Certa vez verifiquei, numa matéria jornalística, um entrevistado dizer que o Porto de Santos era especial porque tinha uma cidade, imaginando que estaria fazendo um grande elogio.
Esta declaração seguia o mesmo entendimento de muitas pessoas que defendem a obrigação da cidade em relação ao porto. Este grupo entende que a cidade só tem obrigações junto ao porto. Alguns chegam a dizer que a cidade também deve sempre agradecer por ter um porto instalado em seu território. Este grupo valoriza o conceito de que temos uma relação porto-cidade.
Esta entrevista me fez lembrar que também conhecemos um grupo de pessoas que defendem posições opostas.
Alegam que o porto deve agradecer a estrutura natural e a população da cidade, pois entendem que o porto não seria o que é sem a cidade de Santos.
Defendem que a cidade deve possuir o porto. A cidade deve ser a condutora do porto. Defendem que a administração do porto deve ser descentralizada, com base no conceito de poder, e não de melhoria na gestão. Este grupo entende que temos uma relação cidade-porto, posicionando a cidade à frente do porto.
Estes dois grupos demonstram as dificuldades e desafios que vivenciamos nas relações entre a cidade e o porto – ou vice-versa. Estes dois grupos se confrontam com posicionamentos extremados. Uns alegando que a cidade é ingrata com o porto e outros protestam que o porto precisa interromper algumas operações e não pode mais ocupar novas áreas. Estas visões extremistas são resultados de visões segregacionistas nas relações do porto e cidade.
Não devem existir visões separadas. A verdade é que o porto não tem uma cidade e esta cidade não tem o porto. Mundialmente, a relação entre estes dois entes tem sido melhorada sem envolver conceitos de propriedade. A base da solução está em entendermos e defendermos qual é a real classificação de nossa cidade.
As cidades que possuem o turismo como sua principal atividade não têm nenhuma dúvida sobre a sua classificação. Sabem que precisam conviver com as realidades e consequências de uma cidade turística. Este é o segredo para o início da solução destes desnecessários embates: Assumirmos que somos uma cidade portuária. Não somos cidade-porto. Uma cidade portuária sabe que essa principal atividade tem características próprias e mútuas responsabilidades.
Quando assumimos que somos uma cidade portuária, passamos a analisar os temas com a necessidade de soluções conjuntas.
O porto passa a pensar sua atividade com a preocupação de seus reflexos sobre a região e população onde está inserido. A população, da cidade e região, passa a pensar seu desenvolvimento e planejamento com atenção especial para sua principal atividade.
Uma cidade portuária defende a descentralização, da gestão e administração, objetivando a melhoria do complexo portuário, e não com a preocupação sobre o direito de indicar diretores.
Vamos abandonar os conceitos separados! Vamos lutar pela consciência de que somos uma cidade portuária!