Coluna Dois

Ídolos de pés de barro e a história do Santos

03/02/2018
Ídolos de pés de barro e a história do Santos | Jornal da Orla

A vida do craque fora do campo deve nortear a relação do torcedor com ele? Nunca antes na história do Santos essa pergunta esteve tão presente na pauta.

A questão não está restrita ao futebol. Admiradores da genialidade dos filmes dirigidos por Woody Allen, por exemplo, estão incomodados com a denúncia da filha dele, Dylan, de abuso sexual na infância. No futebol, também não está restrita ao Peixe. Ronaldo Fenômeno, ídolo corintiano, foi flagrado em passado recente em noitada turbulenta com travestis. Adriano, herói do Flamengo, vira e mexe posta nas redes sociais imagens que sugerem envolvimento com drogas e com a bandidagem.  

O ídolo Robinho bateu as asas para a Turquia na semana passada, publicamente reprovado pelo presidente do Santos por causa da condenação por estupro coletivo na Itália. Diego preferiu a camisa rubro-negra do Flamengo à branca-e- preta do Santos na volta ao Brasil. Neymar jogou a final do Mundial de 2011 pelo Peixe já negociado pelo pai com o adversário Barcelona. Quando lembra de Ganso, agora rejeitado e sem espaço na Europa, a primeira palavra que vem à cabeça do torcedor santista é ingratidão.

São muitos os exemplos de descompasso entre o que o atleta faz em campo e fora dele.

Afinal, tem sentido condenar o ídolo, ou ex-ídolo, pelos pés de barro da vida pessoal?

Será que a genialidade de muitas das mais de duas mil obras do holandês Van Gogh, do final do século 19, fica empanada pela auto-mutilação na orelha e pelo suicídio aos 37 anos?      

Lucas Lima não entra na relação dos grandes ídolos da história do Peixe. Mas não vai deixar de ter sido o jogador mais importante do time, ao lado do goleiro Vanderlei, no opaco período 2015-2017, do ex-presidente Modesto Roma Junior. Lucas Lima joga contra o Santos no domingo, vestindo a camisa de um dos maiores rivais, o Palmeiras.

O ídolo passa, o clube fica. Assim como o artista com a obra.

Na trajetória de grandeza do Santos, as pedaladas de Robinho contra o Corinthians, na final do Brasileiro de 2002, têm um brilho todo especial. O passe de calcanhar de Ganso para  Arouca, que desmonta a defesa do Peñarol na jogada do gol de Neymar, na final de Libertadores de 2011, também. Ou o golaço dele contra o Grêmio, que abriu caminho para a vitória e o título da Copa do Brasil de 2010, na semifinal na Vila Belmiro.

Os deslumbramentos de Neymar com as montanhas de euros negociadas nas sombras não reduz em nada momentos como o gol de placa marcado contra o Flamengo na Vila Belmiro, eleito o mais bonito de 2011 pela Fifa.

Ídolos do futebol e de outros esportes devem ser lembrados e reverenciados pelo que fizeram nos  campos e quadras. Artistas, pela obra

Os momentos protagonizados por Robinho, Diego, Neymar e Ganso ajudaram a escrever a história gloriosa do Santos.

História que tem em Pelé a referencia máxima, que nenhum outro clube no mundo tem na mesma dimensão. 

Pelé, na vida pessoal, não reconheceu a filha Sandra que o exame de DNA provou ser dele. Muita gente condena o Rei por essa atitude. Mas na verdade ela não reduz nenhum grão do brilho estelar, incomparável, das mais de mil atuações dele pelo Santos.