Política

Destino do Escolástica Rosa volta ao centro do debate político

10/02/2025 Marco Santana
Destino do Escolástica Rosa volta ao centro do debate político | Jornal da Orla

Sem atividades desde 2018, o prédio do Escolástica Rosa voltou ao epicentro do debate político esta semana, com as propostas de transformar o lugar em uma escola militar ou colégio para filhos de policiais militares.

Lideranças de esquerda e do sindicato dos professores criticam as ideias da deputada federal Rosana Valle e do deputado estadual Matheus Coimbra (ambos do PL).
Na Câmara, o vereador Francisco Nogueira (PT) apresentou uma moção de repúdio. Já a Frente Feminista da Baixada Santista convocou uma manifestação em frente ao imóvel no sábado (15), às 13h30.

Entenda o imbróglio

O local abrigava cursos de uma Escola Técnica (Etec), do Governo do Estado, mas foi interditado devido a problemas estruturais no edifício, apontados pelo Ministério Público do Trabalho (MPT).

O imóvel de 17 mil metros quadrados pertence à Santa Casa de Santos, que o recebeu como doação de João Octávio, um grande empreendedor de Santos no século 19, que era filho bastardo de um empresário com uma escrava – Escolástica Rosa.

A Santa Casa argumenta que não tem fôlego financeiro para realizar as obras necessárias, pois uma das dificuldades é preservar as características originais do projeto do arquiteto Ramos de Azevedo. O imóvel é tombado por entidades de preservação do patrimônio: pelo municipal, o Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Santos (Condepasa), em 1992; e o estadual, o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat), em 2013.

Em 2005, surgiu a ideia de transformar o Escolástica em um hotel-escola, semelhante ao Senac de Campos do Jordão, mas ela não foi adiante.

Em 2021, a solução parecia ter sido encontrada, com a assinatura de um contrato da Santa Casa com o Núcleo de Estudos em Chondrichthyes (Nupec), para uma locação durante 15 anos. A entidade apresentou um plano de revitalização orçado em R$ 50 milhões. O presidente do Nupe, Manoel Gonzalez, anunciou que os recursos seriam captados por meio de leis de incentivo cultural, como a Lei Rouanet, e emendas parlamentares.

Houve quem estranhasse uma entidade cujo foco principal é o estudo de tubarões, raias e quimeras assumir o desafio, mas se ela conseguisse viabilizar o restauro do prédio…
Infelizmente, o Nupec não conseguiu captar os recursos para a recuperação e, no dia 31 de janeiro, o contrato de locação com a Santa Casa foi rescindido amigavelmente.

A bola quadrada voltou para a instituição centenária cuja missão é a oferta de serviços de saúde.

Foi a deixa para os parlamentares de direita apresentarem suas ideias para o local e o debate sobre a destinação do local voltou ao ringue político.

A solução parece longe do horizonte, mas ela deve passar obrigatoriamente pelo respeito a duas determinações: as regras das entidades de preservação do patrimônio e ao testamento de João Octávio (o lugar deve, necessariamente, ser uma escola para crianças pobres). Agora é aguardar as cenas dos próprios episódios desta temporada…