Digital Jazz

DVD Rio Música Incena

23/12/2017
DVD Rio Música Incena | Jornal da Orla

O projeto “Rio Música InCena”, realizado pela primeira vez no ano de 2007, foi uma parceria louvável entre a produtora C&C Solutions, dirigida por Cristiana Gurgel (autora e diretora geral do projeto) e o Canal Brasil.

Foi idealizado em critérios muito simples: apresentar o que há de melhor na tradição da música popular brasileira, suas harmonias, melodias e letras, interpretados pelos nossos grandes músicos.

Todas as apresentações da 1ª. edição do projeto foram gravadas e exibidas no Canal Brasil e este DVD, lançado no ano de 2011, é o resumo qualificado do que de melhor aconteceu nas apresentações feitas no Teatro Laura Alvim no Rio de Janeiro, casa de cultura que é referência nacional pela sua riqueza e diversidade cultural e que costuma ser frequentada por um público qualificado, principalmente formadores de opinião.

A direção das imagens e edição ficou por conta de Paulo Severo, que confidenciou que o show que mais lhe impressionou foi o do guitarrista argentino/brasileiro Victor Biglione, que apresentou um repertório basicamente de Bossa Nova, de forma melodiosa e com improvisos vigorosos. Concordo com ele e acrescento, na minha lista de favoritos, os nomes de Celso Fonseca e de Gilson Peranzzetta. 

Os shows foram gravados ao vivo, com som direto e sem interrupções, dando ao material captado um diferencial de autenticidade. 

Você vai assistir a cada um dos “takes” como se estivesse ao vivo no teatro, sentado na primeira fila.

No palco se apresentaram a cantora e violonista Wanda Sá, com “Água de Beber” e “Você e Eu/Saudades Fez Um Samba”, o saxofonista Mauro Senise, com “Arpoador” e “Vento Bravo”, o cantor e violonista Celso Fonseca, com “Slow Motion Bossa Nova” e “Ela É Carioca”, o contrabaixista Bruce Henri, com “Pequena Suíte 1913” e “Melodia Sentimental”, o pianista Gilson Peranzzeta, com “João e Maria” e “As Rosas Não Falam”, o baterista Pascoal Meirelles, com “Ponteio” e “Estamos Aí”, o pianista Cristovão Bastos com “Sarau Pra Radamés” e “Mandacaru/Sertão do Caicó” e o guitarrista Victor Biglione, com “Look To The Sky” e “Batida Diferente”, foram escalados para compor o time do lançamento do projeto.

O resultado desta importante iniciativa, tanto a gravação e comercialização do DVD quanto a exibição dos shows na TV, é um legado que servirá para a formação de um público, que também consuma a música de qualidade e não apenas a música descartável e de baixo nível que estamos acostumados a encontrar em nosso cotidiano.

A música mais elaborada e qualificada também tem que estar à disposição de um número maior de pessoas. Para mim, é uma questão de necessidade pública e de grande interesse social. Precisamos fazer isso por nós, para os nossos filhos e para as próximas gerações que estão por vir.
Aproveito para desejar para todos os queridos leitores da Coluna da Rádio Jornal da Orla/Digital Jazz um Feliz Natal, repleto de paz, harmonia e muita música! 

Leila Pinheiro & Nelson Faria – “Céu e Mar”

Como é gostoso chegar a um fim de tarde, depois de um dia intenso de trabalho, colocar no aparelho para ouvir este CD gravado no Rio de Janeiro em 2010, em clima bem intimista e descontraído, no formato duo de voz e guitarra. 

Este é o clima que sugiro para que você escute o trabalho da dupla Leila Pinheiro e Nelson Faria. Formato simples, sem nenhuma novidade, mas extremamente eficaz e muito envolvente.

Isso só foi possível graças a intensa afinidade musical da dupla, além de uma bonita amizade, que só colaborou com a química do trabalho. 

O repertório, muito bem escolhido, é bom destacar, completa a fórmula de um disco que vai poder embalar por muitos anos nossos corações. 

A fórmula repete alguns discos que são primeiro lançados no exterior (Europa, Estados Unidos e Japão), onde o mercado é sempre receptivo, para depois sair aqui no Brasil.

E este CD seguiu este caminho. Primeiro lá, depois cá. Ainda bem que sobrou algum espaço para nós brasileiros, tão carentes de boa música e aqui vão os agradecimentos ao selo Biscoito Fino.

As gravações foram feitas no estúdio na casa de Leila Pinheiro e a sensação é de que ele foi gravado numa sala de estar, com muita intimidade e cumplicidade.  

Destaco os temas “Doce Presença”, “Bala com Bala”, “O Amor É Chama”, “Sucedeu Assim”, “Dupla Traição”, a bela versão de “That Old Devil Called Love” e a faixa título “Céu e Mar”. 

Um trabalho que não deixa nada a dever aos principais registros feitos na história neste formato de voz e guitarra.

Como aqueles mágicos registros feitos nas décadas de 70 e 80, pela divina cantora Ella Fitzgerald e do genial guitarrista Joe Pass, que serviram de inspiração para a realização deste projeto que, para mim, já é um clássico por natureza.

“Kenny Barron & The Brazilian Knights”


Se você quer escutar um CD repleto de lirismo e ternura, executado pelas mãos de um dos maiores pianistas da história do Jazz, ainda em plena atividade, recomendo este lançamento de 2013 do selo Sunnyside. 

E mais, com a mágica mistura entre o Jazz e a Bossa Nova, numa sinergia surpreendente. Ah, como o “Samba Jazz” é delicioso.

E o pianista americano Kenny Barron já havia experimentado algo semelhante no ano de 1963 e por algumas outras vezes na carreira e sempre teve a referência da sonoridade da música brasileira no seu repertório.

Na sua carreira acompanhou os maiores nomes do Jazz, como Dizzy Gillespie, Stan Getz, Ron Carter, Ella Fitzgerald, Freddie Hubbard, Elvin Jones entre outros.

Duas curiosidades importantes: o disco foi gravado integralmente no Rio de Janeiro no mês de junho de 2012, quando da visita do pianista ao nosso país, e trouxe, no repertório, composições próprias, de Johnny Alf, Maurício Einhorn, Tom Jobim, Baden Powell e Alberto Chimelli. 

Na oportunidade, ele comemorou no estúdio os seus 69 anos de idade. E ganhou um belo presente musical.
Ao seu lado, um verdadeiro time de “Cavaleiros Brasileiros”, como ele definiu, formado por Cláudio Roditi no trompete, Idris Boudrioua no sax alto, Lula Galvão na guitarra, Maurício Einhorn na harmônica, Sérgio Barrozo no contrabaixo, Rafael Barata na bateria e Alberto Chimelli nos teclados.

Destaque para “Rapaz de Bem”, “Ilusão à Toa”, “Nós”, “Curta- Metragem”, “Triste”, “Tristeza de Nós Dois” e “Sonia Braga”.

É impressionante ver a identificação musical de todos os músicos participantes com o repertório escolhido, de uma forma intensa e muito especial. 

O estilo de tocar do Professor Kenny Barron (desde 2001 na famosa Juilliard School Of Music de NY) é emocionante, e o produtor do disco, Jacques Mayall, recomenda que o CD seja degustado sem nenhuma moderação.