Digital Jazz

Garota de Ipanema

01/12/2018
Garota de Ipanema | Jornal da Orla

No dia 2 de agosto de 1962, Tom Jobim e Vinícius de Moraes apresentaram ao público, no Restaurante Au Bon Gourmet, em Copacabana, pela primeira vez, a música “Garota de Ipanema”, que se tornou uma das mais gravadas e executadas de todos os tempos.

 

Naquela noite memorável, se apresentaram, além de Tom e Vinícius, João Gilberto e Os Cariocas, interpretando várias músicas inéditas: “Só Danço Samba”, “Samba de Uma Nota Só”, “Corcovado”, “Samba da Bênção”, “Amor em Paz”, “Samba do Avião”, “O Astronauta”, “Samba da Minha Terra” e “Insensatez”. Foi a primeira e a última vez que esse time se reuniu. E este encontro marcou uma página muito importante da história da Bossa Nova. 

 

A inspiração para a composição da música virou lenda e ganhou inúmeras versões. A mais conhecida dizia que Tom e Vinícius sempre se reuniam para conversar e compor numa mesa de bar, no Bairro de Ipanema, no antigo Bar Veloso, hoje Bar Garota de Ipanema, na esquina da Rua Montenegro, hoje Rua Vinícius de Moraes, e por ali sempre passava uma moça muito bonita, de olhos verdes, cabelos longos, 1,73 metro de altura, indo sempre em direção à praia, encantando a todos. Seu nome, Helô Pinheiro, cheia de vida, charme, beleza e vitalidade.

 

A tal mesa de bar existe de verdade e está lá até hoje e você pode visitar o local e ter o grande prazer de poder sentar nela, assim como eles sempre faziam. Ao fundo, na parede, a partitura original ampliada e assinada pela dupla, criando todo o clima. Eu já experimentei fazer isso e posso garantir que vale muito a pena. E não se esqueça de brindar, degustando um chope bem gelado. O ritual, seguido desta forma, fica perfeito e homenageia seus criadores e a sua bela homenageada.

 

O primeiro cantor que a gravou foi o Pery Ribeiro, no ano de 1963, no disco “Pery é Todo Bossa”, mas foi a gravação feita em 1964, no disco “Getz/ Gilberto”, do saxofonista Stan Getz e do violonista João Gilberto, e por puro acaso, teve a voz de Astrud Gilberto, sua mulher na época, que nunca havia gravado até então, produção de Creed Taylor para o selo Verve, que a música ganhou o mundo, definitivamente.

 

Na bagagem, esta histórica gravação recebeu 4 prêmios Grammy. Depois, vieram as gravações de Frank Sinatra, Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan, Diana Krall e mais de 200 versões. Simplesmente a segunda música mais tocada em todo mundo, perdendo apenas para “Yesterday”, dos Beatles.

 

O compositor Tom Jobim e o poeta Vinícius de Moraes nunca imaginaram que esta música ganharia tanta notoriedade. Virou um hino que retratou o que de melhor aconteceu na fase áurea de Bossa Nova, atravessando décadas, mostrando a todos nós como uma música pode ser jovem e atual, depois de passados tantos anos, de inúmeras regravações e versões nas mais diversas línguas.

 

A tal “Garota de Ipanema”, sempre ela e somente ela, continua aquela menina que vem e que passa, linda, inspiradora e eterna.

 

“Danilo Caymmi & Amigos”


O músico Danilo Caymmi é um dos artistas mais versáteis da nossa MPB e já tem mais de 50 anos de carreira, com destaque para a sua participação na “Nova Banda”, de Tom Jobim (1984-1994), e também como contratado da TV Globo, compondo trilhas para novelas e diversas séries de sucesso da emissora.

 

Quando ele lançou em 2009, pelo selo Rob Digital na versão CD (com 13 faixas) ou na versão DVD (com 16 faixas), o primeiro da carreira, ao lado de seus amigos, pude comprovar as suas outras facetas artísticas: a de compositor, de produtor, de cantor e violonista, além da já conhecida grande exibição como flautista.
Nascido numa família em que a música é simplesmente tudo (o patriarca Dorival que lhe deu a primeira flauta, abriu o seu caminho e dos seus irmãos, Dori e Nana, que também seguiram os passos do pai), e afirma, categoricamente, que foi a flauta que o escolheu.

 

O trabalho foi concebido com muito critério e gravado em estúdio, sem a presença de público, em um único dia. Isso permitiu que todos os envolvidos estivessem focados no resultado, que superou todas as expectativas. Belos arranjos e um repertório muito bem escolhido.

 

Outra agradável surpresa é a presença da sua filha, Alice Caymmi, com quem divide os microfones em 4 faixas, além das participações do seu irmão Dori Caymmi, de Roberto Menescal, Fafá de Belém, Zé Renato e Cláudio Nucci.

 

O repertório traz as conhecidas “O Bem e o Mal”, “Nada a Perder”, “Casaco Marrom”, “Nem Eu” e “Andança” e também “Toada à Toa”, “Chega de Tarde”, “Nossa Dança” e “Rama de Nuvens”.

 

Seu timbre vocal grave e muito afinado é maravilhoso e inconfundível, encantando sempre as plateias por onde passa, seja no Brasil ou no exterior. Uma das pérolas da nossa MPB e uma das grandes atrações do Rio Santos Bossa Fest, alguns anos atrás.

 

 

“Cristo Redentor 80 anos”


Este show foi gravado no Aterro do Flamengo em 12 de outubro de 2011 e ganhou o nome de “Show da Paz”, marcando as comemorações dos 80 anos do Cristo Redentor, monumento carioca que virou o maior símbolo do Brasil e que também se tornou uma das maravilhas do mundo, merecidamente.

 

O espetáculo foi assistido por mais de 50 mil pessoas e trouxe no repertório as principais canções que homenagearam aquela que é conhecida como a “Cidade Maravilhosa”.

 

Foi lançado no mesmo ano pela EMI Music na versão CD (com 18 faixas) e em DVD (com 24 faixas), contando com um coral de 800 vozes e a participação de mais de 30 artistas que subiram ao palco, para cumprir um roteiro musical bem diversificado.

 

Vou dar ênfase à participação dos artistas que mais gosto, como o grupo BossaCucaNova ao lado de Roberto Menescal e Chris Delanno com a releitura de “Garota de Ipanema”, o neto de Tom, Daniel Jobim, e Miúcha com “Samba do Avião”, Stacey Kent, cantora americana de Jazz e única artista internacional convidada, ao lado de Marcos Valle e do seu marido, o saxofonista Jim Tomlinson com “Samba de Verão (So Nice)”, “Coisas do Brasil” com Leila Pinheiro, “Corcovado”, novamente com Daniel Jobim, e as surpreendentes, “Balanço Zona Sul” com Zeca Pagodinho e “O Barquinho” com Sandy.

 

Merece destaque também a banda formada só para o evento, composta por Julinho Teixeira nos arranjos, regência e teclados, Luciano na bateria, André Neiva no contrabaixo, José Carlos na guitarra e violão, André e Jaraguá na percussão.

 

Um momento histórico da nossa música, que deve ser apreciado por aqueles que gostam de boa música, seja aqui no Brasil ou em qualquer parte do mundo.