O desfecho da Copa da Rússia, neste domingo, deveria funcionar como ponto de partida para uma profunda reflexão dos cartolas brasileiros. E também dos jornalistas que cobrem o futebol no país.
Será que isso vai acontecer? Muito provavelmente, não. E por que não? Porque há pelo menos dois obstáculos gigantescos a essa análise: desinteresse e arrogância.
Muitos e muitos cartolas estão preocupados única e exclusivamente com interesses mesquinhos: colocar apaniguados assalariados no clube (ou nas federações), arrecadar propinas em negociações e contratos, ganhar visibilidade social.
Esses estão matando a galinha de ovos de ouro do futebol brasileiro. E se lixando.
Muitos jornalistas se associam a esse esquema para ficar com algumas migalhas.
O outro fator, a arrogância, contamina não só cartolas e jornalistas mas também torcedores. Para esses, a evolução do futebol nas últimas décadas é pura bobagem. Ignoram a evolução tática, a científica, a da preparação física e emocional e até a da análise de dados de desempenho, o scouting.
Para estes, o melhor futebol do mundo se joga no Brasil. Na Europa, jogador tem “cintura dura”.
A Copa da Rússia escancarou muitas evidências de que essa visão arrogante e ufanista está completamente equivocada.
Tudo evoluiu no futebol. Até a arbitragem, que incorpora elementos de tecnologia. Até a transmissão, que desmascara farsas e trapaças.
Quatro seleções europeias se classificaram para as semifinais. Nas quatro, jogadores com molejo na cintura e habilidade nos pés que não devem nada aos sul-americanos. Mas que conciliam a esses dons disciplina tática, preparo físico e emocional, precisão nos fundamentos e fair play.
A semifinal entre franceses e belgas teve índice de 90% de acerto de passes, inimaginável num jogo do Brasileirão ou numa semifinal da Copa do Brasil.
A seleção croata enfrentou no período de uma semana 3 prorrogações, duas com cobranças de pênaltis, em jogos em que esteve atrás no placar. Mostrou um preparo emocional, além do físico, impressionante.
Ingleses chegaram a uma semifinal depois de décadas. Não é coincidência que na Inglaterra, como também na França e na Alemanha, estejam funcionando centros de preparação de atletas com potencial de chegar à seleção.
É a quarta Copa seguida com um vencedor europeu diferente: Itália em 2006, Espanha em 2010, Alemanha em 2014, França ou Croácia em 2018.
Até quando vamos chegar ufanistas e arrogantes numa Copa, ouvindo, contra todas as evidências, que temos “o melhor futebol do mundo”?
Santos: crise
O Peixe andou pelo México. Em dois amistosos, nenhuma vitória e nenhum gol. Contratou o meia costarriquenho Bryan Ruiz. E vive uma crise política gravíssima. O racha entre presidente e vice mostra que a união entre eles era só eleitoral, completamente artificial. Os pedidos de impeachment radiografam várias correntes políticas no clube se posicionando de maneira imediatista e mesquinha. Momento sombrio.