Cidades

Ricos impediram conjunto habitacional para moradores de áreas de risco, denuncia prefeito

23/02/2023
Ricos impediram conjunto habitacional para moradores de áreas de risco, denuncia prefeito | Jornal da Orla

“Clubinho de Maresias” temeu “Desvalorização imobiliária do entorno”

O prefeito de São Sebastião, Felipe Augusto, revelou que um grupo de proprietários de imóveis de alto padrão em Maresias pressionou e impediu a construção de unidades populares no bairro, que seriam destinadas a moradores de áreas de risco existentes no mesmo bairro.

Em entrevista ao portal UOL, o prefeito disse que alguns interessados em especulação imobiliária bloquearam a ação da Prefeitura. “Tinha empresários grilando área pública. Não é uma acusação, é uma constatação”, afirmou.

Ele disse que cerca de 500 moradores de classe média e alta se uniram para barrar a construção de um conjunto do programa Minha Casa Minha Vida com 220 unidades, destinadas a famílias com renda mensal de até R$ 1,8 mil.

A área escolhida para a construção é de propriedade da prefeitura, resultado de uma desapropriação. O terreno fica a poucos metros da praia, próximo ao Parque Estadual da Serra do Mar.

O prefeito cita uma reunião com 500 pessoas num local chamado “Clubinho de Maresias” com empresários grandes, famosos, que se manifestaram no microfone contra a construção de casas para moradores do próprio bairro.

“Eu afirmo com total clareza: não querem ao lado de sua casa pessoas de baixa renda. As pessoas querem preservar o seu quinhão de beleza”.

Augusto negou um dos argumentos usados pelos moradores abastados, de que o conjunto habitacional abrigaria moradores de outros bairros de São Sebastião, e não apenas de Maresias.

“Não existe transbordo de moradores de uma região da cidade para outra. O morador tem o cartão SUS referenciado à policlínica do seu bairro, o filho matriculado na escola do bairro, a creche atende à demanda do bairro, o seu emprego está no bairro. Se eu tiro de um bairro e coloco em outro, essa pessoa volta no dia seguinte. Deixamos claro desde o início: as casas que seriam construídas no bairro de Maresias seriam destinadas a pessoas que já moravam em Maresias, mas em áreas de risco”, declarou.

O prefeito deu a entender que, diante da pressão, o projeto não foi adiante. “Bloquearam a ação da Prefeitura”.

 

Ricos citam desvalorização imobiliária

A reunião ao qual o prefeito se refere aconteceu no dia 6 de fevereiro de 2020, no Clubinho. Na ocasião, foi apresentado um estudo de impacto de vizinhança encomendado pela Somar. Assinado pela engenheira Patrícia de França Ferreira, o laudo apontou aspectos como “Desvalorização imobiliária do entorno”, “desfavorecimento das condições de circulação do bairro”, “impacto em área de interesse histórico, cultural, paisagístico e ambiental” e “Geração de adensamento populacional”.

“Você colocar essas famílias com faixa salarial de um a três salários mínimos qual o esquema de segurança proposto para um local desse?”, questionou o presidente da Sociedade dos Amigos de Maresias (Somar), Elizeu Arantes.

O movimento recebeu o apoio do então chefe da Secom (Secretaria de Comunicação da Presidência da República), Fabio Wajngarten, que disse na ocasião estar “sensibilizado” já que ele também tem casa lá e, por isso, acompanharia de perto a questão.