Dificilmente encontraremos uma palavra mais repetida nos últimos tempos em nosso país.
Nas rodas de amigos, no futebol, nas festinhas, como também nos encontros formais, protocolares e profissionais, roda-se em vários temas, porém dificilmente escapa-se de falar na “crise”.
A grande preocupação concentra-se no prazo de presença do cenário de crise nacional. Não se discute mais se vivenciamos uma crise econômica, política, social ou com qualquer carimbo especial.
O tempo de classificação setorial da crise, parece que já foi vencido pela realidade de que vivenciamos uma crise generalizada, sem precedentes na história de nosso país. Infelizmente quando imaginávamos que já estávamos encerrando a etapa mais crítica, novos e imprevistos fatos, tornaram-se instrumentos de fortalecimento das fragilidades nacionais. Dificilmente alguém se arvora em afirmar prazos e formas para o enfraquecimento da crise e portanto, para o início de fortalecimento brasileiro.
Impossível afirmar quando e como, porém, pode-se prever, e principalmente esperar que em algum tempo o país voltará a respirar “sem ajuda de instrumentos” saindo, portanto da UTI nacional em que nos envolvemos.
Se podemos prever que em algum momento sairemos desta triste, porém sob alguns argumentos necessária fase de revisões nacionais, também precisamos nos preocupar com o pós-crise. Fala-se muito que no pós-crise poderemos ter uma nação mais ética, mais compromissada e principalmente com uma população mais envolvida e consciente. Porém, cabe a indagação sobre o que estamos fazendo agora para preparar os vários setores nacionais para o momento de retomada nacional?
Numa cidade e região portuárias, como a nossa, que tem forte dependência de suas atividades diretas e indiretas, precisamos verificar o que precisamos fazer para termos tal setor de forma competitiva, na retomada do desenvolvimento social e econômico brasileiro.
Cabe, entretanto, analisar o modelo de sistema portuário que temos hoje e principalmente o modelo que precisamos vivenciar no futuro próximo, assim esperamos. Precisamos debater e definir que tipo de porto precisamos e queremos para nossa cidade e região. Precisamos verificar se o tipo de porto que precisaremos no futuro, poderá ser disponibilizado. Quais seriam os impeditivos para que o Porto de Santos, possa realmente corresponder plenamente aos desafios futuros? O que precisaremos fazer para atingir o modelo portuário necessário? Alguns temas se apresentam como flagrantes desafios para o porto futuro, assim como já se manifestam como ineficientes no presente. Questões como a dragagem e a administração portuária, apresentam-se de forma flagrante como desafios a serem enfrentados e melhorados. Com a previsão de atividades de comércio exterior em plena vitalidade, no pós-crise, seria loucura imaginar que o Porto de Santos, poderia se manter competitivo, com as constantes restrições nos acessos de navios, em vista da falta de dragagem e das insuficientes profundidades nos canais e pontos de atracação, gerando elevação de fretes. Também seria impensável supor, que tais desafios poderiam ser vencidos, com o modelo de administração portuária atual, centralizado no Governo Federal, bem como sujeito às constantes influências político-partidárias.
O modelo portuário que precisamos no presente, e necessitaremos de forma desesperadora no futuro, já começou a ser formatado com Edição do recente Decreto 9.048, que melhorou a atratividade dos investimentos privados nos portos, porém tal instrumento legal, não é suficiente.
O Porto de Santos, com seu modelo land lord, é na realidade uma parceria público-privada e depende de eficiência e eficácia, nas atuações de ambos os setores.
Atrair investimentos e desburocratizar as atuações privadas no porto são fundamentais, porém não garante a disponibilização do porto que precisamos na retomada da normalidade nacional.
Se não atuarmos agora, para conquistar melhorias na administração portuária, dificilmente teremos no futuro o porto que precisamos e almejamos.
O tipo de porto que teremos no futuro, no momento pós-crise, precisa ser definido e viabilizado agora.
Não teremos tempo para responder estas perguntas e tentar soluções, quando a crise se diluir.
O momento é agora. Seguindo um conhecido compositor, não podemos esperar a hora do pós-crise. Precisamos fazer a hora agora. Vem vamos embora e lutar pelo porto que precisamos, agora e muito mais no futuro.