Seres especiais, os animais, principalmente os domésticos aos quais chamamos de estimação, têm sua presença cada vez mais reconhecida e valorizada no bem-estar dos humanos. Nossos fiéis amigos ganharam até uma data comemorativa: 14 de março, terça-feira, uma oportunidade para revermos nossas atitudes perante o mundo animal e a natureza, já que os bichos selvagens dependem da preservação do meio ambiente para a sobrevivência.
Mais do que companhia ou guarda, ter um bichinho em casa traz benefícios para a saúde física e mental. Uma das razões descobertas pela ciência para explicar os efeitos terapêuticos do vínculo entre homem e animal é que os cães e gatos satisfazem a necessidade humana básica do toque. Acariciar, abraçar ou tocar um peludo pode rapidamente nos deixar mais calmos em momentos de estresse e ansiedade. Além do companheirismo aplacar a solidão, os cães, por exemplo, podem ser um grande estímulo para o exercício saudável, melhorando o humor, a disposição e até a interação social de seus donos.
Rede protetora em Santos
Ainda há muitos casos de maus tratos, atos de crueldade, abandono, mas Santos vem conseguindo avançar na proteção aos animais graças à ação de organizações não-governamentais, protetores independentes e do Poder Público, através da Coordenadoria Municipal da Vida Animal (Codevida).
De acordo com a coordenadora da Codevida, Leila Abreu, Santos é uma das únicas cidades do país que trabalha com o bem estar animal. “É muito diferente de centro de zoonoses. Aqui nós capacitamos nossos funcionários para conhecer e respeitar o comportamento animal na sua rotina. É preciso priorizar as necessidades do animal, não as do homem, cuidando da alimentação, vacinação, atividades físicas”, diz.
Atualmente, a Codevida abriga 130 cães e 100 gatos, todos colocados para adoção, o que não é uma prática comum devido ao preconceito que há contra animais adultos, cachorros sem raça definida e de médio para grande porte. “O importante é o temperamento do animal, não o tamanho. Você pode ter um pastor alemão em apartamento, se leva-lo para passear todo dia não em problema, garante a coordenadora.
Leila comenta que é preciso mudar a mentalidade da sociedade para melhorar a assistência aos animais. “As pessoas acham que o Poder Público tem o dever de recolher todos os animais na rua, rejeitam bichos adultos para adoção, principalmente gatos. O abandono é um problema social, de caráter, a pobreza não justifica, senão morador de rua não teria um animal”.
A Codevida está em campanha para conseguir voluntários que levem os bichos recolhidos na unidade para o desejado passeio. “Passear é fundamental para a saúde animal. Ele volta relaxado, com um comportamento completamente diferente dentro do canil. Quem quiser ser voluntário tem que se comprometer com a causa, pois o animal fica aguardando a visita”. Os interessados podem procurar por Flávia, após 13h, na sede da coordenaria, Avenida Francisco Manoel s/nº, Jabaquara.
De criança a idoso
As vantagens da convivência com animais se estendem da infância à terceira idade. A veterinária Deborah Peres Mendes Baptista, da Clínica Cão Feliz, comenta que a criança desenvolve a afetividade, a responsabilidade e o respeito aos animais, além de ter no pet um carinhoso e animado companheiro para os momentos de diversão e brincadeiras. Já os idosos ganham um companheiro para todas as horas, se ocupam de forma prazerosa e recuperam a sensação de serem úteis na vida de outro, fazem atividade física nas caminhadas diárias e recebem amor incondicional.
Deborah só faz uma ressalva: “algumas pessoas humanizam demais e isto não é legal para o animal. É preciso ter posse responsável, mas uso de sapatinhos, fraldas, só se a condição do bichinho exigir”. Ela lembra que o pet tem que passear na rua, não basta apenas se movimentar em casa. “Na rua ele vai sentir outros cheiros, outros barulhos, ver outros animais, além da atividade física terá atividade psíquica”. Uma curiosidade que conta: Todos os bichos são muito sensitivos e podem até desenvolver doenças físicas iguais aos donos.
A cura pelo pet
Há 20 anos Angela J. C. Bandeira teve câncer de útero e pulmão. Foi desenganada pelos médicos, a quimioterapia não fazia mais efeito. Foi quando seu marido a presenteou com um filhote de vira-lata, o que foi determinante para sua sobrevivência. “Minha autoestima tinha desaparecido, com a doença meus cabelos e unhas cairam, meus dentes estragaram. Eu não queria mais sair de casa, tinha desistido da vida. Além de fraca, me sentia feia, tinha vergonha de aparecer em público”, conta.
Com um bichinho sob seus cuidados, ela começou a se animar, primeiro levando-o ao terraço para pegar sol, depois saindo com ele à noite na rua. Como que por milagre, o corpo passou a reagir, a medicação começou a fazer efeito e hoje, duas décadas, depois ela é uma atuante protetora.
“Nunca tinha tido um bichinho antes, acho que meu marido agiu na intuição. Voltei a ter ânimo na vida e pensei: se Deus me deu uma segunda chance é para fazer algo”, diz Angela, que criou a ong Viva Bicho e atua como voluntária da Codevida nas feirinhas de adoção. Hoje ela tem 15 animais em casa, entre cães e gatos. “A casa é grande, eles ficam aqui para serem tratados, vacinados, castrados e depois são colocados para doação. Os bichos transformam a vida da gente para melhor”, conclui.
Ong foca na castração para controle de natalidade
Desde 2004, quando foi criada, a ong Defesa da Vida Animal já realizou 14.500 castrações e mais de 15 mil atendimentos para população de baixa renda. Atualmente, a ong abriga mais de 75 animais, entre cães e gatos, a maioria adulto, o que dificulta a adoção. Por mês, são de 110 a 120 adoções. “Temos muita dificuldade com animais de porte grande, deficientes, gato preto. Quem ama, tem que ajudar, não discriminar. Tem que ver o que eles precisam. O animal tem que ser visto como um ser vivo, não como uma coisa, que não gostou, joga fora”, diz a presidente da ong, Marília Asevedo.
Que o diga o aposentado Valdir Silva Menezes, 53 anos, morador no Embaré. Ele comprou a pequena Mel, uma lhasa de 9 anos, para a filha Patrícia, de 17 anos, mas acabou sendo escolhido como dono pelo animal. “É uma alegria, hoje ela é como se fosse da família, não tem cansaço, estresse”.
A moradora do bairro do Macuco, Josefa Maria dos Santos, 60, é só cuidados com a velhinha Susy, uma viralatas de 17 anos que, devido à idade avançada, está exigindo cuidados com a saúde. “Ela representa muito na vida da gente. Só trouxe alegrias. Agora é a hora de retribuir com muito amor, dedicação, paciência”, fala com carinho.
Projeto Anjinhos de Rua, em Peruíbe
O Projeto Anjinhos da Rua, em Peruíbe, possui mais de 600 mil m² especialmente para abrigar, cuidar e dar amor aos animais que foram abandonados e maltratados. São mais de 1.100 animais de todas as raças e espécies, cuidados por profissionais que têm um único objetivo: jamais realizar a prática da eutanásia.
A ong, criada em 2006 e reconhecida como de utilidade pública, além de dar abrigo, oferece atendimento gratuito para a população de baixa renda. A missão do projeto é ajudar e proteger animais de todas as espécies e raças em situações de risco, vitimas de maus tratos, abandono ou abuso, dando-lhes tratamento veterinário e melhor qualidade de vida. Também realiza campanhas de castração. Sem ajuda governamental, a ação tem patrocínio da Mercator Logística Aduaneira, da DTC Trading Company, do Hotel Três Marias e do Praia Bar, ambos em Peruíbe. Saiba mais no site www.projetosanjinhosdarua.com.br
Maltratar é crime
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que só no Brasil existam mais de 30 milhões de animais abandonados, entre 10 milhões de gatos e 20 milhões de cães. Maltratar animais de qualquer espécie é considerado Crime Ambiental, segundo prevê o art. 32 da Lei n° 9.605, com pena de detenção de três meses a um ano de multa. A lei existe, o difícil, infelizmente, é ser cumprida.
Convivência benéfica
Confira alguns bons motivos para ter um bichinho em sua vida:
Vamos socializar – Por ser um animal social, ou seja, que requer convívio com outros cães para a manutenção de sua qualidade de vida, o cachorro naturalmente oferece um estímulo para que os donos frequentem parques e outros ambientes que favorecem a interação social.
Fora depressão – As trocas de carinho observadas na relação humana com os animais de estimação favorecem o aumento da autoestima, o senso de valor próprio, o estabelecimento de hábitos positivos e o interesse pelo outro, questões que estão entre as centrais da depressão.
Autoestima em alta – Ao sentir o carinho, o amor e a atenção do pet, o dono de um animal de estimação se dá conta do quanto é importante para a vida de seu animalzinho. Isso faz com que se sinta também mais importante e confiante em suas próprias capacidades.
“Hormônios da felicidade” – Estudos indicaram que a troca de afetividade entre humanos e animais tem como um dos principais efeitos o aumento da produção e liberação de serotonina e dopamina, os responsáveis pela sensação de prazer e alegria.
Xô, preguiça – Ter um animal de estimação (em especial, cães) obriga até o mais ferrenho sedentário a fazer passeios diários ao ar livre, o que pode ser o primeiro passo em direção a uma rotina de atividades físicas regulares, essenciais à saúde humana.
Adeus solidão – Seja pela companhia do próprio animal e/ou pela estimulação de uma maior interação social por meio dos passeios com o pet, a sensação de solidão tende a ser amenizada.
Senso de responsabilidade – Cuidar de um animal envolve uma série de rituais diários e eventuais, como alimentação, manutenção da higiene, banho e passeios. Ter um pet pode ser uma incalculável lição de responsabilidade e compromisso para as crianças, por exemplo.