Coluna Dois

Clubes de futebol ou balcões de negócios?

09/12/2017
Clubes de futebol ou balcões de negócios? | Jornal da Orla

O Santos tem eleições neste sábado (9). O Corinthians, em fevereiro. Nas duas campanhas, acusações verdadeiras se misturam com outras completamente falsas plantadas nas redes sociais e nos aplicativos de mensagens.

De todas as acusações, a mais grave, no Santos, sem dúvida, é a da entrada de 2008 novos associados na véspera do prazo (um ano antes da eleição) a partir do qual o novo sócio não teria direito a voto nesta eleição.

Por que grave? É ilegal? Não. É perfeitamente legal. Mesmo que bancadas por dois ou três empresários do futebol, essas associações estão dentro da lei, com exceção das que fraudam dados como o CPF e o endereço e aí caracterizam falsidade ideológica.

A gravidade não está no ato, mas sim no que ele traduz: a transformação do clube numa oportunidade de negócios. Negócios que podem ser bons para o tal empresário-investidor e para o dirigente que ele ajuda a eleger. Mas nunca para o clube. O empresário que investe nessas associações certamente espera ser favorecido depois nas várias transações comerciais que fazem parte da vida de um grande clube de futebol. As principais, compra e venda de jogadores, direitos de transmissão de jogos e vendas de uniformes.   

As 2008 filiações de novos associados do Santos têm um custo mínimo, durante esse período de um ano, de R$ 650,592 mil. A esse valor pode ser acrescentado o das mensalidades atrasadas que os investidores quitam para resgatar o direito de voto do associado inadimplente. 

Não acontece só no Santos e no Corinthians. O ex-presidente do São Paulo, Carlos Miguel Aidar, foi gravado pelo então vice dele, Athayde Guerreiro, detalhando um esquema em que o clube, quando compra, paga mais, e quando vende, cobra menos. No Vasco, o escândalo se repetiu de novo nas eleições deste ano.  

Já faz tempo que essa situação no futebol brasileiro merece uma atenção especial do Ministério Público, da polícia, da Justiça, da Receita Federal. 

O país vive uma situação esdrúxula. O presidente da Confederação Brasileira de Futebol não pode viajar para representar a entidade porque pode ser preso quando colocar o sapatinho tipo mocassim italiano fora do país. A Justiça dos Estados Unidos julga o ex-presidente da CBF, José Maria Marin, pela lavagem de dinheiro de uma montanha de propina que ele recebeu… no Brasil.

O empresário do futebol Jota Hawilla, nesta semana, detalhou em depoimento e com áudios, no processo em que Marin é julgado nos Estados Unidos, a dimensão e a distribuição das propinas.

Vale lembrar que um dos empresários envolvidos com novas associações no Santos é o mesmo que teve vazado um áudio em que revela que contratou o zagueiro argentino Noguera para o Santos com base em indicações de taxistas e garçons de Buenos Aires…