
É inegável que se movimentar é essencial para criar uma boa qualidade de vida, pois fornece uma série de benefícios para além dos físicos. Esportes criam habilidade social, pois aumentam a autoestima e criam ambientes de maior convivência com outras pessoas.
Para alguns, essas atividades representam um dia normal dentro de sua rotina, mas para os portadores do Transtorno do Espectro Autista (TEA) pode ser um desafio grande. Segundo a fisioterapeuta Andressa Mussarelli, manter-se em movimento pode transformar a vida de uma dessas pessoas. “Coisas básicas, como vestir uma calça, exigem um padrão de movimento que muita gente não imagina. Você precisa de equilíbrio para colocar uma perna depois da outra, precisa de força e coordenação para fechar o zíper… E essas coisas podem ser desafios para os portadores do TEA”, afirma. “É importante salientar a importância de cuidar da saúde física. Muitas vezes, quando falamos sobre neurodigerventes, as pessoas pensam logo em cuidar só do cérebro e acabam deixando de lado o movimento. Hoje já temos evidências de que cuidar do corpo é essencial”, completa.
Após cerca de 4 anos trabalhando com pessoas neuroatípicas, Andressa conta como já pôde ver a evolução de pacientes mesmo quando ela não entendia muito bem suas necessidades. “Uma vez chegou um caso onde a mãe pediu para que eu ensinasse o filho a subir escadas sem ajuda. No início, eu não entendi aquele pedido tão específico, mas segui o tratamento visando a melhor abordagem possível, conversando com a mãe e então eu pude entender: eles moravam no morro e a mãe já não tinha mais condições físicas de ajudar o filho, por isso ela queria que ele subisse escadas. Uma coisa tão simples faria uma grande diferença na vida dessa família”.
Um desses casos é o de Eduardo Hiroshi, de 12 anos, filho de Luana Gonçalves dos Santos, atendido por Andressa. A mãe do garoto detalha que os exercícios foram fundamentais para a evolução de Hiroshi, que é portador de TEA, Transtorno Opositor Desafiador, TDAH, além de deficiência intelectual. “Nós, mães e famílias, estávamos carentes de um espaço para atividades físicas e esportes. O esporte deveria ser inclusivo, mas essa não é a realidade que encontramos. É muito comum que crianças que precisem de um suporte maior sejam negadas em lugares tradicionais”, afirma. “Felizmente agora temos este espaço onde encontramos, além da inclusão, profissionais capacitados para lidar com eles.”
Luana destaca a felicidade que enxerga em seu filho graças ao esporte. A cada evolução, a mãe pode observar a qualidade de vida de Hiroshi melhorar conforme o filho se torna mais independente. “Ele começou a levar para casa o que aprendeu aqui. Ele consegue executar comandos simples, houve uma melhora na coordenação motora fina e na noção espacial também”, diz.
Ela ressalta que a evolução é perceptível em coisas simples, como pendurar a toalha após o banho, mas também em coisas maiores, como a socialização. “Agora ele interage sem a minha presença. Um ponto extremamente importante”.
O Espaço
Uma academia especializada em atendimento a neurodivergentes na região é fruto de uma indignação familiar e uma feliz coincidência. A mãe, Fernanda, e a filha, Luana, se juntaram após uma série de complicações com o irmão mais novo de Luana, Bernardo, que é portador do TEA e apaixonado por esporte.
Luana conta que o irmão sempre pediu para lutar, por exemplo, mas que a família já ouviu diversos ‘nãos’ pelo caminho. “Uma vez disseram que aceitavam criança autista no judô e quando chegamos para buscá-lo, ele estava isolado no canto, sem receber atenção”, conta Luana Estevão Paiva Neves.
Foi uma série de indignações que levou Luana e sua mãe a procurarem o método de Rodrigo Brívio, profissional que se tornou referência em atendimento a crianças dentro do Espectro Autista, para poder proporcionar ao irmão uma melhor qualidade de vida. “Conhecemos o trabalho do Rodrigo pelo Instagram e compramos a mentoria dele para montarmos uma academia semelhante à dele, que só tinha no Rio de Janeiro, aqui em Santos. Fizemos o curso, mas, em um primeiro momento, isso ficou em segundo plano. Quando decidimos colocar em prática, ele havia expandido o negócio para franquias e nós aproveitamos a oportunidade”, relembra.
A Academia Rodrigo Brívio & GêDois inaugurou em março deste ano e conta com atendimentos para todas as idades e já tem mais de 60 alunos matriculados.
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