Desde 5 de outubro de 1918, muita coisa mudou no país, em geral, e no bairro do Boqueirão, em particular. Planos econômicos, solavancos políticos, modificação de hábitos e do próprio cenário urbano da cidade. Todas estas alterações foram testemunhadas pelos proprietários e clientes do Bazar 5 de Outubro, que este mês completa um século de existência.
Cem anos atrás, a portuguesa Maria dos Prazeres chegava a Cidade e já carregava o fardo de mulher estrangeira que não se aquietava. Na Avenida Barnabé, no bairro do Boqueirão, que acolhia por volta de 12 mil habitantes, decidiu então abrir um comércio. Para ser mais pontual, no número 31. Esse mesmo local é onde se situa hoje a Avenida Epitácio Pessoa, número 59. E lá na calçada, em frente ao estabelecimento, aparece cravado: Armazém 5 de Outubro. Nome escolhido para homenagear o dia da Proclamação da República de Portugal.
A proprietária de um dos estabelecimentos mais antigos do bairro tomou conta até 1938. Tempo suficiente para atribuir confiança, simpatia e respeito pelos moradores da região.
O armazém continha mercadorias como vinhos, frutas, balas, além de secos e molhados finos. Na mesma época, havia bancos onde eram colocados os sacos com mantimentos, pesados na hora, de acordo com a necessidade do freguês, já que não havia produtos embalados.
Caderneta de despesas
Era comum o empregado entregar encomendas pedidas posteriormente. O pagamento também era na base da confiança. Os itens eram anotados em uma caderneta que cada cliente tinha. No fim do mês, os gastos eram somados e devidamente pagos.
Época de boa vizinhança, como Saturnino de Brito e Julio Conceição, que eram clientes do armazém. A carta de bebidas (o que chamamos hoje de cardápio), trazia os valores em réis e estampava o número do telefone, com os dígitos 5228.
Em 1955, o atual dono João Esteves Abrantes, hoje com 80 anos, era recém-chegado de Portugal. Veio a Santos e logo abraçou o comércio que já ampliava a mercadoria vendendo café, lataria, queijos, patês, louças, tintas, ferragens, artigos escolares, eletrodomésticos, perfumaria, brinquedos e até colchão.
Em 1982, deixou de vender alimentos e o nome passou para Super Bazar 5 de Outubro, o qual carrega até hoje. A partir disso, vieram seus seis filhos: Célia Abrantes, Cristina Abrantes, Luciana Abrantes Vieira, João Carlos Abrantes, Fernando Abrantes e Fábio Abrantes.
Horário e atendimento
Nesta época, o bazar funcionava todos os dias da semana, inclusive aos domingos, até o horário do almoço. Ao fim do expediente, havia uma portinha que permanecia aberta até bem mais tarde, o que facilitava a vida de muita gente quando todos os outros comércios já estavam fechados. Com um aspecto pouco alterado desde a sua construção, as prateleiras seguem quase alcançando o teto.
O atendimento atencioso, paciência e até mesmo uma relação carinhosa com o cliente, especialmente idosos, são questões importantes que explicam os cem anos da empresa.
Dona Esther Gonçalves Caldeira, de 90 anos, frequenta o bazar há três décadas. “Vou desde o tempo que o pai (João) comandava, era minha época favorita. Mas hoje ligo e peço para levarem em minha casa”. E não hesita ao afirmar o que a faz voltar. “O atendimento sempre foi muito especial, a Celinha e o pai são ótimos”, finaliza, citando o laço de amizade que criou.
Os próximos 100 anos
O Super Bazar 5 de Outubro permanece como um dos estabelecimentos comerciais do Boqueirão que é preservado por sua estrutura, conservação de clientes e raízes familiares.
Sem perder isso, os filhos Fábio, Luciana e seu esposo Marcos, abriram a loja 5 de Outubro Colchões, localizada uma quadra depois do comércio.
O Bazar hoje é gerenciado pelos filhos João Carlos, Celia, Fernando, Cristina e seu marido Emilio Sérgio Pechinni, que esperam que o negócio continue a pleno vapor pelos próximos cem anos…