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Beleza da Criação x Feiúra da desídia dos homens

20/02/2023
Beleza da Criação x Feiúra da desídia dos homens | Jornal da Orla

Não deixemos que a beleza de cada amanhecer nos tire a indignação do que houve no litoral de São Paulo

Outra bonita fotografia de autoria de amigo querido que tomo a liberdade de compartilhar.

A Beleza não pode ser retida. Há de ser sempre comunicada.

Amanhecer em Santos, hoje. Enviou-me com a seguinte frase: “Ainda que as vezes se escondam, o sol e o amor sempre reaparecerão.”.

Concordo e aplaudo. Lembrei-me de antigo ditado japonês: “Por mais longo e intenso que seja o inverno, nunca deixará de ceder espaço à primavera”.

Isso mesmo. O eterno balanço entre desolações e consolações, de que tanto falou santo Inácio de Loyola.

Mas…

… não deixemos que a beleza de cada amanhecer e as coisas boas de nossas rotinas nos tire a indignação do que houve recentemente no litoral de São Paulo.

Peço perdão pelo uso de lugar-comum, mas ando farto de tragédias anunciadas. Hoje até elevei o tom da fala ao microfone do Jornal da Manhã da Rádio Jovem Pan (Santos e região).

A quantidade maior de chuva não muda o cenário geral da previsivilidade. Chuvas intensas no verão são comuns, causam danos, matam pessoas e quase nada é feito para evitar ou ao menos amenizar tudo isso.

Se existe um campo em que o gestor público é ingloriamente ineficiente é exatamente esse. Que cada um de nós exija dos administradores e legisladores os devidos e urgentes cuidados. Não deixemos amornar os ânimos.

A beleza de cada amanhecer deve renovar nossas esperanças, sempre, sem em nada ofuscar a sede por justiça.

Quem cobra e exige o que é certo, guia-se pelo amor e se insere na pintura cósmica da Criação. Insere-se e a emoldura. No quadro da Beleza Original há tintas e pinceladas de busca do bem comum.

E o bem comum não se conquista por suspiros lânguidos, mas por palavras verazes que saem dos lábios dos bravos de espírito.

Isso me fez lembrar de texto que escrevi em outubro de 2020 e que agora repito:

Abro aspas:

Sobre chuvas e alagamentos, danos e ineficiência dos gestores públicos.

Começam a pipocar na imprensa e nas redes sociais imagens de alagamentos, transtornos e danos por causa das chuvas.

E a temporada de verão sequer começou.

São Paulo, Santos e região já sentiram a carga dramática da situação.

 

E a pandemia nos fez esquecer que no início deste ano, muitas pessoas morreram em Guarujá causa de um desabamento havido depois de intensa chuva.

Culpa da natureza? Não, de modo algum. Culpa dos administradores públicos.

As notícias veiculadas na mídia e as fotos enviadas por amigos dão conta disso.

Todo ano é a mesma coisa e não é a primeira vez que trato do assunto: danos e prejuízos provocados pelas conhecidas “chuvas de verão”.

Mas, afirmo convicto: a chuva não é a verdadeira causadora de danos e prejuízos. Não, ela não é a causa primacial. A chuva é concausa, pois a causa verdadeira é a falta de planejamento urbano, a inércia do administrador público, a incúria operacional e a desídia administrativa dos governos do Estado e do Município.

Todo o mundo sabe que durante o verão, de dezembro a março, chove muito e ano após ano a mesma cena se repete: ruas alagadas, casas tomadas pelas águas, bens destruídos, automóveis avariados, trânsito colapsado, deslizamentos de encostas de morros, ruptura do fornecimento de energia elétrica, transtornos de toda ordem. Algo sabido e ressabido, mas nada é feito.

Culpar as forças da natureza e alegar fortuidade para se eximirem de responsabilidade é o que prefeito e governador fazem e isso é um insulto à inteligência.

E em tempos de escassez de água, a falta de um sistema de aproveitamento e captação das chuvas é algo absurdo e pouco inteligente. Essa abundância de água deveria ser utilizada para coisas boas.

Com boa-vontade, inteligência, pragmatismo, dois problemas seriam resolvidos.

Entendo que o município e o Estado são, sim, responsáveis pelos danos e prejuízos derivados das chuvas de verão.

Entendimento que defendo como cidadão e como advogado do mercado segurador, a vítima final desse descaso administrativo dos governantes.

Além da responsabilidade civil e do dever de reparar os danos das vítimas, penso que prefeito e governador incidem na grave falta de eficiência, um dos princípios da Administração Pública, conforme artigo 37 da Constituição Federal, sendo o caso de se cogitar suas permanências nos cargos.

Estou absolutamente seguro que os administradores públicos têm que responder segundo a regra do princípio da reparação integral, art. 944 do Código Civil, além de tudo mais acima exposto.

E nem se diga que as populações também são “culpadas” porque desmazeladas no trato com o lixo, pois a culpa destas é reflexo da culpa dos administradores, em uma espécie de relação doentia e de retroalimentação de erros.

O dia em que todo o mundo demandar em Juízo contra administradores ruins e os juízes os condenarem, a situação melhorará, acredito em boa-fé.

Entra ano, sai ano, e nada é feito para minimizar o grave problema.

Pessoas morrem, adoecem ou perdem tudo. O mercado segurador absorve parte enorme dos prejuízos e não consegue os ressarcimentos (consequência? Seguros mais caros). A Economia sangra. A qualidade de vida desmorona.

E os políticos? Preocupados com a próxima eleição, só.

Dizia isso ontem. Direi amanhã, infelizmente.

Fecho aspas

Infelizmente, o que escrevi antes continua muito atual.