Leitura Santos

Livro resgata importância do jornal Cidade de Santos

13/09/2024
Araquém Alcântara

Um repórter que pergunta a um político o que ele acha do nome dele ter virado sinônimo de corrupção; reportagens dignas de um roteiro de filme policial ou espionagem; o editor que cortava os desafetos das fotos publicadas; o dono de jornal bonachão que usava pantufas.

Jornal que circulou entre 1967 e 1987, o Cidade de Santos marcou época pelos episódios inacreditáveis, uma espécie de realismo fantástico à beira do mar e do cais.

E esta trajetória está sendo resgatada agora, no livro “Cidade de Santos – um jornal santista até no nome”, que será lançado no dia 15 de setembro, às 14h, no restaurante Lyon (rua do Comércio, 32, Centro Histórico).

Escrita pelo jornalista Marco Santana, a obra tem prefácio do jornalista e escritor Fernando Morais e foto de capa do fotógrafo Araquém Alcântara.

O “Cidade de Santos” foi um diário que circulou na Baixada Santista entre 1 de junho de 1967 e 15 de setembro de 1987, publicando reportagens em defesa dos direitos dos mais pobres, dos consumidores, trabalhadores e, principalmente, da democracia. A sua principal bandeira foi a defesa da retomada da autonomia política de Santos, pois na época, em plena ditadura, o eleitor santista perdeu o direito de escolher o próprio prefeito.

Crítico e irreverente, o jornal publicava matérias sobre os mais variados assuntos, em linguagem clara e informações precisas. Era uma época romântica, em que jornalistas datilografavam os textos em máquinas de escrever numa redação enfumaçada e iam atrás da notícia onde ele estivesse.

O livro “Cidade de Santos – um jornal santista até no nome” foi viabilizada graças ao Promicult, programa de incentivo à cultura da Prefeitura de Santos. A obra tem o patrocínio da DP World.

Livro continua na internet

A obra narra o processo de criação do jornal, recorda coberturas marcantes e destaca episódios tão divertidos e inusitados que são descritos em formato de História em Quadrinhos. O livro também traz depoimentos dos jornalistas que atuaram no Cidade de Santos e oferece um brinde ao leitor: ao final de cada página com o relato, há um QR-Code que direciona ao vídeo com o depoimento do jornalista.

Realismo fantástico

“Há episódios hilários que parecem ficção. Os entrevistados se divertiram ao recordá-los e, certamente, o leitor também vai rir bastante”, destaca.

O clima descontraído da Redação não significava falta de seriedade dos profissionais na abordagem de temas delicados. Entre as coberturas marcantes do Cidade, destacam-se o incêndio na Vila Socó, denúncias de esquemas de corrupção e até uma antológica entrevista com um político muito conhecido, na qual o repórter pergunta a ele o que achava de seu nome ter virado sinônimo de “o que há de pior na política”.

No bolso do trabalhador

O Cidade de Santos era muito lido pela classe trabalhadora, principalmente os portuários. Tornou-se o símbolo do diário a imagem de um estivador com um exemplar dobrado, no bolso de trás da calça.

É justamente esta a imagem da capa, produzida pelo consagrado fotógrafo Araquém Alcântara, que trabalhou no Cidade, mas como repórter de texto.

Escola de jornalistas

O “Cidade” é considerado como uma verdadeira escola de jornalismo, já que muitos profissionais iniciaram a trajetória profissional na Redação situada no prédio localizado na esquina das ruas XV de Novembro e Comércio, no Centro Histórico de Santos. Estudantes e recém-formados conviviam com experientes jornalistas e, juntos, preparavam matérias, literalmente, em defesa dos fracos e oprimidos.