No final de semana passado, a região da Ponta da Praia, em Santos, tornou-se destaque nos noticiários, com as fortes imagens do mar invadindo a avenida, os jardins, as ruas próximas, as garagens dos prédios e afrontando tudo o que encontrava em seu caminho.
Rapidamente, foi possível constatar os estragos gerados pelo avanço do mar sobre a região supostamente considerada como “terra firme”. Muretas destruídas, pedras imensas lançadas sobre o asfalto, um barco posicionado em local inadequado e o aprazível píer de pesca destruído retratavam as consequências das ações de um mar bravio e incontrolável.
Com o passar do tempo, também ficou claro que o mar não visitou apenas a região da Ponta da Praia. As ondas também levaram a água salgada, para outras regiões da orla praiana de nossa cidade, gerando consequências incômodas. As raízes de coqueiros ficaram expostas e areia que faltava, em muitos pontos de praia, se opunha ao excesso no depósito de areia nos canais do tradicional sistema implantado por Saturnino de Brito.
Muito provavelmente, os cenários desoladores, com consequências negativas para a cidade e em especial para os moradores e empreendedores destas tradicionais regiões habitacionais e turísticas da cidade, geraram posicionamentos, com teses sobre responsabilidades e necessidades de atuações.
Alguns apressaram-se em acusar as dragagens do canal e do porto, como as grandes responsáveis por tais ocorrências, esquecendo-se que a história registra várias ocorrências de movimentações bruscas de marés e de ventos bruscos, conhecidas como ressacas, em nossa região.
O engenheiro Prestes Maia, em seu livro “Plano Regional de Santos”, publicado em 1950, ao relatar a história da região, já mencionava que, em 1541 ou 1542, um cataclisma provocado por uma forte ressaca havia destruído a Vila de São Vicente, alterando a linha da enseada praiana. Mais adiante, o brilhante urbanista ainda registra que aquela ocorrência continuava se fazendo presente na região, com a frase que utilizamos como título desta semana.
A verdade é que ressacas em nossas praias não são novidades. Aliás, esta última ocorrência não foi exclusiva de nossa cidade e nem geração específica na Ponta da Praia. Várias cidades do litoral paulista registraram ressacas, além de cidades de outros estados de nossa federação. Pelo que se sabe, não havia dragagem no canal da Ilhabela, e, mesmo assim, houve ressacas.
Também não podemos nos esquecer das constantes inundações que a população de Zona Noroeste de nossa cidade enfrenta, sempre que os movimentos de marés apresentam níveis elevados, porém sem o acréscimo de ventos.
Alguns podem alegar que realmente estes eventos têm presenças anteriores em nossa cidade, porém, estão se intensificando muito no presente.
Creio que, neste momento, o mais importante é tecnicamente ser verificado o que realmente está acontecendo e quais são as ações necessárias para se proteger a cidade em seus vários aspectos. Precisamos buscar atuações conjuntas de todos os níveis de poder público, para que estudos conclusivos sejam elaborados e para que, principalmente, sejam identificadas as medidas que precisam ser implementadas.
A implantação de molhes (guia corrente) se apresenta como possibilidade já adotada em outras cidades litorâneas e portuárias, que permite inclusive a recuperação da faixa de areia praial. Entretanto, somente técnicos especialistas têm condições de se posicionar sobre tais temas. Creio que, no lugar de acusar a dragagem portuária, dediquemos esforços para, inclusive com a participação do porto, contratarmos estudos técnicos e trabalharmos para soluções conjuntas.
As soluções para estes problemas interessam a todos. Cidade, Estado, País e, logicamente, o Porto.