Digital Jazz

Antonio Brasileiro

25/08/2018
Antonio Brasileiro | Jornal da Orla

Ele foi um autêntico brasileiro até no nome: Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim é uma referência para a nossa música e, pela sua real e marcante importância, conseguiu quebrar as barreiras territoriais e geográficas, se tornando um personagem sem pátria, um cidadão do mundo, que amou imensamente seu país de nascimento chamado Brasil, embora tenha vivido mais fora do país do que por aqui.  

 

No ano de 1987, quando ele completou 60 anos de vida, a TV Globo preparou uma histórica homenagem ao maestro, exibindo o especial “Antonio Brasileiro”, dirigido por Roberto Talma, e com roteiro assinado por Euclides Marinho e Nelson Motta, gravado parte em Nova York, na primavera, e no Rio de Janeiro, no outono.  

 

Suas cidades preferidas e que sempre foram homenageadas em suas músicas. O programa foi exibido, a primeira vez no dia 29 de maio de 1987 e apenas mais outras 2 exibições na televisão brasileira.  

 

Somente 3 exibições oficiais que tornaram o material objeto de desejo para muitos, inclusive para mim.  

 

Mostrando a universalidade do homenageado, o programa foi vendido para diversos países e ganhou diversos prêmios internacionais.  

 

Em 2008, ganhou merecidamente uma edição especial no formato DVD, lançado em parceria pelo selo Jobim Biscoito Fino Produções e a Globo Marcas.  

 

Nas belas imagens que contaram com uma edição primorosa, vemos Tom descontraído em conversas deliciosas no Central Park e no Museu de História Natural em Nova York e no Jardim Botânico no Rio de Janeiro.  

 

Na parte musical do programa, incríveis duetos intimistas gravados ao lado de Caetano Veloso (Eu Sei Que Vou Te Amar), de Chico Buarque (Anos Dourados), novamente com Chico e Edu Lobo (Choro Bandido), de Gal Costa (Dindi), de Joyce e Gilson Peranzzetta (Insensatez), de Marina Lima (Ligia) e outros belos números ao lado da sua Banda Nova.  

 

E, como cereja do bolo, nos extras, imagens raras de Jobim tocando o tema “Samba de Uma Nota Só”, além de uma conversa bem descontraída ao lado do saxofonista de Jazz, Gerry Mulligan, que foi um grande incentivador da Bossa Nova nos Estados Unidos.   

 

O DVD também é abençoado com a execução do tema “Samba do Avião”, inspirado no belo cenário em torno do Cristo Redentor, que está sempre de braços abertos para acolher a todos nós.  As leituras dos poemas de Carlos Drummond de Andrade, feitas por Jobim no Jardim Botânico no Rio de Janeiro, emocionam demais.  O diretor do especial, Roberto Talma, conseguiu realizar seu grande sonho de vida ao fazer “Antonio Brasileiro”. 

 

Um grande prazer reencontrar neste documentário primoroso o nosso eterno maestro, que continua vivo e eternamente presente em nossos corações. 

 

 

Alaíde Costa & Toninho Horta – “Alegria é guardada em Cofres Catedrais”

Eles se conhecem há muitos anos e têm uma admiração recíproca, além de uma grande amizade, que nasceu na década de 70, quando a carioca radicada em São Paulo, Alaíde Costa, única mulher que integrou o lendário disco “Clube da Esquina” (1972), encontrou o mineiro Toninho Horta, um gênio do violão e da guitarra.

 

Em 2011, se reencontraram novamente no estúdio, por sugestão do produtor Geraldo Rocha e gravaram juntos um CD independente para lá de intimista com 11 faixas, quase todas mineiras, revivendo as canções mais marcantes daquele que foi um dos maiores discos de todos os tempos da nossa MPB. O nome curioso dado ao trabalho foi retirado dos versos da música “Aqui, Oh!”, de Toninho Horta e Fernando Brant.

 

Curiosamente, o CD só foi lançado no ano de 2015, marcando as comemorações dos 80 anos da cantora e mais de 60 anos de carreira. 

 

A voz delicada de Alaíde é acompanhada pelo sempre surpreendente Toninho Horta, hora arrebentando no violão, ora na guitarra, num formato íntimo e acústico, que ficou absolutamente perfeito. Os arranjos surpreendem pela leveza e suavidade.

 

Uma homenagem especial aos compositores mineiros Toninho Horta, Milton Nascimento, Fernando Brant, Lô Borges, Ronaldo Bastos, Flávio Venturini, Beto Guedes, Murilo Antunes. As únicas exceções são Tom Jobim e Vinicius de Moraes.

 

Não deixe de ouvir as gravações de “Nos Tempos do Paulinho”, a única instrumental, “Outubro”, “Tudo Que Você Podia Ser”, “Travessia”, “Nascente”, “Sol de Primavera”, “Beijo Partido” e “Sem Você”, gravada por um pedido especial de Toninho Horta, que ouviu esta música, pela primeira vez, na voz dela e no violão de Baden Powell em 1961. 

 

Um disco fino, intimista e surpreendente. Vale conferir!

 

 

Joyce & Toninho Horta – “Tom Jobim – Sem Você”

Curiosamente este CD, tributo a Antonio Carlos Jobim, foi lançado em 1995, apenas para o mercado japonês.  Os japoneses tiveram a sorte e o privilégio de conhecer, primeiro, uma das mais perfeitas reuniões musicais que já pude ouvir.

 

Somente em 2007 o selo Biscoito Fino relançou, aqui no Brasil, este CD primoroso, duo de voz e violão de Joyce e Toninho Horta. Antes tarde do que nunca.

 

Um trabalho inspirado e emocional que nasceu por acaso no meio de uma temporada de shows que a dupla realizava na sucursal japonesa do Blue Note, em Tokyo.  

 

Eles sentiram a “química” para esta gravação quando o show se tornava mais intimista, bem na hora que os outros músicos, que os acompanhavam, saiam do palco, e o repertório escolhido por eles, coincidentemente, era sempre de Tom Jobim.  

 

Naturalmente surgiu a ideia de gravarem jutos uma homenagem ao querido maestro soberano, verdadeira referência musical para ambos.  

 

Fizeram isso de forma mágica e surpreendente em apenas uma noite, numa verdadeira “jam session”. 

 

O disco foi quase todo gravado em Nova York, em maio de 1995, com apenas duas canções registradas num estúdio carioca um mês mais tarde. 

 

Selecionaram o repertório naturalmente, de acordo com o que mais gostavam da obra de Jobim e, assim, faixa a faixa, iam sendo registradas de acordo com que iam lembrando e o que mais gostavam.

 

O violão mágico do mineiro de Belo Horizonte, Toninho Horta, se encontrou perfeitamente com a voz e com os belos improvisos da cantora carioca Joyce. Impressionante ouvir e sentir a grande afinidade e cumplicidade atingida nas gravações. 

 

 

Destaco os temas: “Ligia”, “Vivo Sonhando”, Só Danço Samba”, “Outra Vez” e as minhas preferidas “Este Seu Olhar/Só Em Teus Braços” e “Ela é Carioca – Take 2”, uma verdadeira apoteose repleta de improvisos. Nota 10 em todos os quesitos. 

 

Joyce e Toninho Horta são músicos excepcionais e fizeram releituras muito inspiradas, que, com certeza, agradariam ao saudoso e eterno Tom Jobim.