
Entre os temas que mais incomodam no envelhecer – e isso vale até para os próprios velhos – amor e sexo estão no topo da lista. Parece que, ao passar dos anos, desejos e sonhos se tornam proibidos. Filhos e até netos, ao ouvirem sobre namoro, reagem com desconfiança, piadinhas sem graça ou comentários desanimadores.
É mais um preconceito entre tantos outros. Mas a verdade é que encontrar um bom relacionamento na maturidade não é nada fácil. O tempo traz um certo refinamento nas escolhas, um medo maior de sofrimento e decepções e uma preguiça considerável de começar tudo outra vez.
Além disso, golpes na internet atingem cada vez mais quem passou dos 60, exigindo cautela redobrada. Aplicativos de encontros podem ser armadilhas se não forem usados com atenção: nunca marcar encontros em casa ou em locais isolados, sempre conversar bastante antes e, acima de tudo, jamais ceder a pedidos de dinheiro – mesmo durante uma grande paixão. O meio digital tem armadilhas e esconde várias faces.
No mundo real, há um descompasso. As mulheres maduras se queixam de que os homens da mesma idade estão cansados e rabugentos, e aqueles mais em forma e joviais só querem mulheres na faixa dos 30, 40 anos. Já os homens reclamam que muitas mulheres mais velhas ainda enfrentam a menopausa e estão irritantes ou já se acostumaram a viver sozinhas. E sempre aparece a desconfiança: os mais jovens estariam interessados apenas em segurança financeira?
Como tudo no envelhecer, encontrar um parceiro dá trabalho, e muito. É mais fácil se apegar às próprias manias, apreciar a liberdade de escolher o que fazer e decidir que sofrer junto talvez não seja a melhor opção.
Mas não quero desanimar ninguém – pelo contrário! Ainda acredito que, em algum lugar, há um velho ou velha interessante por aí, com afinidades e interesses em comum com alguém.
Especialistas dizem que a chave é procurar nos lugares certos: se gosta de livros, frequente livrarias; se ama cinema, vá mais às salas de exibição. Tudo pode acontecer – e conheço histórias que deram certo. Quem pode saber?
Dois filmes me inspiraram a falar sobre esse tema. Ambos mostram, com delicadeza, que mesmo sem um final feliz garantido, vale a pena perseguir os sonhos. Afinal, é melhor viver o inesperado do que nem tentar.
Dicas de filmes
My Favorite Cake (Em cartaz e em breve no streaming)
Após ficar viúva, Mahin (Lili Farhadpour) sente que sua vida perdeu o sentido. Com o fim de um longo casamento e a filha e o neto morando longe, a solidão se torna um peso. Cansada da rotina vazia e de amigas que só falam em doenças, decide buscar companhia. Quando conhece Faramarz (Esmaeel Mehrabi), um motorista de táxi aposentado e solteiro, faz de tudo para se aproximar. A conexão entre eles cresce, trazendo um misto de ternura e encantamento. Esse filme iraniano reflete, com sensibilidade, a sexualidade na maturidade e tem como pano de fundo as rígidas tradições culturais do país.
Nossas Noites (Netflix)
A química entre Robert Redford e Jane Fonda permanece impecável neste filme emocionante. Baseado na obra de Kent Haruf, acompanha Addie Moore, uma viúva aposentada que, cansada de dormir sozinha, decide tomar uma atitude ousada: bate à porta de seu vizinho, Louis Waters, e o convida para dormir em sua casa. E só para dormir mesmo, pelo menos no início, porque sente falta de um corpo ao seu lado na cama. Relutante ele aceita e vai de pijama para a aventura. Aos poucos, a convivência e as conversas transformam suas vidas. Uma história envolvente sobre amor e recomeços.
Eu jamais teria essa coragem. E você?
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