Teatro

Festa: 60tão com fôlego de adolescente

25/08/2018

O mais antigo festival de artes cênicas do país em atividade está completando seis décadas! “Com o tema ‘Mulheres em Cena: Da luta de Pagu aos dias de hoje”, o Festival Santista de Teatro realiza 60ª edição, até dia 2 de setembro, com programação que inclui vinte espetáculos de diversos estados do Brasil e mais de 70 atividades.

A homenagem da histórica edição propõe uma reflexão da atual mulher na sociedade, fazendo relação com a vida da idealizadora do evento, Patrícia Galvão. 

Com a possibilidade de mostrar qualidade, novos espetáculos, novos atores e dar chance para vários setores como diretores, cenógrafos, iluminadores e maquiadores, o Festa é um fenômeno revolucionário, principalmente para a arte local. 

A coordenadora do evento, Raquel Rollo, aposta na resistência do teatro na sociedade e no incentivo para o movimento artístico e, especificamente neste ano, para o público feminino. “É um festival de extrema importância, ainda mais em um ano eleitoral em que escutamos diferentes questões e muitas delas ligadas à mulher. É sempre importante refletirmos sobre o nosso papel”. 

Para figurar essa temática, traz quatro espetáculos nacionais, seis estaduais e nove regionais, além de artes integradas e ocupações em praças, a maior parte delas no Centro da Cidade. “A Praça dos Andradas é um local que tem bastante movimento e respira arte! Mas as atividades serão espalhas também no Monte Serrat, na Praça da Paz na Zona Noroeste e no Emissário Submarino, entre outros pontos”, afirma Raquel.  

As artes dramáticas sempre foram marcantes na história da cidade, desde a inauguração do primeiro teatro santista, em 1830, no Centro, passando pelos áureos tempos do Guarany e do Coliseu.

A realização do Festa consolidou a vocação da cidade para o teatro, revelando talentos como Plínio Marcos, um dos primeiros a retratar temas com diálogos e situações oriundas das camadas sociais periféricas da sociedade, e o renomado Carlos Alberto Soffredini.
 

Lendas do teatro

A primeira edição foi organizada em 1958, pela jornalista Patrícia Galvão, a Pagu, um dos maiores nomes no cenário político e artístico, com o intuito de dar visibilidade a artistas amadores da Baixada Santista para o país. 

Na época, a Cidade recebia apenas quatro vezes por mês representações teatrais vindas da capital, e mesmo com a existência de expressões locais já importantes, como, o tradicional Banho de Doroteia, no carnaval de 1920, onde homens se vestiam de mulher, e o papel importante do crítico teatral e ensaísta, Miroel Silveira, que já honrava o teatro santista em grandes companhias dos anos 1940 e 1950, ainda era pouco para a inquieta Pagu.

Merecidamente, em 1959, no 2º Festival, Pagu recebeu a peça “Fando e Lis” do dramaturgo espanhol Fernando Arrabal, e atraiu vários santistas para um trabalho que visava nível mundial. “Foi a estreia no Brasil, em Santos! Pagu e Paulo Lara remontaram a peça sucesso da época”, conta a atriz Cida Celestino, que participou do primeiro festival. O trabalho conquistou quatro prêmios e três menções honrosas. “O público adorava prestigiar o teatro na região. O Coliseu, por exemplo, ficava lotado porque às pessoas procuravam o teatro”, lembra. 

 

Quer saber mais sobre o Festa? Confira a programação completa.

 

Formação de plateias

A importância de aproximar o público jovem do teatro nos dias de hoje é essencial aos olhos de Cida. “O festival é uma experiência excelente para trazer o público jovem principalmente. Naquele tempo, a TV não tinha a projeção que tem hoje. Não tinham esses programas de auditório, por exemplo. Hoje em dia, a ‘moçada’ é mais atraída pela televisão e não se aprofundam no teatro”, compara. E relembra os tempos em que pôde aprender com Pagu, “foi uma impressionante incentivadora do Teatro”. 

Neste mesmo trabalho que sempre proporcionou inovações e experiências únicas, o ator Osvaldo Araujo relembra um marco de uma das apresentações que teve, em suas palavras, a honra de participar. “Nos 50 anos do festival, apresentamos pelo grupo Taetro de Teatro a peça “Nossa vida como ela é…”, baseado nas crônicas de Nelson Rodrigues onde ganhamos como melhor espetáculo, melhor elenco, melhor diretora, melhor ator coadjuvante e melhor atriz”, recorda-se.

A novidade de fazer uma peça fugindo dos padrões tradicionais sempre fez parte do Festa, e neste contexto, junto a um bom elenco e público participativo, a vitória foi garantida antes mesmo do prêmio chegar. “Um espetáculo inédito, que o público ri, interage e conversa. Ganhamos pela alegria e inovação”, garante. O ator ressalta que é através desses festivais há a estimulação de novos atores e grupos de teatro e isso é gratificante, “criar condições para quem quer aprender é o que toca nossa arte”. 

Na programação que inclui música, audiovisual, oficinas, artes integradas e urbanas, uma exposição ganhará destaque. Uma exposição retratando os 50 anos do grupo Teatro Experimental de Pesquisas (TEP), 30 dos quais sediados na Universidade Santa Cecília, será realizada no Teatro Municipal Brás Cubas. A mostra será aberta às 20h deste domingo (26), mas antes às 19h, acontece a estreia do novo espetáculo do TEP, “As Fiandeiras”.

Foto: Cibele Gonçalves/Divulgação