Na quinta-feira, 2 de fevereiro, alguns eventos pretendem comemorar uma data especial. Recentemente, a atual administração do Porto de Santos informou que realizará várias atividades, contando inclusive com a presença do ministro dos Transportes, Maurício Quintella, que, na atual estrutura do governo federal, tem a responsabilidade sobre os temas portuários.
Segundo a Codesp, tais atividades pretendem comemorar os 125 anos do Porto de Santos. Entretanto, cabe indagar, se no dia 2 de fevereiro, o principal fator a ser comemorado é o período passado, contado a partir da atracação do navio Nasmith, que inaugurou a primeira faixa de cais, com 260 metros do Porto de Santos. Afinal, o que realmente precisamos comemorar? Se formos analisar sob o prisma da história da ligação cidade-porto, chegaríamos à conclusão de que a atividade portuária está ligada à nossa cidade por cerca de 476 anos, já que, em 1540, Brás Cubas transferiu as operações das antigas caravelas para o fundo do estuário, implantando um pequeno povoado. Dali, surgiram a cidade e o porto de Santos. Então, não deveríamos estar comemorando apenas 125 anos, e sim os quase 500 anos de história portuária em nossa cidade.
Também podemos analisar esta data sob o ponto de vista da história das empresas envolvidas nas responsabilidades com os investimentos, exploração e administração da maior estrutura portuária do hemisfério sul. As empresas Companhia Docas de Santos e Companhia Docas do Estado de São Paulo estão ligadas umbilicalmente à história do Porto de Santos.
Enquanto a Docas de Santos, uma empresa privada fundada por Cândido Gaffrée e Eduardo Palassin Guinle implantou, operou e administrou o Porto de Santos, por cerca de 90 anos, a Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), empresa do governo federal, tem sob sua responsabilidade a gestão e administração deste porto durante os recentes 36 anos. Assim, fica evidente que a história do Porto de Santos pode ser contada sob vários aspectos e numerais. São quase 500 anos de história portuária. Foram quase 90 de história como empresa privada e já são quase 37 anos de experiências com uma empresa governamental.
Podemos, também, dividir a história da empresa governamental em duas fases: a primeira, como administradora e operadora portuária, por cerca de 13 anos, e a segunda apenas como administradora portuária, por cerca de 14 anos, como consequência da lei de modernização portuária (Lei 8.630/93). Se temos várias formas de analisar a história do Porto de Santos, será que devemos comemorar a data de 2 de fevereiro e o período dos 125 anos?
Devemos sim, pois tal data representa muito mais do que apenas o dia de atracação do navio Nasmyth, que inaugurou o novo cais do Porto Organizado de Santos, em 1892.
Aquele navio, grande para aquela época, pequeno para os dias atuais, com seus 96 metros, simbolizava uma mudança de realidade portuária. De forma simbólica, o navio, movido a vapor e velas, incorporava a fase de transição no transporte marítimo mundial. Aquela primeira atracação inaugurou o período de gestão portuária privada, com fortes investimentos e profissionalismo, na busca de resultados e na aplicação da meritocracia. Foi com a forte participação da iniciativa privada, nestes 125 anos, que o Porto de Santos se transformou no grande porto brasileiro. No grande instrumento logístico e de competitividade para o país no comércio exterior.
Estes 125 anos precisam ser muito comemorados, como o período de sua viabilização sob a gestão privada, moderna, descentralizada e competitividade.
A grande homenagem que devemos apresentar, nesta data, é a luta pela recuperação dos fatores que efetivamente transformaram este porto em realidade. A atuação privada foi fundamental para que este porto existisse. Queremos efetivamente comemorar os 125 anos e realmente homenagear o Porto de Santos? Lutemos para recuperar sua gestão descentralizada. Trabalhemos para que tenhamos administradores livres das amarras político-partidárias. Atuemos para recuperar as relações e responsabilidades do porto com a cidade, que foram marcas constantes em tempos passados. Reduzir a política e incentivar o profissionalismo e descentralização seriam os justos presentes para a comemoração destes 125 anos portuários.