Coluna Dois

No campo, bela viola. Na direção, bolorento cartola

25/03/2017
No campo, bela viola. Na direção, bolorento cartola | Jornal da Orla
No campo, a seleção brasileira montada por Tite exibiu o brilho dos melhores momentos da centenária e gloriosa trajetória.

Toques de primeira, triangulações perfeitas e movimentos sem a bola envolveram completamente o forte e entrosado time uruguaio. Convém não esquecer da compactação, palavra da moda no jargão dos comentaristas esportivos. Houve momentos de 10 jogadores brasileiros e os 11 adversários, todos na metade de campo uruguaia.

A vitória por 4 a 1 sobre o Uruguai em Montevidéu traduz a sintonia da equipe brasileira com os conceitos mais evoluídos do futebol planetário.

Já nos salões acarpetados da CBF, entretanto, no mesmo dia, um show do tradicionalíssimo obscurantismo da cartolagem.

Numa “mandracaria”, como definiu o presidente do Santos, Modesto Roma, o colégio eleitoral da CBF se transmutou da água límpida da aritmética mais elementar para a álgebra mais turva das conveniências de quem se agarra ao poder como craca aos cascos dos navios. Havia 67 votos. 40 dos clubes da séries A e B e 27 das federações estaduais. Maioria folgada dos clubes. A reforma do estatuto com atribuição arbitrária de pesos a cada tipo de voto mudou tudo. Multiplicados por 3, os votos das federações, sempre domesticadas com mimos pela direção da CBF, passaram a 81. Os dos clubes, multiplicados por 2 os da Série A e mantidos na unidade os da Série B, passaram a somar 60. De 40 a 27, clubes x federações, a conta passou a 81×60, federações x clubes. Simples assim.  

O presidente do Atlético-MG, Daniel Nepomuceno explicitou a distorção:
– A matemática está errada. Federações com clubes na Série A têm que ter peso maior. Os 10 clubes principais do Brasil, que representam a maior  receita, tem menos peso que federações de estados que nunca participaram do futebol brasileiro.

Para a cartolagem, na CBF como nos clubes, o futebol serve para negócios milionários e subterrâneos. Na Confederação, a coisa já está escancarada. Tanto que o presidente da CBF, Del Nero, não viaja para o exterior por medo de ser preso. Dos dois que o antecederam no cargo, um, Ricardo Teixeira, transferiu domicílio dos EUA para o Uruguai pela mesma razão, e o outro, Marin, está em prisão domiciliar em Nova York, assim como o mais famoso testa de ferro deles, Jota Hawilla.  

Os negócios subterrâneos na seleção envolvem convocações que valorizam jogadores para negociações com clubes de outros centros que engordam contas bancárias de cartolas e empresários intermediários. Nos clubes, comissões, e negociações superfaturadas fazem a mesma função.

A decadência da seleção com essas práticas desembocou nos 7 a 1 sapecados pela Alemanha em 2014 na Copa do Brasil e no péssimo começo de campanha nas eliminatórias, o que obrigou a CBF a contratar Tite, que atingiu um patamar de excelência que permite a ele exigir independência na montagem do time.
Essa é a explicação do sucesso da seleção.

Penúltima rodada I
O Santos enfrenta o Santo André neste sábado, às 15h00 no Estádio Bruno José Daniel. O time tem a volta do goleiro Vanderlei e depois da vitória sobre o São Bento na quinta-feira só depende de si mesmo para se classificar para as quartas de final. Também no sábado, às 16h o Palmeiras recebe o Audax no Allianz Parque. O Verdão luta para se manter como o classificado com a melhor campanha. E o Audax, vice do ano passado, está surpreendentemente na lanterna do Campeonato e muito ameaçado de rebaixamento.

Penúltima rodada II
No domingo, às 16h, o São Paulo, ainda não classificado e que não vem tendo boas atuações, recebe um Corinthians que perdeu a condição de melhor campanha do Paulistão para o Verdão e que está há quatro jogos sem vencer. A volta do meia Jadson pode revitalizar o Timão para esse confronto. O São Paulo vem de dois empates, um em casa (Ituano) e o outro fora (Botafogo), e o Corinthians de um empate em casa (RBR) e uma derrota fora (Ferroviária).