Não poderia ter sido pior, para o Santos, a estreia na Libertadores. É evidente que nada está perdido, faltam ainda 5 jogos no grupo, 3 deles com mando. É evidente que os adversários não são bichos papões na fase atual, ainda que Nacional de Montevidéu e Estudiantes de La Plata tenham camisas tradicionais. É evidente, também, que um jogo a 3400 metros de altitude, não pode ser usado como referência.
O problema é que, pior que a derrota por 2 a zero no Peru, para o inexpressivo Real Garcilaso, de Cuzco, os problemas crônicos que o time vem demonstrando em campo começam a provocar desconfiança na torcida em relação ao trabalho do treinador Jair Ventura.
Entre comentaristas esportivos e torcedores, a reprovação à escalação e às substituições promovidas durante o jogo por Jair Ventura foram quase unânimes.
Em dois meses, o treinador já deveria ter percebido que a equipe fica sem pegada no meio de campo com Renato e Vechio. E sem toque de bola, com Copete. Na altitude, é incompreensível que ele tenha optado pelos três.
O Santos tem sido dominado dentro de casa com essa escalação até em jogos contra equipes menores, como o Bragantino, na Vila Belmiro, e o Ituano, no Pacaembu.
É interessante observar que Jair Ventura é o quarto treinador seguido a insistir nesse meio campo frágil. Um mistério. Dorival Junior insistia com Renato. Levir Culpi fez o mesmo. Elano escalou o veterano volante ao lado de um Lucas Lima completamente desmotivado num jogo decisivo para o Santos no Brasileiro do ano passado, na Vila, contra o Vasco. O resultado foi igual. O Vasco tocou a bola livremente no meio campo e ganhou de virada por 2 x 1.
A desconfiança da torcida e dos comentaristas ainda é injusta. Primeiro porque alguns erros são naturais. Segundo porque o treinador tem acesso a informações indisponíveis a torcedores e jornalistas, muitas delas não reveláveis em entrevistas. E terceiro porque a responsabilidade maior cabe à direção do clube na gestão atual que não conseguiu colocar à disposição do treinador um segundo volante e um meia articulador que chegassem com status de titulares, como chega, por exemplo, o lateral esquerdo Dodô.
Por que será que ele barrou Gustavo Henrique, depois da excelente partida contra o São Paulo, para promover a volta de David Braz? Por que será que ele colocou em campo primeiro Arthur Gomes e só depois Rodrygo? Por que tirou Sasha, um dos três melhores do time na quarta-feira, ao lado de Vanderlei e de Alison, e deixou em campo Renato, o pior?
Jair merece crédito não só pelo trabalho no Botafogo mas também pelo padrão de jogo que vem conseguindo dar à equipe e pela paciência que tem tido para trabalhar com o material humano que tem nas mãos. É provável que esse mesmo time melhore muito com Vítor Bueno em forma e a volta de Bruno Henrique.
Crédito acaba, entretanto. E a demora para colocar jovens cheios de garra no lugar de veteranos, ou quase veteranos já desgastados, está corroendo esse crédito.
O Paulista poderia ter servido de laboratório para que pelo menos duas promessas, uma no ataque e outra no meio campo tivessem atuado nesta quarta-feira em Cuzco.
Comissão de R$ 1,8 mi contestada
Uma reportagem publicada no jornal Folha de S. Paulo na segunda-feira passada, 26/02, traz pelo menos 5 pontos comprometedores para a gestão anterior do Santos em relação a uma comissão de R$ 1,8 milhão supostamente devida a uma empresa de Malta pela intermediação do valor que o clube deveria receber como formador quando da transferência de Neymar do Barcelona para o Paris Saint Germain no ano passado. Data retroativa no contrato, advertência do ex-gerente jurídico José Ricardo Tremura, empresa não encontrada em Malta… O negócio está obscuro. Na semana que vem vamos tentar, neste espaço do Jornal da Orla, a partir de conversas com todas as partes envolvidas, esclarecer melhor essa questão para os leitores. Até lá.