
A orla da praia de Santos, entre o Canal 6 e a Fonte do Sapo, no bairro Aparecida, amanheceu tingida de azul na manhã do último domingo (6). Com o tema “Informação gera empatia, empatia gera respeito”, a tradicional Caminhada de Conscientização do Autismo, promovida pelo Grupo Inclusão para Todos com apoio da Prefeitura, integrou a programação do Abril Azul, mês dedicado à visibilidade e ao respeito às pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Assumindo interinamente pela primeira vez o comando da cidade, a vice-prefeita e secretária Municipal de Educação, Audrey Kleys, participou do ato e destacou a relevância de iniciativas como essa no calendário oficial. “A caminhada é um marco simbólico e prático do nosso compromisso com a inclusão. É um chamado à sociedade para que todos abracem esse movimento, que começa com o conhecimento e se concretiza em políticas públicas efetivas, construídas com as famílias e para as famílias”, afirma.
Ela ressaltou ainda o papel fundamental da colaboração com o grupo organizador. “Essa parceria é essencial porque nasce da vivência das próprias famílias atípicas. Elas nos ajudam a construir políticas públicas mais sensíveis, técnicas e eficazes”.
Para o presidente do Grupo Inclusão para Todos, Francisco José Moreira da Silva Junior, o evento representa um momento de mobilização, afeto e afirmação de direitos. “É um dia diferente, de redução de preconceitos e, principalmente, um dia de amor. Estamos todos reunidos com o mesmo objetivo: mostrar que a pessoa com deficiência deve ter oportunidade de ocupar todos os espaços da sociedade”, pontua.
Ele também celebrou a parceria com o Grêmio Recreativo Cultural Escola de Samba X-9 no carnaval deste ano. “A ala da inclusão no desfile da X-9 foi um divisor de águas. Enfrentamos desafios, respeitamos as individualidades e mostramos que é possível. Com apoio, amor e muito trabalho, levamos inclusão para um dos maiores palcos da nossa cultura. Isso é dar visibilidade, juntos conseguimos fazer a diferença”.
A responsável pela Coordenadoria de Defesa de Políticas para Pessoas com Deficiência (Codep), Cristiane Zamari, lembrou que o compromisso com a inclusão se estende durante todo o ano. “A caminhada é um símbolo dessa união entre Poder Público e sociedade civil, mas nosso trabalho acontece de forma transversal em diversas áreas como educação, saúde, cultura, esporte e lazer. Em breve teremos o segundo Seminário de Neurodiversidade com foco no mercado de trabalho, e vamos entregar a certificação de empresa acessível à Universidade Católica de Santos (Unisantos). São ações concretas que refletem nosso compromisso com a inclusão plena”.
O impacto da caminhada se reflete também nas histórias pessoais. Para Rosângela Duarte, mãe da Mariana, o evento tem um significado especial. “É o segundo ano que participamos, e representa muito para nossa família. Foi a partir do diagnóstico da minha filha que eu também descobri que estou dentro do espectro. Estar aqui, com outras famílias, trocando experiências, é um momento de acolhimento e pertencimento que transforma a nossa jornada”.
Alexandra Gomes do Nascimento, mãe do Pedro, de 9 anos, também compartilhou sua experiência. “O diagnóstico veio quando ele tinha 5 anos, já na fase escolar. Foi um baque, porque eu não fazia ideia. Mas hoje, participar da caminhada é muito importante — pela conscientização, pelo respeito e pela inclusão. A nossa vida não é fácil, mas seguimos firmes, porque isso aqui representa esperança e visibilidade para os nossos filhos”.
Com 35 anos de atuação como diretora da Associação Autistas Santos, Joana de Carvalho Pinho, enfatizou o impacto das mobilizações públicas. “A inclusão deve ser trabalhada o ano inteiro, mas ter um mês dedicado ao tema movimenta a mídia e incentiva as pessoas a buscarem informação. É uma forma poderosa de conscientizar e divulgar o autismo”.
Já Carla Regina Pereira Dias, professora da Clínica-Escola do Autista e participante da caminhada com o ex-aluno Ricardo, hoje, com 18 anos, completou. “Fico muito feliz em ver as pessoas começando a enxergar o autismo de outra forma. Ainda há quem ache que eles são incapazes, mas com apoio e trabalho, se desenvolvem e têm uma vida como qualquer outra. A caminhada mostra exatamente isso: que eles são capazes de tudo”, finaliza.
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