Filmes e Séries

Resenha da semana: Amor, sublime amor

17/12/2021
Reprodução

O filme comprova o que já sabíamos : o talento absurdo de Steven Spielberg ao atualizar um clássico dos cinemas com alma, emoção e energia

Realizar remakes não é tarefa fácil e, por inúmeras vezes, totalmente desnecessário (dependendo do longa original). Ainda mais quando se trata de um clássico tão adorado como Amor, Sublime Amor de 1961, um dos musicais mais premiados da história do cinema. Gerando desconfiança por grande parte do público e crítica devido seus constantes atrasos e, inexplicavelmente ficando de fora do circuito de festivais logo na época de premiações, Amor, Sublime Amor de 2021 tinha tudo para se tornar aquele remake descartável mas que, agora em seu lançamento nos cinemas deixa uma grande lição a todos: nunca, nunca subestime o fator Steven Spielberg, um dos diretores fundadores da Hollywood moderna que tem debaixo dos braços inúmeros arrasa quarteirões e uma quantidade ainda maior de clássicos modernos. Clássicos estes, que me arrisco a dizer, Amor, Sublime Amor se soma.

Adaptado de um musical da Broadway, Amor, Sublime Amor conta uma história de amor e rivalidade juvenil que se passa na Nova Iorque de 1957. As gangues Jets, estadunidenses brancos, e os Sharks, descendentes e/ou porto-riquenhos, são rivais que tentam controlar o bairro de Upper West Side. Maria (Rachel Zegler) acaba de chegar à cidade para seu casamento arranjado com Chino (Josh Andrés Rivera), algo ao qual ela não está muito animada. Quando em uma festa a jovem se apaixona por Tony (Ansel Elgort), ela precisará enfrentar um grande problema, pois ambos fazem parte de gangues rivais; Maria dos Sharks e Tony dos Jets. Nesta história inspirada por Romeu e Julieta, os dois pombinhos precisarão enfrentar a tudo e todos se quiserem celebrar este romance proibido. Duas vezes ganhador do OSCAR por direção, Steven Spielberg tem aqui seu projeto do coração. Fica estampada a paixão do diretor pelo musical original e isso fica evidente na energia, coração e criatividade que ele impõe em cada detalhe e composição do longa, trazendo um olhar crítico, moderno e necessário para a época.  Sua câmera é vibrante passeando pelos bairros de Manhattan, entregando um trabalho impressionante de recriação de época (você fica com vontade de andar com os personagens por aquelas ruas), aliado a uma combinação magnífica entre figurino, iluminação e paleta de cores que possuem uma sintonia absurda com cada cena. É definitivamente um show para os olhos do público, onde fica o grande destaque para a cena musical de America, onde fala sobre os prós e contras em viver nos EUA e a bem executada luta no armazém de sal.

O roteiro, assinado por Tony Kushner, foca nas diferenças de classes, dando um maior realismo na rivalidade entre as gangues Jets e Sharks e importância a comunidade porto-riquenha, que foi tão mal trabalhada no original. Os personagens são bem desenvolvidos, com motivações e conflitos no meio de temas importantes como preconceito racial, intolerância e ódio e até espaço para questões de gênero. A parte técnica do filme é primorosa, com uma fotografia belíssima de Janusz Kaminski, que cria composições impecáveis em cenários grandiosos aliado a trilha sonora de Leonard Bernstein que é forte como as músicas exigem.

Spielberg definitivamente escolheu seu elenco a dedo, com Ansel Elgort trazendo o ar de galã adolescente atormentado pelo passado. A atriz Ariana DeBose traz um enorme carisma e talento nos números musicais no papel de Anita aliado a química com David Alvarez, que interpreta Bernardo. Mas o grande destaque fica com Rachel Zegler, que rouba o filme para ela como Maria. Impossível acreditar que este é seu primeiro longa pois a atriz une esperança, angústia e intensidade com perfeição.

Amor, Sublime Amor comprova o que já sabíamos : o talento absurdo de Steven Spielberg, no auge de sua carreira aos 75 anos e atualizando um clássico dos cinemas com alma, emoção e energia. Mais um triunfo na carreira deste magnífico diretor.

Curiosidade: Os produtores do filme temeram pelo seu arquivamento, pois não encontravam o ator ideal para o papel protagonista antes da audição de Ansel Elgort.

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