Teatro

Interpretando Aracy de Almeira, o ator Raphael Gama leva espetáculo ao Municipal

24/07/2017
Interpretando Aracy de Almeira, o ator Raphael Gama leva espetáculo ao Municipal | Jornal da Orla

O espetáculo “Araca”, inspirado em um dos últimos shows de samba, com clássicos de Noel Rosa, de Aracy de Almeida, é atração no Teatro Municipal Braz Cubas (Av. Pinheiro Machado, 48, Vila Mathias), na sexta-feira (28), às 21h. Ingressos: R$ 32. Informações: 4062-0177. 

Conhecida do grande público nas décadas de 1970 e 1980, como a jurada rabugenta do programa de calouros do Sílvio Santos, Aracy se destacou no mundo do samba no tempo em que as mulheres não eram aceitas na boemia. ‘Araca’ traz o universo musical da Lapa carioca, com composições de Custódio Mesquita, Vadico e Noel Rosa. 

Confira entrevista com o ator Raphael Gama, que interpreta Aracy nesta peça.
 

Como você fez para compor o personagem Aracy de Almeida? 
Raphael –
Acredito que acima da personalidade, acima da fama de má-humorada, do perfil quase caricato de jurada de calouros, vinha a ARTISTA. A filha do samba-canção, a amiga de Noel, a mulher que precisou e quis se impôr num meio artístico machista para fazer sua arte e ser ouvida. Aracy era uma "mulher de culhões", discutia de igual-para-igual e é isso que me fascina nela. As coisas que ela falava, sua opinião sagaz e corajosa e até hoje tão pertinente ganham beleza quando lembramos o seu samba. Pra mim é mais que personificar um famoso, é homenagear e relembrar sua arte, sua beleza. Durante o espetáculo, quando eu vejo na plateia as reações de carinho, que estão se divertindo e se emocionando com tudo, eu sinto que não é pelo Raphael que eles estão se apaixonando, mas pela Aracy, então meu dever está sendo cumprido.
 

No palco, como você se sente na pele da Araca?
Raphael –
Acho que um ator que não sente mais frio na barriga, não está mais fazendo seu trabalho. O teatro é esse organismo vivo, em constante vibração e imprevisível. É o único lugar onde fazemos todos os dias a mesma coisa e sempre sai diferente, e isso é empolgante e assustador de uma maneira incrível. Com ARACA, eu me vejo levando à frente da plateia uma mulher que alguns ainda se lembram, mas muitos não sabem exatamente quem ela foi ou mesmo que era cantora. Não é só um trabalho de resgatar uma lembrança, pois muitas vezes ela nem existe numa plateia menor de 30 anos. Mas sim de criar uma nova lembrança, uma boa o suficiente que faça com que essas pessoas descubram a pessoa e o samba de Aracy de Almeida. É um flerte. Um exercício de paixão. Eu preciso conquistar aquelas pessoas, então é como a sensação de um primeiro encontro pra mim. É tenso, é arriscado sempre, é intenso, mas é divertidíssimo!

De quem foi a ideia do espetáculo e como você chegou a ele?
Raphael –
A ideia foi do meu amigo e mentor Elias Andreato. Eu vinha trabalhando com o Elias, na época por um ano, como seu Assistente de Direção. Ele já havia me visto cantar durante preparações vocais com os alunos e conhecido meu humor através de textos meus. Lembro de ter conversado com ele, na época, que estava estudando Dolores Duran, projeto que ainda penso em fazer, e pouco depois Elias me chamou para uma reunião e me apresentou Aracy. Eu não a conhecia. Levantamos juntos uma pesquisa, ele tinha um precioso áudio de um dos últimos shows dela, de onde tiramos muitas inspirações, buscamos entrevistas, registros da TV Cultura e juntos estruturamos um roteiro. Elias confiou a mim um projeto ousado sem, naquela época, ter me visto num espetáculo como ator. Foi uma aposta, um voto de confiança em mim e eu fico feliz e emocionado em saber que estou cumprindo o que meu diretor criou. Já fizemos várias apresentações em Sâo Paulo, fomos à Salvador e agora levaremos nosso espetáculo à Santos e cada vez mais sinto que a plateia pede por esse espetáculo, e isso é lindo!