de super heróis, este universo de forma mais real, discreta e que fugia dos estereótipos de filmes deste tipo. Poucos filmes conseguem resistir ao tempo, mas Corpo Fechado foi visionário e cresceu muito com o passar dos anos e para mim é  um longa surpreendente, extremamente original e que muitos críticos colocam como o melhor filme do diretor. Para a surpresa de todos, Shyamalan lançou após 16 anos o longa Fragmentado, onde apenas no final revelava que ambos os filmes se passavam no mesmo universo. Agora em 2019, Vidro chega aos cinemas e dá aos fãs um belo desfecho desta trilogia criada por este talentoso diretor.

 

Após a conclusão de Fragmentado (2017), Kevin Crumb (James McAvoy), o homem com 24 personalidades diferentes, passa a ser perseguido por David Dunn (Bruce Willis), o herói de Corpo Fechado (2000). O jogo de gato e rato entre o homem inquebrável e a Fera é influenciado pela presença de Elijah Price (Samuel L. Jackson), que manipula seus encontros e guarda segredos sobre os dois. Não importam o que falem, mas eu gosto de M. Night Shyamalan. O diretor derrapou em algumas escolhas após seus primeiros sucessos, mas sempre exibiu total controle de seus filmes e é mestre em criar suspense, sempre dando ao público referências sutis sem precisar mostrar criando um jogo de câmera fenomenal e indo na contramão de longas de heróis que investem milhões em efeitos especiais para mostrar seus poderes. Vidro tem poucas cenas de ação e exigirá paciência do público pelo seu ritmo lento, onde o diretor opta por não mostrar a maior parte da violência e representação dos poderes de seus personagens, apostando por diversos momentos em nossa imaginação, como na cena que envolve a caixa d'água. O diretor não se rendeu a Hollywood e realiza um trabalho extremamente autoral, valorizando o filme por seus aspectos únicos e construiu um universo cheio de personalidade. O roteiro, também escrito pelo diretor, continua desenvolvendo bem seus personagens e mostrando seus conflitos internos, sendo um grande quebra cabeças que aposta mais no mistério e suspense do que na ação. Provavelmente, este filme deixara grande parte do público, que está atrás de filmes como da MARVEL e DC, decepcionados. Mas para quem está atrás de algo mais intimista, o universo criado aqui é único, real e imersivo, com o diretor/roteirista mostrando mais uma vez que não segue regras, apresentando um final muito corajoso para os padrões de filmes deste tipo, o que é sua marca registrada.

 

Em aspectos técnicos, como todo o filme do diretor, a fotografia se destaca pelo excelente uso de cores e paletas e o fabuloso jogo de câmera que o diretor cria assim como utiliza a trilha sonora como uma grandiosa ferramenta para construir o clima desejado, induzindo a quantidade exata de tensão e expectativa ao público.

 

Nas atuações, temos novamente James McCavoy brilhando ao interpretar 24 personalidades (e ele consegue ser ainda melhor neste filme). Samuel L. Jackson está mais uma vez excelente, criando um personagem mais dissimulado, megalomaníaco e cínico do que no filme anterior ao passo que Bruce Willis continua com seu personagem frio e fechado, mas me pareceu um pouco apagado em cena.

 

Vidro encerra satisfatoriamente uma inesperada e original trilogia criada por um diretor que infelizmente, tem que provar seu valor aos críticos a cada filme. Talvez seja por ter mostrado em seus primeiros filmes seu enorme talento e gerar uma expectativa muito grande sempre que lança um novo longa. É um diretor que nunca fica na zona de conforto e gosta de correr riscos ao inserir suas crenças e convicções em todos os seus trabalhos. Gostando ou não, há de se respeitar.

 

Curiosidades: Terceiro e último filme da trilogia escrita e dirigida por M. Night Shyamalan. Os anteriores são Corpo Fechado (2000) e Fragmentado (2016).
 

 

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Foto: Reprodução