Um estudo realizado com pombos em Santos e São Vicente indicou que as aves podem transmitir doenças novas pela proximidade com os seres humanos. A pesquisa, desenvolvida pelo veterinário e pesquisador da Universidade Santa Cecília (Unisanta), Eduardo Filetti, detectou nas aves a presença de protozoários e helmintos comuns aos seres humanos, evidenciando que elas aves podem disseminar agentes patógenos ao homem.
O estudo foi realizado no período de fevereiro de 2015 a janeiro de 2016, em 133 pontos das cidades, e contou com a participação de estudantes de Ciências Biológicas da Unisanta. O grupo também pesquisou se a população gosta das aves e as alimenta: 61% dos entrevistados gostam dos pombos, mas acham que eles estão em um número acima do desejado; 36% não gostam e não queriam que elas estivessem nas cidades; apenas 12% afirmaram que as alimentam.
O que foi descoberto
De acordo com Filetti, foram coletadas 311 amostras de fezes dos pombos após a alimentação das aves e, posteriormente, analisadas em laboratório. Foi encontrado o agente Endolimax nana, natural do trato intestinal humano e inofensivo para as pessoas. “Sua presença nas fezes dos pombos é um indicativo de que eles estão se alimentando de lixo e fezes produzidas por seres humanos”, diz o veterinário. A Entamoeba coli, presente na flora intestinal (intestino grosso humano), e outros protozoários comuns ao homem também foram detectados.
“Devemos sempre lembrar que esses protozoários causam maiores problemas em pessoas que estejam com diminuição das defesas orgânicas. A liberação desses organismos no meio ambiente pode contaminar a água, alimentos, praças, cemitérios, jardins e outros espaços públicos e privados, já que os pombos podem excretar material contaminado sobre grãos, verduras, legumes e frutas armazenadas, disseminando o agente”, alerta o pesquisador.
Doenças – Assim como fezes humanas, de cães ou gatos, as fezes das aves podem causar conjuntivites, otites e dermatites, caso em contato com os olhos, ouvidos e pele, respectivamente. Geralmente são facilmente curadas, desde que tratadas corretamente. Segundo o veterinário, o maior problema são as fezes secas, pois podem conter fungos de difícil diagnóstico, causando doenças graves, como a Histopalmose e a Criptococose.
Hiperpopulação de pombos
O estudo estimou em 230 mil a população de pombos em Santos e 190 mil em São Vicente. Para Filetti, algumas causas podem explicar o aumento do número dessas aves nas cidades: “Existem alimentos em abundância no porto e, além disso, muitas pessoas alimentam as aves. As construções antigas oferecem uma quantidade enorme de vãos, frestas e espaços que servem para pouso, abrigo e formação de ninhos, protegendo as aves das ações do tempo”, disse.
Como controlar
Para Filetti, a solução seria “diminuir o derramamento de grãos na cidade, principalmente na área portuária, cuidar melhor do lixo produzido na cidade, fazer pombais alvos, nos quais haveria substituição dos ovos, e dar alimentação com anticoncepcionais, o que poderia reduzir em 53% a reprodução destas aves, sem causar nenhum prejuízo ou sofrimento para elas. As aves são protegidas pelo Ibama”, alerta o veterinário.