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A bossa nova no Carnegie Hall – 1962

01/09/2018
A bossa nova no Carnegie Hall – 1962 | Jornal da Orla

Na noite de 21 de novembro de 1962, uma quarta-feira chuvosa, a Bossa Nova viveu um dos capítulos mais importantes da sua existência. Mudaria o rumo da sua história e dos seus principais protagonistas.

 

Era a noite da Bossa Nova para os americanos verem e ouvirem ao vivo e em cores, num dos seus maiores templos culturais dos Estados Unidos: o Carnegie Hall, de Nova York.

 

Aconteceu graças ao empenho da gravadora americana Audio Fidelity e do governo brasileiro, através do Itamaraty, e o show foi cercado de muitas polêmicas e incertezas.

 

A apresentação começou a ser organizada muitos meses antes daquela noite, quando o executivo da gravadora Audio Fidelity, Sidney Frey, veio ao Brasil e conheceu pessoalmente o famoso Beco das Garrafas e os principais artistas que por lá se apresentavam.

 

A sua pretensão inicial previa apenas a apresentação de Tom Jobim e João Gilberto. Depois mudou de ideia e reuniu um time bem diversificado.

 

Os músicos brasileiros, que se apresentaram, eram bastante jovens e para lá foram Antonio Carlos Jobim, João Gilberto, Luiz Bonfá (os únicos que já tinham algum prestígio) e mais Oscar Castro Neves, Sérgio Mendes, Roberto Menescal, Carlos Lyra, Chico Feitosa, Milton Banana, Sérgio Ricardo, Normando Santos, Dom Um Romão, Agostinho dos Santos e outros nomes desconhecidos.

 

Na plateia lotada por mais de 3 mil pessoas, alguns nomes da primeira linha do Jazz: o cantor Tony Bennett, os trompetistas Dizzy Gillespie e Miles Davis, os saxofonistas Gerry Mulligan e Cannonball Adderley, o flautista Herbie Mann, o The Modern Jazz Quartet. E muitos deles, inclusive, foram recepcionar o time de músicos brasileiros no aeroporto quando eles chegaram a solo americano. E uma grande prova de que a Bossa Nova influenciou o Jazz e vice-versa. 

 

A primeira consequência imediata deste show foi o fato de muitos destes músicos americanos gravarem o repertório da Bossa Nova, e isso serviu para que o gênero ganhasse o mundo e rompesse as suas fronteiras territoriais.  

 

A segunda, e mais marcante, determinou que alguns dos músicos brasileiros trocassem o Brasil pelos Estados Unidos. Oscar Castro Neves, Sérgio Mendes e Tom Jobim e João Gilberto abriram mercado por lá imediatamente depois daquela apresentação.

 

A partir daquela noite, em 1962, a Bossa Nova não foi mais a mesma. E não poderia ser diferente.
Atualmente a Bossa Nova é um estilo, um gênero, um ritmo, um movimento que está presente em todas as partes do planeta, revigorado e sempre atualizado.

 

 

Durval Ferreira – “Batida Diferente”

O saudoso violonista Durval Ferreira, conhecido no meio musical como “Gato” pelos seus olhos azuis, foi um dos compositores e intérpretes da Bossa Nova menos festejados e um dos mais injustiçados. 

 

Compôs uma centena de temas importantes para a Bossa Nova e, por incrível que pareça, somente no ano de 2004 conseguiu gravar seu primeiro trabalho solo, 3 anos antes do seu falecimento. 

 

O nome do CD lançado pelo selo Guanabara Records, para comemorar os seus 40 anos de carreira, não poderia ser outro, “Batida Diferente”, que foi um de seus maiores sucessos.

 

E o seu envolvimento no projeto foi total. Assinou como produtor, diretor artístico, violonista, arranjador e intérprete de seu próprio trabalho. E da forma e do jeito que sempre sonhou. Sua batida no violão é marcante e está presente em todas as treze faixas do CD, instrumentais e cantadas. 

 

Não foi uma tarefa fácil definir o repertório e da mesma forma selecionar seus grandes amigos que participaram das gravações, entre eles: Leny Andrade em “Vivendo de Ilusão”, Claudio Roditi em “Batida Diferente”, o também saudoso Marcyo Montarroyos em “Chuva”, Osmar Milito em “Estamos Aí” e “Tristeza de Nós Dois”, Bebeto Castilho em “Moça Flor” e até sua filha Amanda Bravo, em “Nostalgia da Bossa”. 

 

Ao ouvir “Batida Diferente” você vai sentir um delicioso sabor de nostalgia e ao mesmo tempo de modernidade. 

 

Justa homenagem a este grande nome da Bossa Nova, que passou muitos anos à sombra do seu enorme talento. 

 

 

Wanda Sá – “Ao Vivo”

Em grande estilo e recebendo vários convidados especiais, a cantora e violonista Wanda Sá marcou os 50 anos de carreira, gravando ao vivo no Espaço Tom Jobim, localizado no belo Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, um DVD (com 15 faixas) e CD (com 11 faixas), ambos contendo 3 faixas bônus, lançados no final do ano de 2014 pelo selo Biscoito Fino.

 

Considerada como uma das pioneiras da Bossa Nova, ela acompanha o movimento desde o seu início, quando tinha apenas 16 anos. Primeiro, como fã de carteirinha dos primeiros encontros e shows, e anos depois, como uma de suas principais protagonistas. Foi aluna e depois professora da famosa Academia de Violão de Roberto Menescal e Carlos Lyra, seus grandes mestres e padrinhos musicais.

 

Seu disco de estreia “Wanda Vagamente” (1964) é uma referência marcante até os dias de hoje, nos quesitos estética (a capa do disco é sensacional, tem a cara e a alma da Bossa Nova) e também no musical.

 

Os convidados para esta noite de gala foram muito especiais: Carlos Lyra, Marcos Valle, João Donato (outro grande mestre para ela), Dori Caymmi e a cantora americana Jane Monheit. A única ausência sentida e justificada foi a de Roberto Menescal que, no dia da gravação do show, estava nos Estados Unidos, recebendo, em Las Vegas, o prêmio Grammy Latino.

 

Dona de uma voz maravilhosa e uma levada no violão apaixonante, Wanda Sá mostra vigor e sentimento nas suas interpretações, no repertório muito bem equilibrado, que prestigia vários compositores importantes da Bossa Nova, que não foram tão festejados.

 

A banda base foi formada por Adriano Souza no piano, Dôdo Ferreira no contrabaixo e o incrível João Cortez na bateria. E as participações especiais de Marcelo Martins no saxofone, Jessé Sadoc no trompete e, nas faixas bônus de Ricardo Silveira na guitarra e Jefferson Escowich no contrabaixo e Jurim Moreira na bateria.

 

Destaques para “Água de Beber”, “Samba de Uma Nota Só”, “Ciúme”, “A Rã”, “Novo Acorde” e as minhas preferidas “E Nada Mais”, “Vagamente”, “Minha Saudade/Bim Bom”, “O Que É Amar” e “Caminhos Cruzados”.

 

Outra grande obra musical desta paulista batizada e convertida a carioca. Entre escolher o formato DVD ou CD, não tenha dúvida, fique com os 2 formatos.

 

Wanda Sá foi uma das grandes atrações do Rio Santos Bossa Fest 2017 realizado em Santos/SP, quando ela se apresentou ao lado do conjunto vocal Quarteto do Rio.

 

Um banquinho, um violão, Wanda Sá e a Bossa Nova no coração. Viva !!!