Política

Primeiro desafio de Tarcísio e segurar pressão bolsonarista

22/11/2022
Reproduçã/Twitter @tarcisiogdf

Governador eleito busca apoio de PSD e União Brasil para frear ímpeto de Jair Bolsonaro

O primeiro grande desafio de Tarcísio Gomes de Freitas já foi apresentado antes de sua posse como governador de São Paulo, em 1º de janeiro: a dificuldade é conter o ímpeto bolsonarista de interferir em sua gestão.
Um sinal muito claro da vontade de Jair Bolsonaro influenciar decisivamente no Governo do Estado, tanto na ocupação de cargos estratégicos quanto na definição de políticas públicas, foi a reunião do governador eleito com o deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, na segunda-feira (21).
Na semana passada, Jair e Eduardo já haviam pressionado Tarcísio e exonerar nomes ligados ao ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Alexandre de Morais — uma retaliação ao que o clã bolsonarismo classifica como “perseguição” do ministro da Suprema Corte. Entre eles, o secretário-executivo de Segurança Pública, Youssef Chaim, e diversas indicações no Departamento Estadual de Trânsito (Detran).
Jair Bolsonaro e seus filhos avaliam que a eleição de Tarcísio se deve quase que exclusivamente à força do presidente como cabo eleitoral. Praticamente desconhecido da população paulista, Tarcísio subiu rapidamente nas pesquisas, deixando para trás o governador Rodrigo Garcia (PSDB) e acabando o primeiro turno em primeiro lugar — superando até mesmo o candidato petista, Fernando Haddad, que liderou todas as pesquisas eleitorais.
Outra prova do poder eleitoral de Bolsonaro foi a eleição do astronauta Marcos Pontes como senador.
Tarcísio não esconde de ninguém a gratidão ao presidente pela vitória. No entanto, suas declarações públicas e conversas com lideranças políticas indicam que ele pretende traçar uma linha em que o separe do bolsonarismo-raiz. Neste cenário, ele conta com a apoio do PSD presidido por Gilberto Kassab — que indicou o candidato a vice na chapa, o ex-prefeito de São José dos Campos, Felício Ramuth— e também do União Brasil, que tem como principal liderança em São Paulo, o presidente da Câmara da capital paulista, Milton Leite.
Uma indicação clara de que imporá limites foram os recados de Tarcísio, descartando que figuras extremamente associadas ao bolsonarismo como os ex-ministros Ricardo Salles (Meio Ambiente) e Mário Frias (Cultura) não farão parte de seu governo.
Dentro do próprio PL, há sinais claros de que um conflito interno é apenas questão de tempo: dos 18 deputados estadual eleitos, 11 são declaradamente bolsonaristas e sete são vinculados ao presidente nacional da legenda Valdemar da Costa Neto —no primeiro turno, apoiaram a candidatura de Rodrigo Garcia.
O principal opositor do ímpeto bolsonarista de ocupar espaços no governo virá do PSD de Gilberto Kassab e Guilherme Afif Domingos, considerado homem de confiança de Tarcísio e que foi escolhido para liderar a transição de governo com integrantes da equipe de Rodrigo Garcia.
O presidente estadual do União Brasil, Milton Leite, deu um sinal claro de que Tarcísio precisará garantir espaço para o partido no governo, devido ao tamanho da bancada do partido na Assembleia Legislativa. “Tarcísio precisa ter sensibilidade enorme para não perder nenhum voto na Assembleia. Tem que ter esse cuidado técnico e político. São 34 na oposição (entre petistas, PSOL e outros partidos de esquerda)”, afirmou Leite. Recado mais claro impossível; os oito parlamentares do União Brasil podem ser decisivos nas votações da Assembleia.
Outra pressão que Tarcísio deve sofrer virá do Republicanos, partido pelo qual se elegeu, que é dominado por políticos ligados à Igreja Universal. Neste contexto, a tentativa não é apenas emplacar indicações para cargos importantes, mas também fazer prevalecer pautas conservadoras.
Também integram a base de apoio de Tarcísio —e esperam ser contemplados— PP, PSDB, MDB e Podemos.