“Que não seja imortal posto que é chama, mas que seja infinito
enquanto dure” – Soneto de Fidelidade, de Vinicius de Moraes
“Se é amor, dura para sempre”, dizem os românticos — se é que ainda existem. Mas o problema é que, nos dias de hoje, o “para sempre” pode ser, de fato, uma eternidade. Haja chama! A psicóloga Maria Celia de Abreu, especialista no envelhecimento e autora de diversos livros, como Velhice, uma nova paisagem, costuma dizer que, antigamente, as pessoas se casavam esperando viver juntas cerca de 30 anos. Hoje, a realidade é bem diferente.
Em 2024, a expectativa de vida no Brasil era de 76,4 anos, segundo dados do IBGE, e a tendência é que esse número continue aumentando. Isso significa que um casamento pode durar muitas décadas. Mas quem está realmente preparado para isso? “Por isso mesmo, é fundamental refletir sobre os valores prioritários de cada um, inclusive sobre o envelhecer”, afirma Maria Celia. Segundo ela, não há uma fórmula mágica para um casamento ser satisfatório e duradouro. “Cada pessoa, cada casal, cada situação exige condições diferentes. O que funciona para um pode não servir para outro. Fórmulas simplesmente não funcionam!”
Ela explica que, para alguns, o casamento tradicional pode representar uma perda de liberdade. Para essas pessoas, a autonomia está no topo da lista de prioridades e viver sem ela é insuportável. Já outros não suportam a solidão. Para eles, a necessidade de compartilhar a vida e ter companhia é mais forte do que o desejo de independência. “E está tudo bem! Nenhuma dessas escolhas está errada”, reforça a psicóloga.
Maria Celia propõe um teste simples, útil tanto para jovens quanto para os mais velhos: “Imagine-se no futuro. Você chega em casa à noite, acende as luzes e o apartamento está vazio. Ninguém aparece, porque só você mora ali. Essa situação gera angústia, solidão ou desespero? Então talvez valha a pena investir suas energias em encontrar um companheiro. Mas se isso lhe traz paz, prazer, alívio e liberdade, talvez seja melhor ficar sozinho ou buscar um relacionamento menos tradicional.”
Se não há receita para o tão sonhado “felizes para sempre”, algumas constatações podem ajudar: compartilhar valores essenciais, cultivar a tolerância, a cumplicidade, a confiança e a admiração mútua são fatores fundamentais.
“Se um não sente gratidão pelo que o outro faz e fez por ele, esse relacionamento ou não vai durar, ou terá uma qualidade muito baixa”, conclui Maria Celia.
Eu acrescentaria outro ingrediente essencial: bom humor. Ele faz toda a diferença na vida de um casal, em qualquer idade, morando juntos ou separados.
Dicas de filmes
Diário de uma Paixão
Assisto e choro toda vez que passa na TV. Numa clínica geriátrica, Duke (James Garner), um dos internos que relativamente está bem, lê para uma interna com um quadro mais grave (Gena Rowlands) a história de Allie Hamilton (Rachel McAdams) e Noah Calhoun (Ryan Gosling), dois jovens enamorados que em 1940 se conheceram num parque de diversões.
Meu Amor
Seis Histórias de Amor Verdadeiro é a série documental da Netflix que mostra, em episódios temáticos, casais de culturas muito diferentes como a dos Estados Unidos, Espanha, Japão, Coreia, Brasil e Índia. O dia a dia deles é recheado de carinho, cuidados e atividades. Como ponto comum entre todos os casais retratados, a importância de cultivar o relacionamento.
Viver Duas Vezes
Sensível e delicado este filme espanhol que relata como Emilio (Oscar Martínez), um ex-professor universitário de matemática diagnosticado com Alzheimer, resolve partir em busca do grande amor de infância e aproveitar seus últimos momentos de memória. Ele conta com a ajuda da neta e da tecnologia para localizar
a mulher por quem se apaixonou antes que a doença avance.
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