Economia

Colecionismo, um mercado sem limites para afetos e preço

05/05/2025 Mariana Nerome
Fernando Yokota

Não há limites para objetos que podem ser colecionados. Revistas em quadrinho, brinquedos, DVDs, videogames, relógios, selos, livros, moedas, tampinhas de refrigerante, embalagens de cigarro. Se o valor afetivo não tem limites, o valor em dinheiro varia como qualquer mercado e está sujeito a altas e baixas, conforme as tendências do momento. Muitos colecionadores fizeram de suas paixões, fontes de renda e negócios. E não é só o caso dos clássicos antiquários que comercializam obras de arte, joias e até mobiliário clássico: há lojas para inúmeros gostos.

Uma das mais famosas de Santos é o “Caipira Voador”, do comerciante Eder Silva Ramos que era bancário e, para amenizar o estresse da profissão, começou a “voar aeromodelos” e “andar carrinhos” de controle remoto. “Quando dei por mim, tinha 11 aviões e 12 carros. Aí, comecei a vender, trocar e acabou virando negócio”, relembrou.

Em 2017, a fábrica “Brinquedos Estrela” relançou os bonecos Falcon, causando uma enorme alegria entre os aficionados. Muitos “cinquentões” que – quando crianças não puderam comprar ou ganhar seus bonecos – aproveitaram o relançamento para matar a vontade de ter um brinquedo caro, nas décadas dos 1970 e 80. Por outro lado, os comerciantes desses bonecos originais viram os preços caírem. “Eles são iguais, praticamente a mesma coisa, o que na realidade conta é o saudosismo. Por exemplo, cheguei a venderi um boneco do Falcon de ‘olhos de águia’ (que mexia os olhos) a R$ 600. Hoje, porque foi relançado, venderia por R$ 200, R$ 250 no máximo. Caiu mais da metade”, afirma Eder.

“Eu vendo objetos antigos e não comercializo brinquedos atuais, o meu foco são peças raras e fora de catálogo. Tenho tudo de modelismo, aviões, helicópteros, barcos, trens. Tenho também miniaturas em geral, desde personagens até bicicletas, trens, carrinhos e algumas antiguidades, como louças, celulares ou máquinas fotográficas”, diz.

SEBOS

Os livros, geralmente, fascinam muitas pessoas, assim como discos de vinil, CDs e DVDs. Um dos maiores sebos da Baixada, o Sebo Café Praia Grande, onde se acha tudo isso, já tem 25 anos. Para a Simone Burigo, responsável pela loja, a paixão move o negócio. “Começamos numa pequena garagem, em casa, na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul e, depois, viemos para cá. As pessoas começaram a pedir emprestado nosso acervo, daí a gente foi comprando, foi trocando, foi ampliando”, comenta Simone.

Ela ainda relata sobre experiências curiosas que viveu durante essas duas décadas e meia como comerciante. “Tivemos uma bíblia de 1710, que era de uma família alemã. E essa bíblia tinha sido escondida por muito tempo, enterrada numa fazenda. Nos anos quarenta, por causa da Segunda Guerra, não era permitido nada em idioma alemão no Brasil. Outro livro que me chamou a atenção e me arrependi de vender foi uma obra escrita sem a letra ‘A’. Você poderia ler o livro da capa até o final, não tinha uma letra A”.

MOEDAS

Aos 13 anos, Mariana Campos ganhou do avô um “dólar de prata” e ficou fascinada. Algum tempo depois, a avó a presenteava com fascículos de banca de jornal, que traziam moedas e cédulas de vários países. Desde então, a atividade de colecionar moedas faz parte do cotidiano de Mariana, que atualmente tem 44 anos. O que era uma paixão, tornou-se profissão. Hoje, ela trabalha exclusivamente com compra e venda de moedas.

“Fui convidada a participar, primeiro, como assessora de comunicação da Sociedade de Numismática Brasileira, depois fui convidada a fazer parte da diretoria, como diretora comercial. Em fevereiro deste ano, assumi como diretora de comunicação da Sociedade Numismática Brasileira, com mandato de dois anos”, conta Mariana.

Para ela, o maior desafio está em selecionar o que permanecerá no acervo e o que irá para o comércio, “passam pelas nossas mãos peças que são bastante raras e caras. E a gente não pode ficar com todas. Se não for assim, o trabalho não rende, literalmente”, brinca.

Mariana ainda conta que o contato com moedas raras e valiosas vai despertando um crescente interesse por exemplares emblemáticos e História. Um dos mais bonitos e raros que ela conheceu foi o “dobrão de ouro brasileiro”, cunhado entre 1724 e 1727. “Com mais de 50 gramas de ouro e prestígio internacional, a circulação de uma peça como essa costuma ser restrita, mesmo entre colecionadores experientes”, destaca.