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Tarântula, único livro de ficção de Bob Dylan

15/12/2021
Tarântula, único livro de ficção de Bob Dylan | Jornal da Orla

A atribuição do prêmio literário máximo a Bob Dylan (2016) foi um dos momentos mais polêmicos da história do Prêmio Nobel

Todos os anos o mesmo frenesi assalta o mundo literário com a revelação, pela Academia Sueca, do nome que receberá o Nobel de Literatura. Leitores do mundo inteiro voltam seus olhos para o agalhoardo e discutem a (in)justiça da premiação. Com efeito, ao lado dos festejos pelo novo egresso no seleto panteão dos Nobéis, há sempre questionamentos sobre a escolha. A atribuição do prêmio literário máximo a Bob Dylan (2016) foi um dos momentos mais polêmicos da história do Prêmio Nobel.

Os questionamentos são evidentemente válidos. Afinal, por que conferir a um músico o Nobel de Literatura quando tantos renomados escritores aguardam o reconhecimento? Considerando ainda que não existe Nobel póstumo, perdura um sentimento de injustiça para com aqueles que sempre foram cotados (Philip Roth, Amós Oz, Jorge Amado) mas faleceram sem a distinção. Mais: poder-se-ia passar uma eternidade a discutir se Chico Buarque, p. ex., não seria um nome de muito mais altura, dada a genialidade universal de suas letras musicais e o já consagrado e premiado romancista que é.

Polêmicas à parte, Tarântula é o único livro de ficção de Bob Dylan. Difícil descrevê-lo. Trata-se, no fim de tudo, de Bob Dylan pensando alto em prosa e poesia. E o que pode ter de especial nisso? É Bob Dylan. Se é verdade que “poetas nos dizem como nós nos sentimos ao dizer como eles se sentem”, Tarântula pode ser o livro para você.

Motivos para ler:

1- Falar de Bob Dylan é falar sobre o tipo de pessoa mais raro que existe: o tipo que muda o mundo. Evocou em suas letras e canções o espírito de sua época, pulsando em denúncia contra o sistema por um mundo mais livre, plural e solidário. Sua arte caminha no degrau maior das humanidades. Leia e ouça Bob Dylan: será um amor para sempre;

2- Em verdade, a Academia Sueca parece querer se aproximar dos “não-acadêmicos”, numa abordagem mais ampla do que se deve compreender como literatura. Assim foi quando a jornalista Svetlana ganhou o seu Nobel (2015). Fossem as letras de Dylan compiladas no formato de crônicas, não teriam valor literário? Decerto que sim. As críticas são válidas, mas há bons argumentos em favor de Bob Dylan e de sua obra escrita e oral;

3- Artistas passam a vida inteira em busca de uma letra definitiva, da melodia perfeita, do sentido maior da poesia. Eis o Santo Graal do artista, sempre procurado e nunca encontrado. Dylan expressa bem essa angústia em seu Tarântula: “se você vai me mandar algo, me mande uma chave – hei de achar a porta onde ela se encaixa, mesmo que leve o resto da minha vida.” Que assim seja, Sr. Dylan.

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