
No dia em que celebra os 10 anos de sua inauguração como Bispo da Diocese de Santos, Dom Tarcísio Scaramussa recebeu a reportagem do Jornal da Orla e falou sobre o momento único que os católicos da região vivem, com a escolha de um novo Papa em nível mundial e também a posse do novo Bispo Coadjutor da Diocese de Santos, Dom Francisco Mol. Confira os principais pontos da conversa.
Quais são as suas expectativas em relação ao Conclave?
Desde a morte do Papa Francisco, os cardeais estão reunidos nas congregações preparatórias. Nessas reuniões, mesmo os que não serão eleitores – por terem mais de 80 anos – participam de um processo de discernimento sobre a realidade da Igreja e os desafios do mundo atual. É um momento de partilha, que ajuda a pensar no perfil de um novo Papa que possa responder a essa missão.Estamos acompanhando tudo isso com muita oração.
E quanto ao perfil do novo Papa?
A expectativa é de continuidade: fidelidade à caminhada da Igreja, especialmente ao que nos trouxe o Concílio Vaticano II, que teve um grande impulso com o Papa Francisco.A Igreja é comunhão, é corpo de Cristo. Todos os batizados têm a mesma dignidade e são chamados à participação. Esse estilo de Igreja sinodal, de comunhão, de participação e missão, precisa ter continuidade. Em todas as igrejas estamos rezando por esse momento. Hoje, dia que marca a abertura do Conclave, teremos uma missa especial, chamada “Missa pela Eleição do Papa”, pedindo a luz do Espírito Santo para guiar os cardeais.
Quais serão os principais desafios do novo Papa?
O primeiro grande desafio é manter a unidade e a comunhão na Igreja, que é muito diversa. Existem diferentes sensibilidades e formas de ver as coisas, então o Papa precisa favorecer o diálogo e a coesão dentro dessa pluralidade. Outro grande desafio é continuar fortalecendo essa Igreja sinodal, com participação efetiva de todos os batizados, cada um com sua missão. A consciência da missão é muito importante: uma Igreja que vai ao encontro, que é missionária, que caminha com o povo. Depois, claro, há os desafios do mundo. Como diz a constituição Gaudium et Spes, do Vaticano II, as alegrias e angústias do mundo são também as da Igreja. O Papa Francisco fala da economia baseada na fraternidade, solidariedade. Uma economia com alma, sensível à realidade humana, que combata a fome e a miséria. Outro ponto foi a educação. O pacto educativo global é um chamado para todos – governos, escolas, famílias, igrejas – para que se comprometam com uma educação integral, de qualidade para todos. A realidade do analfabetismo funcional no Brasil, por exemplo, é um alerta. Sem educação, não há oportunidade de trabalho, de desenvolvimento, de dignidade. A mudança vem pela educação.
Essa educação precisa também trabalhar visão de mundo, valores, humanidade e não só a capacitação técnica…
Sim. A própria Unesco, durante um tempo, focou muito na qualificação profissional. Mas hoje se entende que isso não é suficiente.
A educação precisa formar a pessoa integralmente, para que ela possa crescer como ser humano, conviver, se atualizar. A técnica muda o tempo todo, mas os valores humanos são essenciais. Para quem tem fé, essa formação inclui também a dimensão espiritual, o sentido da vida. O Papa Francisco insiste na educação como caminho para a transformação da sociedade, e isso envolve também a dimensão transcendente da pessoa.
O senhor completa esta semana dez anos à frente da diocese de Santos. Como avalia essa caminhada?
Foram muitos desafios, entre eles a pandemia, que foi um tempo muito exigente. Mas eu agradeço a Deus por esses dez anos. A diocese já vinha com uma caminhada definida, especialmente após o Sínodo Diocesano que começou em 1995 e foi concluído em 2000. Minha missão foi fortalecer essa caminhada. Retomamos o plano diocesano de evangelização, houve um compromisso grande dos conselhos, das pastorais. Criamos o Vicariato da Dimensão Social da Evangelização, porque temos muitas obras sociais – creches, projetos com os pobres – e era necessário um acompanhamento mais direto. Criamos também o Tribunal Eclesiástico, fortalecemos a formação no seminário. O centenário da diocese foi um momento forte, com o tema da missão e o lema “Lançai as redes”. Foi um tempo de crescimento do sentido de pertencimento à Igreja, apesar das limitações causadas pela pandemia.
O bispo coadjutor, Dom Joaquim Mol, toma posse neste sábado. Como será essa transição até setembro, quando o senhor completa 75 anos?
Ele assume com a missão de ajudar e, em setembro, quando apresento a carta de renúncia por idade e ela for aceita pelo Papa, ele me sucede. Até lá, vamos trabalhar juntos. É uma sucessão normal, pensada para garantir continuidade.
O que o senhor considera como seu legado à diocese de Santos?
É difícil falar em legado. Eu procurei ser servidor da Igreja, dando continuidade ao que encontrei e ajudando a crescer a partir disso. Cada bispo tem seu jeito, seu perfil, que marca de alguma forma a caminhada da diocese. Acredito que retomar o plano de evangelização foi essencial, pois ele unifica a Igreja em torno de um mesmo projeto. Reforçamos os cinco polos de atenção: porto, turismo, idosos, pobres e juventude/família. O Vicariato da Dimensão Social foi uma conquista importante, porque nossa diocese sempre teve esse compromisso com os pobres. Já havia a APASEM, criada na época de Dom Jacyr. No meu tempo, criamos esse vicariato que integra e articula todas as iniciativas sociais. Também demos atenção à formação dos leigos. O CEFAS, criado na época de Dom David, continua sendo referência, e temos reforçado esse eixo.
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